O GLOBO - 10/06/11
A presidente Dilma Rousseff sobreviveu relativamente incólume à descoberta dramática de que fizera uma escolha de alto risco ao nomear Antonio Palocci para chefe da Casa Civil.
Incólume, principalmente, porque não deu ao ex-ministro a colher de chá de lhe permitir, pelo menos, fingir que estava saindo por conta própria. É uma gentileza costumeira " mas, no caso, seria obviamente perigosa. Palocci foi posto no olho da rua debaixo dos elogios de praxe aos seus "inestimáveis serviços", sem referência específica a qualquer um deles. Um enterro de terceira classe, que não parece imerecido.
Dilma, depois de alguma hesitação, optou por ignorar até mesmo apelos do expresidente Lula, que oscilou entre defender a permanência do ministro e propor a saída formalmente honrosa de dar a Palocci a colher de chá de ser dele a decisão de ir para casa. A presidente fez bem: não apenas se livrou de um auxiliar com prestígio político abaixo de zero como deu os primeiros sinais claros de que o prestígio de Lula no Palácio do Planalto é menor do que pensava muita gente. A começar pelo próprio ex-presidente.
Agora, sozinho no temporal e sem guarda-chuva, Palocci poderá ter investigada a sua considerável fortuna. O procurador-geral da República arquivou uma tentativa de apuração das acusações de que Palocci enriqueceu praticando o feio crime do tráfico de influência, mas a Procuradoria da República no Distrito Federal está trabalhando no assunto. Interessa-se, por exemplo, pelo que pode se mostrar um manancial precioso de informações sobre como Palocci enricou: são, como informou o site Congresso em Foco, os originais das suas contas telefônicas entre 2007 e 2010.
No Congresso, o governo Dilma não tem nem sombra do prestígio de seu antecessor (pelo menos até o escândalo do mensalão). E a substituta de Palocci, Senadora Gleisi Hoffmann, tem como missão anunciada cuidar dos programas do governo. Ou seja, dedicar-se à gestão e não à política.
Sempre se pode dizer que não há melhor maneira de fazer política do que mostrando eficiência na gerência da administração. O futuro próximo mostrará até que ponto as bancadas do PT e seus aliados no Senado e na Câmara concordam com essa afirmação. Desde, é claro, que o gineceu instalado no Palácio do Planalto mostre que pode tomar conta da casa tão bem ou melhor do que muitos dos machos que já passaram por lá. Inclusive os mais recentes.