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segunda-feira, abril 18, 2011

Petróleo deixa clara ingerência na Petrobras : Daniele Camba

Valor Econômico - 18/04/2011

A semana passada foi bastante negativa para o mercado brasileiro e
ainda pior para as ações da Petrobras. As preferenciais (PN, sem
direito a voto) acumularam queda de 5,28% e as ordinárias (ON, com
direito a voto), 5,82%. A queda só não foi maior porque os papéis
subiram bem na sexta-feira: as ON 2,84% e as PN, 2,11%. Para se ter
ideia de como a semana foi ruim para a estatal, até quinta-feira, as
PN caíam 7,25% e as ON, 8,42%, quedas significativas, principalmente
considerando que são os papéis da empresa de maior liquidez da
Bovespa.

Enquanto as ações recuavam, analistas e investidores tentavam
encontrar motivos para um movimento tão negativo e em tão pouco tempo.
Sem nenhum outro acontecimento relevante que o justificasse, boa parte
dos profissionais atribuiu esse desempenho à resistência do governo em
aumentar o preço dos combustíveis, mesmo com todo o processo de
valorização do petróleo no mercado internacional.

Só este ano, o contrato do barril do tipo WTI, negociado em Nova York,
registra uma alta de 19,52%, estando na casa dos US$ 110, enquanto o
contrato do tipo Brent, negociado em Londres, sobe 30%, fechando a
sexta-feira em US$ 123.

Ações da companhia caem 5% numa única semana

Essa resistência do governo provocou, inclusive, um embate público
entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da
Petrobras, Sergio Gabrielli, sendo que este último já deixou clara a
necessidade de um aumento dos combustíveis para que a companhia não
perca com o atual cenário de alta do petróleo.

Mas o mercado pode ter alguma esperança. Pelo menos é o que mostram as
declarações feitas pelo ministro da Fazenda na sexta-feira. Ele disse
que o preço da gasolina não subirá em abril, jogando um balde de água
fria naqueles que acreditavam que um reajuste aconteceria nas próximas
duas semanas. No entanto, Mantega disse ainda que um possível aumento
pode ser discutido nos próximos meses, caso o preço do petróleo
continue em ascensão.

Alguns analistas acreditam que as ações da estatal caíram de forma
exagerada nos últimos dias e que devem se valorizar assim que houver
um reajuste da gasolina. "No curto prazo, é interessante ter alguma
exposição ao papel, já que uma hora o governo terá de repassar o
aumento do petróleo para os combustíveis", diz o gerente de renda
variável da Modal Asset, Eduardo Roche. Ele afirma que não há
expectativa de uma queda acentuada da commodity, ao menos no curto
prazo.

A ingerência do governo sobre a Petrobras não é novidade para ninguém.
No entanto, momentos como o atual servem de lembrete aos mais
esquecidos. "Esse impasse sobre a gasolina alerta para o tamanho da
dificuldade que a companhia tem para seguir o preço da commodity,
diferentemente das demais petrolíferas no mundo", diz Roche.

Não é à toa que as ações da Petrobras costumam subir menos que as suas
concorrentes, quando o petróleo se valoriza, e caem mais nos períodos
de queda do barril, completa ele.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

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