Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 05, 2008

Clóvis Rossi - "Fast-food" político (ou jornalístico)




Folha de S. Paulo
5/9/2008

Sarah Palin, a candidata a vice na chapa do republicano John McCain, parece estar fazendo percurso inverso ao de Barack Obama, o candidato democrata. Obama saiu de semidesconhecido no início do ano para semideus ao vencer as primeiras primárias, para voltar à Terra agora.
Palin também era desconhecida, mas, em vez do endeusamento, sofreu a satanização por mil problemas que o leitor certamente terá acompanhado no belo trabalho do pessoal da Folha que está nos Estados Unidos. Bastou um discurso, no entanto, para passar de eventual lastro a um ativo para McCain.
"Eletrizou" a convenção republicana, diz o "Washington Post". Toda a mídia que consegui ler ontem vai mais ou menos por aí.
Posso estar enganado, mas temo que a cultura "fast-food" que ganhou o mundo esteja contaminando perigosamente o jornalismo. Ou então é o público em geral que muda de humor de um momento para outro, sem que fatos marcantes estejam na origem da mudança, ao contrário do que acontecia em tempos menos céleres, de informações menos instantâneas.
Não é fenômeno restrito aos EUA. Nicolas Sarkozy elegeu-se presidente da França há um ano e meio, tratado como um misto de Charles de Gaulle com Napoleão Bonaparte, dois dos símbolos da "grandeur" da França eterna.
Em meses, seu prestígio já estava pouco acima do rés-do-chão, apesar de sua hiperatividade e de nenhum crime no período.
Idem para Gordon Brown, premiê britânico, transformado de solução em problema em muito menos tempo ainda.
De duas, uma: ou os fatos são mesmo velozes demais para que os políticos os processem de forma a adaptar-se a humores rapidamente mutantes, ou nós, jornalistas, estamos correndo demais para emitir juízos de insustentável leveza no tempo. Você decide.

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