O Globo
Há sinais de que as vendas do comércio perderam fôlego nos últimos dois meses. As vendas no Natal vieram abaixo do esperado, as lojas anteciparam promoções em janeiro e a confiança dos consumidores e dos empresários do comércio caiu. Ainda assim, o ano para o varejo pode ser tão bom quanto 2011, com um ritmo mais forte no segundo semestre. A crise de 2008 atingiu em cheio a indústria e ela estagnou, mas o consumo das famílias foi um pilar importante de sustentação do PIB. O gráfico abaixo mostra como o varejo voltou rapidamente a crescer, e a indústria continuou patinando. Por isso, tem chamado atenção os últimos dados do comércio, que têm decepcionado. Ontem, a CNC divulgou queda de 2,3% na confiança dos empresários do setor. O que forçou a queda foi o item expectativas, que recuou 3,3%. A intenção de investir caiu 4,5% e a de contratar funcionários despencou 10,8%. Por trás da queda do otimismo, há alguns fatos. As vendas no Natal não atingiram a meta esperada. Em janeiro, as promoções começaram mais cedo porque os estoques estavam elevados. É bom lembrar que o setor calculou uma meta para crescimento em relação ao ano anterior, que havia sido de forte alta. Portanto, crescer menos do que o projetado não é exatamente um problema. E é consistente com o quadro geral da economia que foi mesmo de desaceleração. Segundo o presidente da CNC, Carlos Thadeu de Freitas, o esfriamento da economia no terceiro e no quarto trimestres também atingiu o varejo. Ele lembra que 2011 foi ano de inflação alta, que chegou a passar de 7%. Isso tirou renda dos consumidores: - A economia andou devagar a partir do terceiro trimestre. O Natal foi mais fraco e a projeção de crescimento de 7,5% não foi atingida. Ficamos em 6,5%, o que é um ótimo resultado. Para este ano, prevemos o mesmo ritmo, com um primeiro semestre mais fraco sendo compensando por um segundo semestre mais forte. A FGV mostrou uma queda forte na confiança dos consumidores em janeiro. O quesito que mais caiu foi a intenção de compras de bens duráveis. O economista Aloisio Campelo, coordenador de pesquisas da FGV, explica que o indicador de duráveis já havia caído nos dois meses anteriores, em faixas de renda mais baixas e nas capitais. Em janeiro, caiu nas faixas de renda mais altas e nas cidades com maior peso: Rio e São Paulo. Ele acha que pode estar diminuindo a demanda por bens duráveis, depois de dois períodos fortes de vendas, entre os anos 2007 e 2008; 2010 e 2011: - Em dezembro, fizemos uma sondagem para entender o que as pessoas fariam com o dinheiro extra. Aumentou o percentual dos que iriam pagar dívidas ou fazer poupança, e caiu a taxa dos que iriam gastar com duráveis. Há uma postura maior de cautela por parte dos consumidores. O presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), Fernando de Castro, também enxerga uma desaceleração ao longo de 2011. Mas acredita que ela foi interrompida pela redução do IPI de linha branca, adotada pelo governo em novembro, e pela antecipação das promoções em janeiro: - Nossos indicadores fechariam o ano em 4% não fosse a redução do IPI. Fechou em 5,5%. A antecipação das promoções deve levar a taxa para 6,5% em janeiro. Houve uma quebra no processo de desaceleração. A redução do IPI sustentou a venda de itens de linha branca e ajudou os resultados das grandes redes. O presidente do conselho de administração da Máquina de Vendas, Luiz Carlos Batista, holding que controla as marcas Ricardo Eletro, Insinuante, City Lar e Eletro Shopping, conta que o grupo não notou redução de consumo neste início de ano: - O segmento de eletroeletrônicos teve em janeiro deste ano um crescimento muito superior a janeiro de 2010, na casa de 7%. No Natal, também batemos a nossa meta. O crescimento da classe C tem mantido o consumo forte desses itens, as pessoas estão montando a casa. O presidente da Associação dos Lojistas de Shoppings, Nabil Sahyoun, espera um crescimento entre 5% e 6% do setor este ano, mantendo a tendência de uma alta duas vezes maior que o PIB . Ele explica que alguns setores estão com ritmo mais forte, como calçados, perfumaria e cosméticos e eletroeletrônicos. Em ritmo mais fraco, Sahyoun aponta o vestuário: - O setor têxtil está sofrendo pelo aumento de custos e também pelos gastos dos brasileiros no exterior. O real forte estimula as viagens e gasta-se muito com roupas fora do país. Esse dinheiro deixa de ser gasto aqui. Mas quem realmente está com passo preocupante é a indústria. Veja abaixo o descolamento entre varejo e indústria. A distância tem aumentado, mostrando um crescimento sustentado pelo incentivo ao consumo e não à produção.
Entrevista:O Estado inteligente
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