O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/03/10
O caso Bancoop - a Cooperativa Habitacional dos Bancários, de onde, segundo o Ministério Público, teriam sido desviados recursos para ajudar a financiar as campanhas do PT - é mais um que vem à tona sob o mesmo tema. Digo "mais um" porque não é o primeiro nem, certamente, haverá de ser o último. Este, em teoria, é mais inaceitável porque não extraiu dinheiro do detestável "Estado burguês", mas dos próprios "proletários" - as famílias filiadas à cooperativa que investiram os seus sofridos recursos na vã intenção de virem a possuir a casa própria.
Desviar dinheiro público não é considerado pecado por certos esquerdistas. Na prática, representaria algo como "extrair dinheiro da burguesia para usá-lo contra a própria burguesia". Como assim? É simples. No que diz respeito à origem, entende-se que o dinheiro dos cofres públicos foi acumulado a partir de tributos. Tributos esses cobrados em função do direito dos burgueses de exercerem atividades burguesas. Não importa a atividade, pode ser comércio, indústria ou serviços: em qualquer das hipóteses, trata-se de práticas realizadas sob a égide do capitalismo. Envolvem, na sua maior parte, a extração da mais-valia e, assim, exploração dos pobres proletários. Os recursos públicos, portanto, são espúrios porque tiveram como origem a prática de atividades econômicas ilegítimas. Nada mais correto, então, do que tomá-los de volta, em nome da "causa".
No que diz respeito ao destino, a apropriação privada de recursos públicos se justifica porque esses recursos haverão de ser aplicados em atividades revolucionárias. E o que são atividades revolucionárias? Bem, existe um leque amplo, que vai desde financiar eleições públicas e/ou sindicais a incentivar práticas que visem à "educação e a conscientização do povo" e até mesmo garantir um sustento digno aos correligionários enquanto a revolução não chega.
Não haveria, então, crime moral, como se vê, no desvio de dinheiro público. Os "companheiros" que o fazem têm alma socialista e, desse modo, estão previamente vacinados contra baixos impulsos, como ganância, apego ao luxo e outros próprios do capitalismo.
Um ou outro se aproveita do processo e se torna rico. Mas o que se há de fazer? Não se produzem omeletes sem a quebra de ovos.
O raciocínio dialético, adotado pelas esquerdas, é de extrema valia porque com ele se explica e se justifica tudo. Como na expressão criada pelos tropicalistas, é o avesso do avesso, o que, traduzido para a lógica formal, implica que fique tudo na mesma, porém sob rótulos diferentes.
Isso não é marxismo original ou, pelo menos, não é aquilo que Karl Marx queria exprimir. Mas tanto faz. O importante é que o discurso funciona.
É por meio dele, por exemplo, que os ideólogos do lulismo conseguem explicar a manobra contorcionista que praticam ao defender um programa de direitos humanos duro, intransigente e radical para o Brasil e outro, brando e condescendente, para justificar as violências perpetradas pelos governos de Cuba e do Irã contra os seus opositores políticos.
Nessa linha, ainda outro dia um ministro lulista - titular de uma dessas dezenas de secretarias federais que ninguém sabe ao certo para que servem - se saiu com o seguinte raciocínio: "Nós devemos ter cuidado com essas modalidades de "direitos humanos" com vieses judaico-cristãos, que de nada servem quando aplicados a povos que não têm essa origem."
Em outras palavras, conseguiram relativizar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, discutida e aprovada por assembleia plenária das Nações Unidas. Existem, segundo os "companheiros", direitos humanos rígidos para nosso consumo interno e direitos humanos complacentes para uso no exterior.
Conta-se - se é real ou apenas verossímil, não sei - que um importante líder estudantil de esquerda da década de 60 (mas que dá as cartas no Partido dos Trabalhadores até hoje...), naqueles anos, se teria envolvido, digamos, sentimentalmente com uma colega de escola muito atraente, porém filha de pais abastados. Os amigos teriam ido aplicar nele o famoso enquadramento ideológico: "O que é isso, companheiro?!" E teriam recebido a seguinte justificativa: "Camaradas, vocês conhecem uma maneira mais direta do que esta de "ferrar" a burguesia?''
A explicação teria marcado fundo na alma dos colegas. Ninguém mais, a partir dali, implicou com a singular modalidade de interação dialética criada pelo então belo e insinuante ativista juvenil das esquerdas.
Mas a razão deste artigo não é exatamente essa.
O problema é que, a cada dia que passa, tenho passado noites mais e mais difíceis, atormentado por pesadelos envolvendo dona Dilma. O meu pavor noturno é de ordem cívica. Já imaginaram que horror seria se a distinta madame viesse a galgar o posto de presidenta do Brasil?
É de causar arrepios: o comando da Nação nas mãos de dona Dilma e seus red boys. Tremo só de imaginar.
A sra. Dilma Rousseff, sozinha, é como uma andorinha que não faz verão. O problema está no seu entorno. Todo tipo de gente do contra vai acabar por instalar um governo de cunho populista neste país.
O presidente Lula impediu, até agora, que tal fenômeno ocorresse porque tem consciência de que esses grupos não têm brilho próprio. Sobrevivem de orbitar em torno dele. Mas como seria num eventual (vade retro!) governo dilmista?
Por que ela?!
Não se trata apenas de uma palavra de ordem. É uma prece fervorosa que os brasileiros de bem dirigem ao Divino.
Entrevista:O Estado inteligente
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