Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 31, 2009

Crise Os Estados Unidos saem da recessão

Já dá para sorrir?

As evidências dizem que sim. Os Estados Unidos saíram
da recessão e os bancos começaram a quitar os empréstimos,
indicando que a economia já depende menos da ajuda governamental


Luís Guilherme Barrucho

Jonathan Ernst/Reuters

ALÍVIO
Timothy Geithner, secretário do Tesouro americano
e principal articulador da ação anticrise: volta da confiança
e números positivos no PIB


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Em 17 de setembro de 2008, dois dias após a quebra do Lehman Brothers e diante do temor de que todo o sistema financeiro americano entraria em colapso, o gabinete do então secretário do Tesouro Americano, Henry Paulson, em Washington, refletia o cataclismo que se abatera sobre a maior potência mundial. Abarrotados na sala, vinte funcionários aguardavam as diretrizes da ofensiva do governo, quando Paulson gritou: "É o 11 de Setembro econômico!". A frase aludia aos atentados terroristas de 2001 e resumia a aflição não apenas do homem responsável por salvaguardar a economia dos Estados Unidos, mas de todos que se viam às voltas com a maior crise do capitalismo desde a Grande Depressão. Quem lidava diretamente com os bancos à beira da falência era Timothy Geithner, que comandava o escritório de Nova York do Federal Reserve (o banco central americano). A situação era angustiante: instituições financeiras viam esvair-se seus recursos, e Geithner, hoje secretário do Tesouro, tentava desesperadamente convencer os bancos menos vulneráveis a comprar aqueles mais problemáticos. Na Europa, o quadro era semelhante. A saída de emergência foi uma intervenção governamental sem precedentes, com bilhões e bilhões de dólares bancados pelos contribuintes – que, a despeito de controversa, evitou a ruína de Wall Street e uma recessão ainda mais intensa.

Passado pouco mais de um ano daquela semana funesta, o mundo econômico já pulsa menos sofregamente. Dados divulgados na semana passada revelaram que o PIB dos Estados Unidos apresentou uma alta de 3,5% entre os meses de julho e setembro, o primeiro crescimento em cinco trimestres – e o primeiro no governo Obama –, sugerindo que o país tenha deixado sua mais severa recessão do pós-guerra. "A economia se estabilizou. Veem-se evidências de crescimento aqui e no resto do mundo", festejou Geithner, sem deixar de ressalvar que ainda é cedo para dar fim aos programas de estímulo econômico, entre outros motivos porque o desemprego permanece elevado. Ao mesmo tempo, países menos afetados pela turbulência financeira começaram a retirar os estímulos fiscais e monetários que haviam concedido. Na semana passada, a Noruega foi o primeiro país europeu a elevar sua taxa básica de juros, de maneira similar ao que fizera a Austrália. Além disso, bancos europeus anunciaram que receberão aportes significativos de capitais privados nos próximos dias, com vistas a devolver os empréstimos emergenciais concedidos por seus governos no auge do pânico. Boa parte dos bancos americanos também já quitou as linhas emergenciais de crédito oferecidas pelo Tesouro.

A recente movimentação dos bancos para devolver os empréstimos oficiais indica que o planeta finanças consegue caminhar cada dia mais com as próprias pernas. Só no último mês, sete dos maiores bancos da Europa informaram que deverão captar 40 bilhões de dólares. A intenção desses bancos é escapar assim que possível da camisa de força imposta a eles pelos governos. "Para os bancos, estar sob a órbita de influência dos governantes significa submeter-se a regras rígidas, desde a concessão de empréstimos até o pagamento de seus funcionários", afirmou a VEJA John Kay, um dos mais renomados economistas britânicos. É desse crivo que as instituições financeiras correm para se livrar. Para algumas, no entanto, isso levará tempo. O Citigroup e o Bank of America, por exemplo, ainda devem os 90 bilhões de dólares que o governo lhes emprestou. Não há também solução à vista para a seguradora AIG, que foi nacionalizada.

Difícil para Obama e sua equipe é explicar aos contribuintes e eleitores americanos por que os banqueiros merecem ajuda irrestrita, enquanto milhares de pessoas perderam seus empregos na indústria e em outros setores da economia. O ultraje popular foi amplificado porque os bancos voltaram a auferir lucros expressivos e deverão pagar neste ano o maior volume de bônus a seus executivos. Estima-se que os funcionários dos 23 maiores bancos dos Estados Unidos recebam neste ano um bônus médio de 143 400 dólares. Mas, como é possível, se meses atrás algumas dessas instituições pareciam fadadas a sumir do mapa? Diz o professor de economia Jeffrey Miron, da Universidade Harvard: "A resposta é simples: com juros próximos a zero, raras vezes foi tão fácil captar dinheiro e conceder empréstimos".

Em resumo, ainda é cedo para que todos os estímulos sejam suprimidos, mas a economia mundial não é mais um tijolo voador, que permanecia no ar apenas graças ao empuxo governamental. Um indicador disso é que deixaram de ser rotineiras as até pouco tempo atrás incessantes comparações com a Grande Depressão. São motivos para recuperar a confiança e sorrir novamente. Foram exageradas, afinal, as notícias sobre a ruína de Wall Street – ainda que a mãozinha do governo tenha sido providencial.

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