É difícil saber o que é mais atrasado no capitalismo brasileiro. Se é o presidente da República interferir diretamente numa empresa privada com objetivos políticos; se o empresário Eike Batista adular o governo para ver se consegue apoderar-se da Vale; se o atual presidente da empresa, Roger Agnelli, voar para Brasília para pedir apoio por sua permanência no cargo.
A Vale foi privatizada e os números do seu sucesso como empresa privada são incontestáveis.
Isso não significa que sua gestão não tenha pontos controversos.
Mas é indiscutível a profissionalização da Vale, após o comando de Agnelli.
Este é um caso em que todos os personagens se comportam de forma deplorável.
Eike Batista, que tem uma ambição tão grande quanto sua cegueira para a nova economia de baixo carbono, acredita que assediando poderosos políticos terá vantagens econômicas.
Não há nada de novo em Eike Batista. Ele pensa velho.
Ele aposta em mineração, petróleo, siderurgia, carvão, energia com fontes fósseis. Numa conversa com ele, não se notam vestígios da preocupação que mobiliza hoje os empresários modernos, que percebem as transformações indispensáveis na forma de produção.
Não, Eike não é deste mundo.
Tem os pés bem fincados no mundo fóssil.
Certa vez, ele propôs a Aneel produzir energia no Amapá, vender a preço alto para o governo e recomprar a preço baixo. Quando perguntei a ele sobre isso, ao fim de uma entrevista, ele me disse: “Se todos fazem, por que eu não posso fazer?” Repetiu assim a velha máxima que atrasa o Brasil.
Esse tipo de relação promíscua com empresas e Estado é que fez o governador do Rio e o prefeito da cidade pedirem a Eike Batista seu jatinho emprestado para que eles e suas mulheres fossem a Copenhague. Ora, avião não se empresta. Ele tem um custo e seu uso só exibe esse jogo de favores entre certos empresários e certos políticos que sempre minou a vida brasileira.
Evidentemente, Eike emprestou, como também nunca perdeu qualquer oportunidade de se aproximar do presidente Lula.
Seu objetivo atual, ele não faz segredo para ninguém: quer controlar a Vale.
Seria absolutamente justa essa ambição se ele mobilizasse capital suficiente para comprar o controle da companhia, mas ele quer que isso seja feito através da pressão do governo e com a mobilização do capital dos fundos de pensão de estatais. Para conseguir isso, ele promete a presidência da empresa a Sérgio Rosa, da Previ.
O Brasil já errou muito nos fundos de pensão e duas lições ficaram: eles não podem ser braços do governo; nem podem ser massa de manobra de empresários que querem exercer o poder dando aos fundos apenas o direito de pagar a conta. Os fundos pertencem aos seus trabalhadores e têm compromissos de longo prazo com as aposentadorias deles. Seus investimentos têm que ter essa visão e esse cuidado. Não são recursos governamentais.
É um dinheiro constituído pelos funcionários e pela empresa, em nome dos trabalhadores. Os bons administradores devem fugir de manobras políticas, porque os governos passam, seus compromissos atuariais ficam.
A gestão de Roger Agnelli na Vale tem inúmeros avanços.
A melhor delas foi a recente liderança de um movimento para que as empresas explicitem suas emissões de gases de efeito estufa, tenham metas de redução dessa emissão e cobrem do governo metas ambiciosas em Copenhague em relação aos terríveis perigos da mudança climática.
Seu maior erro foi, no atual governo, pensar que se blindava se ficasse amigo do rei.
Essa relação excessivamente próxima de uma empresa privada a um presidente intervencionista como Lula é uma faca de dois gumes.
