O Estado de S. Paulo - 30/10/2009 |
Os produtos transgênicos nos países avançados estão agora entrando na segunda geração. Deixaram de apresentar apenas ganhos em produtividade e em resistência a condições adversas de clima, de solo e de pragas (primeira geração) e passaram a procurar ganhos em nutrientes. Nesta semana, a Food and Drug Administration (FDA), o organismo que fiscaliza os alimentos e remédios oferecidos no mercado americano, autorizou a multinacional Monsanto a comercializar soja com alta concentração do fator Ômega 3. Bioquimicamente, trata-se do ácido alfa-linolênico (ALA), espécie de colesterol benigno capaz de reduzir o risco de enfarte. Na natureza, é encontrado em peixes nobres de água fria, como o salmão, o atum e o arenque. Os organismos que desenvolvem tecnologia genética no Brasil ficaram pelo menos cinco anos atrasados nas suas pesquisas porque o setor que toma decisões sobre esse assunto no País foi até recentemente dominado por fundamentalistas da alimentação ou do ambientalismo, que em princípio são contra qualquer produto transgênico apenas porque é transgênico, não importando sua qualidade ou o uso que dele se faça. Não lhes passa pela cabeça que produtos geneticamente modificados podem ser mais produtivos e mais saudáveis do que os convencionais; que podem dispensar aplicação de agrotóxicos, contribuir para a menor compactação do solo, melhorar a produtividade agrícola e tanta coisa mais. São contra porque têm um medo irracional de que essas sementes produzam desgraças, degradação ambiental, contaminação da flora e da fauna. Até hoje essa gente exige que qualquer alimento ou ração animal que em sua composição contenha algum componente geneticamente modificado traga em seu rótulo um selo de advertência que deveria servir como uma espécie de marca de Caim para que a humanidade possa evitá-lo. O governador do Paraná, Roberto Requião, que recentemente declarou que não apenas as mulheres, mas também os homens podem contrair câncer de mama "possivelmente em consequência das passeatas gay", é um desses transgenifóbicos declarados, para os quais "se é transgênico, não presta". É dele o projeto, que até agora não foi colocado em prática, de que o Porto de Paranaguá tenha um terminal separado apenas para a exportação desses produtos. Antes que o acima escrito possa provocar mal-entendidos, convém ter em conta que qualquer novidade em produto geneticamente modificado, antes de ser comercializada, deve, sim, ser exaustivamente testada com o objetivo de acusar eventuais efeitos colaterais adversos provenientes do seu consumo. Deve ter mais ou menos o tratamento que se dá a qualquer medicamento avançado. Mas essa é uma abordagem racional do problema. No Brasil, a resistência aos transgênicos não é desse tipo. Ser contra produto transgênico apenas por ser transgênico não é outra coisa senão nova versão do obscurantismo. E no País ainda há muito disso aí. Felizmente, já há mais abertura para os transgênicos. A Embrapa se prepara para comercializar sua primeira soja geneticamente modificada mais resistente a secas, pragas e doenças. Entre as pesquisas de segunda geração, começou a desenvolver feijão e alface com mais vitaminas do que os produtos comuns. Confira Virou, e agora? A recuperação da economia dos Estados Unidos mostra uma perversidade: salto da atividade econômica com aumento do desemprego. Não é bom sinal. É preciso mais tempo para saber o nível de sustentabilidade da recuperação. |
Entrevista:O Estado inteligente
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