O ESTADO DE S. PAULO
Para quem já enfrentou, nos idos de 2005, o então poderoso Antonio Palocci, chamando o programa fiscal do ministro da Fazenda de proposta "desqualificada" e "rudimentar", a filiação providencial da candidata Dilma Rousseff (PT) ao lulismo é a prova acabada da hierarquia reinante na campanha governista. Hoje, o comando está ordenado assim, de cima para baixo: Luiz Inácio Lula da Silva, Palocci e Dilma. É por isso que José Dirceu fala em mais petismo em um governo Dilma.
A candidata chegou à Casa Civil em meados de 2005, depois de o presidente ter defenestrado José Dirceu. Economista, ela vestiu a camisa da facção que achava que Palocci havia ido longe demais no fiscalismo. Numa entrevista ao Estado, foi com tudo para cima do ministro da Fazenda e sinalizou que o governo Lula precisava gastar - era um governo acossado pelo mensalão e desafiado a mostrar a que veio.
Foi por conta do currículo esquerdista e desse embate em passado recente que o PT ficou quieto, mesmo não gostando, inicialmente, do "dedaço" de Lula na escolha da candidata à sua sucessão. E foi sintomático que, oficializada a escolha, o partido começasse logo a falar em fazer um programa de governo à esquerda de Lula. Diante da proximidade do Congresso do PT, em fevereiro passado, ressuscitaram as teses socialistas e os pendores terceiro-mundistas de sempre.
Foi nesse embalo que, em outra entrevista, igualmente ao Estado, ninguém menos que o próprio Lula se encarregou de dizer o quanto esse petismo valia para ele, para a articulação da campanha à sucessão e para o futuro governo. "Num Congresso do PT aparecem 20 teses. Tem gosto para todo mundo. É que nem uma feira de produtos ideológicos", disse o presidente, mostrando que o lulismo reina sobre o petismo.
As teses do Congresso terminaram desidratadas e o que está posto em matéria de alianças é de um lulismo contundente. Tão contundente que faz de Lula o peemedebista que o PMDB nunca teve. A reboque de Lula e de Palocci, a candidata Dilma está pronta para aplicar os princípios "rudimentares".
Menos por querer mudanças radicais no poder e mais para exibir poder de influência, pois Dirceu é hoje um homem de negócios, o ex-chefe da Casa Civil faz o que está ao seu alcance para ser mais do que um réu do mensalão. Mas é claro, também, que Dirceu, com a saída de Lula do Planalto, avalia o cenário em que Dilma pode não saber exercitar o lulismo herdado, ficando mais vulnerável ao petismo.
É jornalista da Sucursal de Brasília do "Estado"
Entrevista:O Estado inteligente
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