Agnelli agora está sendo espetado pelo segundo. E o que faz? Em vez de se preocupar em prestar contas de todo esse imbróglio aos seus milhares de acionistas nacionais e estrangeiros, na Bolsa de Nova Iorque ou na Bovespa, aos trabalhadores que usaram seus recursos de FGTS para apostar na companhia, Roger Agnelli pega um avião e voa para Brasília para pedir uma audiência — que lhe foi negada — com o presidente da República. Ou vai ao presidente da Câmara, Michel Temer, do notório PMDB, para explicar não se sabe o quê. Roger Agnelli deve explicações e informações aos acionistas minoritários, tanto sobre suas decisões como administrador, quanto sobre as pressões que vem sofrendo do governo Federal. Se acha que o acerto será feito com conversas de bastidores no Palácio do Planalto, que seu cargo será confirmado por favor presidencial, então ele entrou num jogo que vai derrotar a empresa.
Do tempo da privatização, ficou uma contradição: uma parte do capital da Vale pertence ao BNDES. Mas grande parte das maiores empresas no Brasil já se acostumou a depender do BNDES para empréstimos subsidiados e para entrar com parte do capital. O banco é acionista minoritário, que não participa da gestão de inúmeras empresas brasileiras.
Por que na Vale seria diferente? Se essa conspiração governo Eike-fundos-BNDES atingir seu objetivo, o país terá dado um gigantesco passo para trás.
Seu objetivo atual, ele não faz segredo para ninguém: quer controlar a Vale.
Seria absolutamente justa essa ambição se ele mobilizasse capital suficiente para comprar o controle da companhia, mas ele quer que isso seja feito através da pressão do governo e com a mobilização do capital dos fundos de pensão de estatais. Para conseguir isso, ele promete a presidência da empresa a Sérgio Rosa, da Previ.
O Brasil já errou muito nos fundos de pensão e duas lições ficaram: eles não podem ser braços do governo; nem podem ser massa de manobra de empresários que querem exercer o poder dando aos fundos apenas o direito de pagar a conta. Os fundos pertencem aos seus trabalhadores e têm compromissos de longo prazo com as aposentadorias deles. Seus investimentos têm que ter essa visão e esse cuidado. Não são recursos governamentais.
É um dinheiro constituído pelos funcionários e pela empresa, em nome dos trabalhadores. Os bons administradores devem fugir de manobras políticas, porque os governos passam, seus compromissos atuariais ficam.
A gestão de Roger Agnelli na Vale tem inúmeros avanços.
A melhor delas foi a recente liderança de um movimento para que as empresas explicitem suas emissões de gases de efeito estufa, tenham metas de redução dessa emissão e cobrem do governo metas ambiciosas em Copenhague em relação aos terríveis perigos da mudança climática.
Seu maior erro foi, no atual governo, pensar que se blindava se ficasse amigo do rei.
Essa relação excessivamente próxima de uma empresa privada a um presidente intervencionista como Lula é uma faca de dois gumes.
Agnelli agora está sendo espetado pelo segundo. E o que faz? Em vez de se preocupar em prestar contas de todo esse imbróglio aos seus milhares de acionistas nacionais e estrangeiros, na Bolsa de Nova Iorque ou na Bovespa, aos trabalhadores que usaram seus recursos de FGTS para apostar na companhia, Roger Agnelli pega um avião e voa para Brasília para pedir uma audiência — que lhe foi negada — com o presidente da República. Ou vai ao presidente da Câmara, Michel Temer, do notório PMDB, para explicar não se sabe o quê. Roger Agnelli deve explicações e informações aos acionistas minoritários, tanto sobre suas decisões como administrador, quanto sobre as pressões que vem sofrendo do governo Federal. Se acha que o acerto será feito com conversas de bastidores no Palácio do Planalto, que seu cargo será confirmado por favor presidencial, então ele entrou num jogo que vai derrotar a empresa.
Do tempo da privatização, ficou uma contradição: uma parte do capital da Vale pertence ao BNDES. Mas grande parte das maiores empresas no Brasil já se acostumou a depender do BNDES para empréstimos subsidiados e para entrar com parte do capital. O banco é acionista minoritário, que não participa da gestão de inúmeras empresas brasileiras.
Por que na Vale seria diferente? Se essa conspiração governo Eike-fundos-BNDES atingir seu objetivo, o país terá dado um gigantesco passo para trás.