O Estado de S. Paulo - 21/10/2009 |
Outros países estão em situação similar, entre eles a Austrália, Canadá, China, Índia e Coreia do Sul. Como os bancos centrais desses países reduziram suas taxas de juros para níveis muito baixos em relação ao padrão histórico de suas economias, já começaram a sinalizar que irão reverter essa queda em breve (a Austrália já começou), para evitar que pressões inflacionárias se materializem já em meados de 2010.
Crescimento mais forte significa maiores oportunidades de investimento e de lucro para as empresas e taxas de juros mais elevadas significam maior rendimento para os investidores em títulos do governo e das empresas. Com a expectativa de baixo crescimento dos países desenvolvidos e de manutenção por parte dos bancos centrais desses países de taxas de juros próximas a zero por um bom tempo, a busca por rentabilidade está fazendo com que os investidores direcionem seus recursos para os ativos daqueles países que estão saindo mais cedo da recessão. Como resultado, as moedas desses países, inclusive o real brasileiro, têm se valorizado fortemente nos últimos meses em relação ao dólar.
Valorização cambial diminui os preços dos produtos importados e dos produtos que competem com os importados. Produtos como alimentos, automóveis, geladeiras, fogões, máquinas e equipamentos, em suma, os produtos industriais e agrícolas têm seus preços pressionados para baixo. Preços menores de bens de consumo geram aumento da renda real das famílias e preços mais baixos de máquinas e equipamentos diminuem o custo e geram aumento do investimento e progresso técnico que, em grande parte, vêm incorporados às novas máquinas e equipamentos.
Entretanto, com a queda desses preços, os lucros das empresas produtoras desses bens e os salários de seus trabalhadores também caem, se não em termos absolutos, pelo menos em relação aos lucros e salários daqueles setores produtores de bens que não podem ser importados, como serviços e construção civil, por exemplo. Ou seja, a valorização melhora a situação relativa dos produtores de não comerciáveis (serviços e construção civil) - a maioria da população - e piora a situação relativa dos produtores de comerciáveis (indústria e agricultura).
A valorização pode levar empresas que investem pouco, e portanto não renovam seu estoque de capital e sua tecnologia, a se tornarem obsoletas e não competitivas. Para estas, a consequência é a falência e para seus empregados, o desemprego. Se o número de empresas com essas características é muito grande, a valorização cambial pode levar a uma redução do potencial de crescimento da economia e a um aumento da taxa de desemprego. Mas note que esse é o resultado de uma estrutura produtiva ineficiente e pouco produtiva.
Fatores externos à empresa como infraestrutura inadequada, mão de obra pouco educada, impostos muito altos, excesso de burocracia, mercado de trabalho pouco flexível, etc., aumentam o custo das empresas e são também importantes determinantes de sua capacidade de competir. Nessas condições, uma valorização cambial poderá levar mesmo empresas eficientes a fechar suas portas por falta de competitividade. Mas isto ocorre em razão de um ambiente externo pouco amigável que gera ineficiência e baixa produtividade.
Ou seja, valorização cambial é um fator positivo para a economia. A solução para evitar que empresas e setores sejam prejudicados é mais investimento em capital físico e incorporação de novas tecnologias por parte das empresas. Além disso, investimento em capital humano (educação), em infraestrutura, carga tributária menor e reformas microeconômicas que tornem o ambiente externo mais amigável. Retomar a agenda de reformas é fundamental para enfrentar a valorização da moeda. Manter a taxa de câmbio artificialmente desvalorizada gera pressão inflacionária e aumento dos juros, reduz o incentivo a ganhos de produtividade e diminui os ganhos de bem-estar para a maior parte da sociedade.