Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, abril 25, 2011

O Caso Aécio:- Ricardo Noblat

" Não tem como esconder, embora ela não possa e nem deva falar, mas
Dilma será a candidata do PT em 2014" (Lula)

Ulysses Guimarães, ao mesmo tempo presidente do PMDB, da Câmara dos
Deputados e da Assembléia Nacional Constituinte nos idos de 80 do
século passado, bebia bem, muito bem.

Assim como Miguel Arraes, Tancredo Neves (menos), Lula e Fernando
Henrique Cardoso (discretamente), escreveu ontem, em O Globo, o
jornalista Jorge Bastos Moreno. Oportuna matéria.

Mas nela não há registro de que um só desses políticos tenha dirigido
após ter bebido além da conta. Ou de que tenha sido detido em alguma
blitz. Ou ainda que tenha se recusado a fazer o teste do bafômetro.

Não havia bafômetros na época, embora motoristas embriagados, muitas
vezes, fossem parar em delegacias.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi pego por uma blitz no bairro do
Leblon, no Rio de Janeiro. Dirigia seu Land Rover. Estava acompanhado
da namorada.

Aplicaram-lhe duas multas. Uma por dirigir com a carteira de
habilitação vencida há um mês. Outra por dirigir alcoolizado. É o que
consta no auto de infração do Detran do Rio.

Não foi a recusa de Aécio em se submeter ao teste do bafômetro que
levou a autoridade policial a autuá-lo por dirigir supostamente sob
efeito de álcool. A recusa apenas fortaleceu a impressão da autoridade
de que estava diante de uma pessoa que havia bebido – e que, no
entanto, conduzia um veículo. O que é proibido por lei.

Ninguém é obrigado a produzir provas que o incriminem. Está na lei.
Aécio, portanto, não era obrigado a soprar no bafômetro. Mas esse tipo
de teste equivale mais ou menos ao exame de DNA para comprovação de
paternidade.

Quando alguém se recusa a fazer o exame de DNA é porque receia que o
resultado seja positivo.

No passado, aqui e em toda parte, a imprensa fingia desconhecer certos
comportamentos censuráveis dos políticos e de poderosos em geral.

Prevalecia o entendimento de que a vida privada de homens públicos
somente a eles interessava – a mais ninguém. Ao público deveriam
interessar os atos derivados do exercício do poder público.

O presidente John Kennedy foi um farrista emérito. Divertia-se com
garotas de programa na piscina da Casa Branca sob a proteção de
agentes do Serviço Secreto.

Se a primeira dama Jacqueline estava para chegar ao local, ele era
avisado a tempo de abandonar a piscina e de dispensar as garotas sem
correr o risco de um flagrante.

Não havia um só jornalista importante em Washington que desconhecesse
os prazeres desfrutados por Kennedy. Mas quem ousava escrever a
respeito?

Esse tipo de cultura mudou por lá – e um pouco em outros lugares.
Quantos aspirantes a candidato à presidência dos Estados Unidos não
desistiram de concorrer porque foram pilhados traindo suas mulheres?

O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi meteu-se em apuros
porque não resiste à tentação de um rabo de saia.

Promoveu festas de arromba em sua mansão. Valeu-se de recursos
públicos para isso. Responde a processo por ter atraído uma marroquina
menor de idade para uma sessão de sexo coletivo.

Aécio é solteiro. Pode namorar quem quiser. E trocar de namorada
quantas vezes quiser. Ninguém tem nada a ver com isso.

Se quiser também pode ficar de porre com frequência – desde que não
seja na hora do expediente como senador. Nem em locais públicos para
não dar o mau exemplo. Beber muito provoca danos à saúde.

Dirigir depois de ter bebido, isso Aécio não pode. Ninguém pode. Fere
a lei. Põe em risco a própria vida e a vida dos outros.

É natural que o bom exemplo seja dado por quem pode mais. E que se
cobre de quem pode mais o bom exemplo.

A aplicação da lei não deveria distinguir entre os que podem muito e
os que nada podem.

Entre nós, infelizmente, os encarregados de aplicar a lei costumam,
sim, distinguir entre o cidadão comum e o que se imagina incomum.

(A categoria dos cidadãos incomuns foi instituída por Lula. E dela faz
parte o senador José Sarney.)

O policial que atirou no assassino de crianças em Realengo foi
elogiado por seus superiores e promovido. Premiou-se o agente público
que cumpriu seu dever.

Por que não fazer o mesmo com o policial que multou Aécio?

FONTE: O GLOBO

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