Folha de São Paulo - 11/06/11
Tornou-se um truísmo falar sobre a inapetência de Dilma Rousseff para negociações com os partidos aliados ao Planalto. A presidente demonstra uma particular ojeriza pela micropolítica.
Num encontro recente, alguém mencionou a necessidade de discutir preenchimento de cargos públicos. Dilma cortou na hora, de maneira ríspida. Tudo isso é verdade, embora não seja inédito haver presidentes com essas características.
A diferença está em conseguir superar tal resistência pessoal. Alguns aprendem. Outros, não.
Ao tomar posse, em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva era tudo menos um exímio articulador entre governo e Congresso. Basta ler os jornais da época.
O petista era descrito como inábil para as negociações. Só gostava de se reunir com os amigos do ABC, fazer churrascos de fim de semana e jogar uma pelada. Não dava pelota para partidos dispostos a aderir.
Rebarbou a presença do PMDB num primeiro momento. Aí em 2005 veio o mensalão.
Lula começou então a trabalhar como nunca. Agregou apoios políticos do establishment que tanto execrava. Reelegeu-se em 2006.
Nessa época, operou-se uma transmutação na sua imagem. Passou a ser descrito como gênio da raça quando se tratava de política miúda.
Dilma enfrentou no seu quinto mês de mandato um escândalo de outra natureza, mas também impactante.
Há indicações de que a demissão de Antonio Palocci tenha provocado nela o mesmo choque anafilático que o mensalão desencadeou em Lula.
A presidente tentará replicar agora o modelo usado pelo antecessor após o abalo mensaleiro. Fará incursões mais elaboradas e regulares pelo mundo político.
As escolhas de novos ministros para a Casa Civil e Relações Institucionais são um sinal de que Dilma deseja mandar ela própria. Se vai dar certo, é outra história. O tempo dirá.