Mas, de todos os indicadores, o que mais indica a perspectiva de crescimento sustentável é a taxa de investimento, de 18,7 % no trimestre e de 15,5% em 12 meses. Alguns afirmam que ainda é pouco, é preciso mais para uma economia se expandir a taxa de 6%. Certo, mas tudo indica que o setor privado deve continuar investindo nos próximos meses. É o que revelam os financiamentos do BNDES e a busca de capitais externos. Mais ainda, é altamente significativo que isso ocorra aqui em um cenário externo desfavorável. Confirma, também, a crescente confiança dos investidores nacionais e estrangeiros no crescimento da economia nacional.
VAI DURAR?
Pode ser que sim .No momento, há elementos para isso. A economia brasileira não está mais crescendo com o mundo, mas apesar do mundo e está repetindo o mesmo modelo dos seus parceiros do Bric, formado por Brasil, Rússia, Índia e China - um grupo de países que competem ferrenhamente entre si e têm em comum apenas o fato de estarem crescendo muito ao mesmo tempo enquanto os outros param e recuam.
O MERCADO INTERNO QUE SALVA
Os quatro países têm apenas em comum a vigorosa expansão do mercado interno, base do crescimento atual, na China, de 10%, na Rússia, 8,5%, na Índia, 8,5%, e agora no Brasil, 6,1%. Também tem sido esse o modelo seguido pelo Brasil, onde o consumo das famílias aumentou 6,7% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Ele vem se expandindo há 19 meses e já representa 61% do PIB, constituindo-se hoje numa base sólida, mesmo que ameaçada pela inflação.
Aqui, um risco. Essa expansão do mercado interno deve-se em parte ao aumento de 8,1% da massa salarial, sim, mas essencialmente à expansão do crédito, nada menos que 32,9%, e isso apesar da alta dos juros - o que indica um resultado, no mínimo, delicado.
VAI DAR PARA SUSTENTAR?
Nesse ritmo, não. Vai haver grande dificuldade em mantê-lo sem mais pressão inflacionária, provocada pelo aumento da demanda. E essa continua sendo alimentada não só por renda e crédito fácil, mas pelos gastos do governo. Governo, Congresso e Judiciário estão longe de acreditar na necessidade de equilíbrio fiscal e continuam injetando dinheiro a rodo no mercado via generosos aumentos salariais, que somarão R$ 200 bilhões em quatro anos.
RISCOS: INFLAÇÃO E CÂMBIO
Outra incerteza é o papel da taxa de câmbio na inflação. Nelson Barbosa, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, afirmou que esse é um ponto crucial. "Ela é que vai indicar o destino da inflação", declarou. Se o dólar continuar se valorizando (estava a R$ 1,781), será mais difícil manter o controle sobre a inflação. É verdade que a redução dos preços das commodities, principalmente agrícolas, pode contrabalançar, em parte, a pressão provocada pelo câmbio. Mas ninguém acredita muito que o recuo dos preços dos alimentos e do petróleo possam equilibrar os efeitos do dólar valorizado.
O QUE SE PODE ESPERAR
A previsão do economista Nelson Barbosa, da Fazenda, é razoável e equilibrada. Ele não acredita em uma retração brusca da economia quando os efeitos da elevação dos juros, iniciada em abril, começarem a aparecer, nos próximos meses. Mas, ao mesmo tempo, não vê um crescimento de 6% nos dois próximos trimestres. Deve haver uma acomodação gradual para 4,5% ou 5%, disse. No cenário atual, é isso que pode fazer a economia crescer num clima de estabilidade. Isto é, de forma sustentável.
SEM CRISE LÁ FORA
No mercado financeiro internacional, a semana se iniciou com previsões crise, mas nada aconteceu. Após a intervenção do Tesouro americano nas gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, cuja quebra ameaçava o sistema financeiro, a bolsa fechou equilibrada; o índice Down Jones até valorizou 1,8% e os demais ficaram em torno de zero. Até mesmo a ameaça de quebra do Lehman Brothers, agora à venda, parecia estar sendo superada.
O governo continua afirmando que não vai socorrer a instituição, como fez com o Bear Stearns e as duas agências hipotecárias. O Lehman deve encontrar uma solução de mercado mesmo, afirmou o secretário do Tesouro, Henry Paulson. E já começavam a aparecer compradores, como o Bank of America e o fundo soberano do governo chinês, que tem recursos ociosos no valor de US$ 200 bilhões. Paulson disse que, no máximo, poderia simplificar as regras da operação. Esperava-se uma solução neste fim de semana, mas mesmo que ela não venha, poucos na City, ontem, acreditavam em uma repercussão maior. Afinal, o caso Lehman não é novo, vem rolando há algum tempo.
Tudo isso confirma que o sistema financeiro internacional vem se mostrando suficientemente forte e preparado para resistir a novas pressões. Está caminhando para iniciar uma fase, até saudável, de ajuste à nova realidade após anos de "exuberância irracional".
EUA: NOVOS SINAIS PREOCUPAM
Nos Estados Unidos, a economia resiste, mas há indicadores que preocupam, porque podem estar refletindo o comportamento da economia mundial. Por isso, exigem atenção também do Brasil.
As exportações estão crescendo menos, 3,3% em julho, e as importações aumentaram 3,9% no mesmo período. Isso poderia até ser atribuído à valorização do dólar, mas parece ter sido causado, mesmo, pela redução da capacidade das outras economias de continuar absorvendo o excedente da produção americana.
São sinais de que os Estados Unidos talvez não possam continuar dependendo muito do mercado externo para crescer, o que o levaria para uma desaceleração mais forte. Ele terá que se voltar para um mercado interno, ainda retraído e à espera de mais estímulos oficiais e de uma redução dos juros, que pode vir antes do que se espera.
A economia americana resiste, cresce ainda, mas depende agora das exportações para um mercado externo que se estreita. A diferença atual entre o Brasil e os Estados Unidos é que, agora, eles dependem mais do do mercado externo para crescer. O Brasil não. Descobriu o potencial adormecido do mercado interno, mesmo que ele venha com o desafio da inflação a enfrentar. Até agora,enfim, estamos acertando.
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