Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, setembro 22, 2008

AINDA O FIM DO CAPITALISMO-Reinaldo Azevedo

Não! Já fazia tempo. A crise americana me faz constatar que eu não lia tanta besteira na imprensa desde, certamente, as privatizações e o câmbio fixo de Gustavo Franco, ambas medidas que os petistas — com o apoio de boa parte da imprensa — diziam ser “neoliberais”. Neoliberalismo com o governo determinando o valor do dólar teria sido, certamente, a grande invenção do século 20 se fosse verdade. Explico: o câmbio, de fato, era fixo, e aquilo não era neoliberalismo. Houve também um outro momento exemplar de boçalidade coletiva: quando veio o Proer, o tal plano de reestruturação dos bancos, que saneou o sistema financeiro brasileiro e lhe deu as bases da solidez que tem agora. Também aquilo era “neoliberalismo” e “mamata pra banqueiro”. O governo FHC não deixou o país ir à bancarrota para Emir Sader tentar o socialismo... Um rime mesmo!


A que me refiro? A essa tolice de dizer que o capitalismo nega as suas próprias regras ao intervir de forma tão contundente para evitar a quebradeira. Um leitor me manda o que segue. Não sei se é um comunista ou alguém que se quer ultraliberal. Como se notará, pode ser uma coisa ou outra, e isso talvez seja um sintoma interessante: “Os impostos que pago não devem ser utilizados para socorrer instituições privadas; eles devem ser destinados às funções do estado, educação, saúde e segurança. Qualquer coisa diferente disso é inaceitável.”

É verdade! George W. Bush deveria deixar a quebradeira correr solta, o caos advir e ir cuidar de saúde, educação e segurança... Com toda a ajuda do governo, estima-se que a crise possa durar bem uns dois ou três anos. Imaginem sem intervenção nenhuma. Num texto publicado ontem de madrugada, lembrei que aceitamos a existência de governos justamente para que possam intervir quando necessário: “É por isso que o estado cobra impostos; é por isso que lhe entregamos boa parte da nossa liberdade individual; é por isso que aceitamos, sem resistência, o pacto social que ele nos impõe; é por isso que acedemos à existência de Três Poderes que regulam a nossa vida muito além do que gostaríamos — só se sentem confortáveis com o mandonismo estatal aqueles que já se renderam à mentalidade da senzala e se apaixonaram pelo chicote “

Reitero: essa bobagem é mais um reflexo do “antibushismo”, que virou quase uma religião. Acusa-se o governo republicano de ter deixado o mercado agir à vontade. Bush? Lamento! Isso vem da era de ouro do adorado e “progressista” Bill Clinton. Passada o período da crise, o que tem de fazer o governo? O óbvio: retirar-se de novo do mercado para que suas regras voltem a funcionar sem interferência. Aí grita o desarvorado: “Até a próxima crise, né, Reinaldo?” Sim, até a próxima crise.

Já me conformei: o mundo avança assim mesmo, de crise em crise. O capitalismo está pra acabar desde meados do século 19. O último texto da seção “Sociedade das idéias mortas e delírio esquerdopata”, de O País dos Petralhas, é este:

TIO REI TRANQÜILIZA O MUNDO:

As crises do capitalismo trazem em si o germe da própria solução, como não disse Marx.

Um sujeito que se diz economista de uma importante universidade de São Paulo — ele manda nome e tudo, coitado!, mas seguirei um princípio do Islã e vou protegê-lo de si mesmo — me esculhamba, lembrando que estudei letras e jornalismo e que, portanto, nada entendo de economia. Ele, que entende, chegou, pelo visto, a vislumbrar a crise final do capitalismo, que, diz, só vai ser salvo porque “vocês, neoliberais, são todos hipócritas e jogam seus princípios no lixo quando a receita não dá certo”.

Adorei este "vocês". Me vi salvando o capitalismo, eu e Bush... Não sei dos outros “neoliberais”. O meu “neoliberalismo” não prevê o “caos se necessário” entre os princípios. Ao contrário. A própria existência de um Fed nos Estados Unidos e de bancos centrais mundo afora supõe a intervenção do governo, presente, ademais, também nos EUA, em vários setores regulados da economia. Não há nenhuma evidência empírica — elas estão todas do outro lado — de que o estado seja capaz de evitar crises.

Quanto à informação que o “economista” trata como acusação, dizer o quê? Todos os meus leitores sabem que não sou economista. A rigor, se sou alguma coisa, sou só um analista de “discursos”, naquele sentido em que a palavra é empregada na lingüística. E, com efeito, espanta-me que a intervenção do governo americano nos mercados para evitar a barafunda tenha sido transformada em matéria de controvérsia. É prova do poder das esquerdas nas redações mundo afora, com a possível exceção, entre os países importants, da China... Vamos lá: digamos que os críticos do “neoliberalismo” tivessem razão (não têm), e as medidas estivessem fora do escopo liberal: e daí? Qual seria, então, as medidas que eles próprios implementariam? As mesmas de Bush?

Viram? Eu sempre disse que ele não era tão mau...

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