O Estado de S. Paulo
Esta Coluna tem apontado para graves limitações na coordenação de macropolíticas numa economia que se globaliza e que, no entanto, esbarra na estreiteza das pressões locais.
Aqui vão alinhavadas algumas das situações em que essa contradição tem aparecido com mais intensidade:
(1) Relação bancos centrais e bancos comerciais - Uma das causas da última crise financeira foram as falhas graves na fiscalização e supervisão dos bancos. Essas falhas se aprofundaram porque as grandes instituições financeiras têm atuação global enquanto os bancos centrais são apenas guardiões locais da moeda. Em 2008, por exemplo, três bancos minúsculos da Islândia destruíram meia centena de bilhões de dólares em patrimônios na Alemanha, na Holanda e na Inglaterra, sem que nenhum dos três bancos centrais, que teoricamente deveriam estar envolvidos nas operações, se desse conta da lambança. Apesar da necessidade cada vez maior de controle internacional das finanças, os Estados Unidos, por sua vez, se opõem liminarmente à criação de uma agência internacional de regulação financeira, aparentemente porque não querem admitir que seus bancos sejam xeretados por estrangeiros.
(2) Regulação bancária - Entre as principais propostas de controle da atividade dos bancos anunciadas pelo presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, está o fatiamento das grandes instituições financeiras americanas. É mais uma proposta que avança na contramão da necessidade de aumento da densidade dos grandes bancos com atuação global.
(3) Liberação comercial e protecionismo - A maioria dos países de alta renda somente poderá sair da crise se contar com um mercado crescente para suas exportações. E, no entanto, aumenta o protecionismo global, determinado, em última análise, por lobbies locais. Fracassaram todas as tentativas feitas até agora de retomar as negociações de liberação comercial no âmbito da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC). De mais a mais, nas atuais regras de votação, qualquer ilhota que faça parte da OMC está em condições de vetar qualquer acordo internacional de comércio.
(4) Fracasso da política ambiental - O desfecho da Conferência de Copenhague mostrou que os interesses puramente locais foram e continuam sendo o principal obstáculo para um amplo acordo mundial contra o avanço do aquecimento global.
(5) O jogo na União Europeia - Os representantes da União Europeia nos fóruns informais de coordenação de políticas, especialmente no G-7 e no G-20, comparecem mais para impor seus próprios interesses nacionais do que para defender o ponto de vista do bloco. As crises nas economias de segundo escalão da Europa, notadamente os Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), revelam as dificuldades de coordenação de políticas até mesmo dentro da União Monetária Europeia.
As três últimas décadas mostraram que a soberania dos Estados nacionais está estreitada pela própria globalização. No entanto, quando se trata de criar instituições que sejam capazes de colocar alguma ordem nesse processo, são os acanhados poderes locais que acabam prevalecendo.
Confira
Mergulho - Os preços das commodities tiveram um início de ano de baixa, como mostra o gráfico. E vai ser difícil uma reação enquanto a situação fiscal dos Piigs europeus (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) não se equacionar.
Entrevista:O Estado inteligente
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