FOLHA DE SÃO PAULO
Ministra será "técnica" ou "política"? Da negociação? Da gestão? O que vai gerir, numa Casa Civil esvaziada?
UM DOS TRAÇOS mais evidentes do perfil da nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, é seu nariz arrebitado. Mas os comentaristas do assunto dizem que a ministra tem um "perfil técnico". No comentarismo dos assuntos de governo, "técnico" anda de par com "político" e, parece, os termos são excludentes.
"Técnico não é político." É besteira, claro. "Perfil político", no caso, quer dizer apenas que a pessoa assim indigitada deve se encarregar de quase vergonheiras (ou pior) na relação com o Congresso.
Diziam que Dilma Rousseff tinha "perfil técnico" quando era ministra da Casa Civil no governo Lula.
Embora "técnica", Dilma fez um político como o médico Antonio Palocci, então poderoso ministro da Fazenda, engolir o seu plano de controle de gastos de longo prazo, uma tentativa de zerar o deficit do governo federal. A "técnica" Dilma fez prevalecer sua opinião nas políticas do governo, passando por cima de um ministro de perfil político e tido como poderoso.
A "técnica" Dilma, enfim, chegou ao cargo de presidente da República. Palocci, que assumiu a Casa Civil com um "perfil notadamente político", caiu do cavalo. Mas não porque fosse um mau técnico -nem bom, por falar nisso. Agora, vai voltar a prestar consultoria "técnica" a empresas. Ou consultoria política?
A ministra Gleisi era senadora do PT, apelidada de "trator" até pelos próprios colegas de partido, o que não condiz com o seu perfil delicado (o físico), mas passemos. A carreira de Gleisi é, basicamente, política. A ministra é advogada de formação, mas não vai exercer sua "técnica" num posto de assuntos jurídicos.
No governo Lula, passou uns anos como diretora financeira de Itaipu. Foi secretária de Gestão Pública de um governo lá não muito técnico, para dizer o menos, o de Zeca do PT, em Mato Grosso do Sul. A ministra é "técnica" em quê?
Em "gestão", parece. A Casa Civil, entrando Gleisi e saindo Palocci, voltaria a ser um ministério "voltado à gestão", como nos tempos de Dilma, dizem. Mas Gleisi vai ser gestora do quê? A Casa Civil não havia sido "esvaziada de funções técnicas e de gestão" a fim de deixar Palocci livre e desimpedido para exercer suas artes políticas?
O Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, filho de Dilma, foi adotado pelo Ministério do Planejamento, de Miriam Belchior. O Minha Casa, Minha Vida está no Ministério das Cidades, é tocado na prática pela Caixa Econômica Federal e, parece, é meio supervisionado de longe pelo Planejamento.
Outro programa importante de Dilma, o Brasil Sem Miséria, está no Ministério do Desenvolvimento Social, com o qual a Casa Civil, aliás, nunca mexeu nos anos do petismo. A reforma tributária é tocada pelo Ministério da Fazenda. O que por ora sobra para Gleisi?
Há no Conselho de Governo uma nova Câmara, a de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, a CGDC, criada em maio. O Conselho de Governo, composto por ministros e AGU, presta assessoria imediata à Presidência e é presidido pelo presidente ou pelo ministro da Casa Civil. A CGDC vai sugerir medidas para racionalizar o gasto e a gestão públicos. É presidida pelo empresário Jorge Gerdau, que tem sala próxima à de Dilma. Gleisi vai presidir conselheiros de Dilma? Não parece o seu perfil, arrebitado.