Próximos aeroportos seriam Galeão, Confins e Salvador; mas ainda falta plano para o "novo modelo"
COMO SE previa pelas conversas de ontem nos corredores da privatização dos aeroportos, o governo, ou pelo menos parte dele, se animou tanto com o resultado do leilão que pretende vender ("conceder") mais aeroportos até 2014.
O plano seria o de adiantar a concessão do Galeão (Rio) e de Confins (perto de Belo Horizonte), já na lista de privatizações, e, novidade, colocar na mira o aeroporto de Salvador, porta de entrada do Nordeste.
O motivo não é, nem deveria ser, apenas pecuniário, embora o rendimento dos leilões tenha sido espantoso. Mesmo as propostas derrotadas vieram muito acima do sonhado pelo governo.
Em tese, ou na teoria, o objetivo da privatização é elevar a eficiência do transporte aéreo. Para tanto, em suma, é preciso haver mais voos por dia, para mais lugares, a preço melhor, com menos atrasos. Para alcançar tais objetivos, é preciso mais lugar nos aeroportos (pistas, terminais), mais aeroportos, mais rotas.
É fácil perceber que não é possível incrementar a eficiência do sistema melhorando apenas um, dois ou três aeroportos.
Parece quase piada, mas note-se que um avião precisa pousar e voltar a decolar dos aeroportos de destino: não pode despejar seus passageiros de paraquedas. Se o aeroporto de destino é ruim e/ou apertado, a coisa toda não anda.
No caso brasileiro, é preciso melhorar os corredores entre São Paulo e Rio e entre São Paulo e Nordeste -apenas para começo de conversa. Para continuar a conversa, é preciso incluir Minas Gerais e Rio Grande do Sul, cuidar do turismo (e carga) em Manaus e em Foz do Iguaçu, por exemplo. É preciso melhorar alguns aeroportos regionais, em especial em São Paulo.
É preciso criar uma rede eficiente. Decerto, o problema não se limita à infraestrutura física. A capacidade de controle de voo precisa aumentar e melhorar, por exemplo.
Existe um programa completo de melhorias? Ainda não. Movido pelo medo de dar vexame na Copa, por falta de aeroportos, o governo mudou faz muito pouco tempo (no ano passado) toda a sua política de expansão do setor, que não previa privatizações. Nessa nova diretriz, o trabalho está apenas começando.
Há gente no governo, porém, mais ressabiada. Tanto no que diz respeito a privatizações em geral quanto a algumas concessões em particular, que não têm funcionado muito bem, caso de algumas ex-estradas federais.
Esses integrantes do governo gostariam de ver como vai funcionar a concessão em Guarulhos, Viracopos e Brasília antes de deslanchar mais concessões e dar com burros n"água.
Essa corrente não se opõe, em tese, a mais concessões. Mas prefere que o processo ande mais devagar. Observa, ainda, que o governo terá mais dinheiro em caixa para reformar aeroportos estatais.
As empresas concessionárias devem pagar, a partir do ano que vem, cerca de R$ 1,5 bilhão, o equivalente a uns três anos (recentes) de investimentos da Infraero, a estatal aeroportuária que será sócia minoritária das novas concessionárias de aeroportos.
Mas há planos para o uso desse dinheiro? O pessoal desconversa. Fica difícil saber, se não há prioridades definidas, agora que o "modelo" mudou; e/ou se o governo não vai guardar no caixa esse dinheiro.