O GLOBO - 11/09/10
Para quem está prestes a ser derrotado no primeiro turno, o candidato tucano à presidência da República está bastante animado. José Serra não apenas diz acreditar que vai para o segundo turno, como age como tal, tamanho o ânimo que encontra para fazer uma campanha que, a olhos leigos, parece já perdida.
Ontem, na sabatina do Globo, depois de um começo claudicante devido ao seu já folclórico mau humor pela manhã – e olha que a sabatina, marcada para as 11 horas, começou meia hora mais tarde pela também já conhecida impontualidade do candidato – ele se mostrou bastante bem-humorado e não perdeu oportunidade para alfinetar sua adversária petista Dilma Rousseff, como, aliás, nunca havia feito antes.
A comparação de Dilma com o ex-prefeito Celso Pitta, candidato inventado por Paulo Maluf e que depois protagonizou um governo desastroso em São Paulo prejudicando o futuro político de seu padrinho, foi o auge de uma série de críticas.
“Só falta o Lula dizer para não votarem mais nele se a Dilma fizer um mau governo, como Maluf fez com o Pitta”, ironizou Serra, que se disse incomodado de não poder debater diretamente com Dilma.
O fato de a candidata oficial “se esconder” atrás do partido ou do próprio Lula, segundo os marqueteiros da campanha do PSDB, estaria já incomodando os eleitores, percepção que está sendo retirada de diversas pesquisas qualitativas, quando um grupo de eleitores faz considerações sobre a campanha eleitoral sem saber que candidato está buscando suas opiniões.
Mesmo que os números não se mexam neste momento, a sensação (ou esperança) dos tucanos é que esse sentimento de decepção com a candidata de Lula se cristalize a ponto de inverter alguns votos, o suficiente para levar a eleição para o segundo turno.
Mas como Serra quer vencer a eleição presidencial se não consegue vencer nem mesmo em São Paulo, estado que governou até o início do ano e onde o candidato do PSDB ao governo, Geraldo Alckmin, aparece como o favorito da disputa?
Os candidatos do PSDB à presidência da República sempre venceram a eleição em São Paulo – Fernando Henrique em 94 e 98, com uma diferença que chegou a 5 milhões de votos – e Geraldo Alckmin por 3,8 milhões, ambos derrotando Lula.
O único que perdeu para Lula foi o próprio Serra, em 2002, e agora vai perdendo para Dilma. A força que Alckmin poderia dar fica neutralizada pela arrancada que Lula está conseguindo promover para o candidato petista ao governo, Aluizio Mercadante, que segundo as pesquisas mais recentes, estaria conseguindo reduzir a vantagem de Alckmin, embora o tucano continue em condições de vencer no primeiro turno.
A situação de Serra é distinta: as pesquisas mostram uma estabilidade de Dilma, e nenhuma reação expressiva nem de Serra nem de Marina Silva.
Serra diz que ao final vencerá em São Paulo, o que pode fazer a diferença na ida para um segundo turno, já que o colégio eleitoral paulista é o maior do país.
O caso dos sigilos fiscais quebrados serialmente envolvendo pessoas do PSDB e parentes de José Serra não teve a capacidade, até agora, de mexer com a decisão dos eleitores, embora a reação imediata de Lula, indo à televisão para desqualificar as denúncias, indique que o seu potencial de estrago é grande.
O que pode ser insuficiente é o tempo que ainda resta de campanha até o dia 3 de outubro para uma reversão de ânimos, embora os marqueteiros de Serra considerem que os 20 dias que restam, com quatro debates entre eles, podem ser bastantes não para virar o jogo, mas para garantir um segundo turno onde os dois candidatos poderão disputar em igualdade de condições no tempo de propaganda eleitoral e nos debates frente a frente.
Tanto Serra quanto Marina apostam suas fichas nessa possibilidade, mas ambos têm que subir tirando votos de Dilma, o que parece não estar ocorrendo, pelo menos pelo momento.
Devido à dificuldade para que a gravidade da quebra dos sigilos fiscais seja compreendida pela média da população, a campanha tucana não está muito esperançosa de que esse tema possa mexer com o eleitorado como o caso dos “aloprados” de 2006, que tinha elementos mais impactantes, como uma montanha de dinheiro vivo e vários nomes ligados diretamente ao Palácio do Planalto.
O que poderia levar o eleitor a mudar de opinião, avaliam os estrategistas da campanha do PSDB, seria a percepção de que a candidata Dilma não tem vôo próprio, e que precisa de Lula para se defender e, mais adiante, para governar.
Por isso Serra começou ontem a afirmar que um eventual governo Dilma seria um fracasso, pela inexperiência da candidata e pela impossibilidade de controlar o PT, partido que é maior que ela e do qual dependerá.
Seria, como disse expressamente ontem Serra, uma maneira de levar Lula à presidência pela terceira vez seguida.
O que, na previsão de Serra, provocaria uma crise institucional no país, pois o presidente da República é muito forte e Dilma acabará não aceitando a ingerência de Lula.
O problema é que, até o momento, tudo indica que o que a ampla maioria do eleitorado quer – ou acha que quer, o que dá no mesmo, - é reeleger Lula pela terceira vez, mesmo se maneira indireta.
Muitos achando mesmo que Lula estará por trás, puxando os cordéis. O que a campanha tucana vê como uma fragilidade da candidatura Dilma, o eleitorado pode estar vendo como uma vantagem.
Mesmo que esteja certo, o candidato tucano estaria desintonizado com os anseios da população. Que pode estar enganada, mas só saberá depois de escolher o "envelope fechado" a pedido de Lula.
Entrevista:O Estado inteligente
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