Diretores do BC detonam IOF na surdina, Meirelles "apoia" medida em nota oficial e FMI elogia medida de Mantega |
A CONVERSA sobre a nova bolha dos emergentes está por toda parte: Brasil, Índia, Taiwan, Coreia, Cingapura, EUA. Bolha de Bolsas, de imóveis. Basta ler entrevistas e discursos de autoridades monetárias e acompanhar fofocas especulativas dos mercados locais. Entre as autoridades monetárias, as mais quietas a respeito da bolha são as brasileiras. Para ser preciso, o BC daqui não quer saber ou falar do tema, tem raiva de quem fala e, se falasse, diria barbaridades acerca dos colegas "heterodoxos", na Fazenda.
Deixe-se de lado, por ora, a existência da bolha, assunto sobre o qual os economistas não se entendem, se é que acreditam em tais coisas, embora sejam evidentes e horrendos os estragos dessas "bolhas que não existiam". Acreditando ou não, raramente fazem algo a respeito, seja devido a "empecilhos políticos", a mero e estúpido fundamentalismo mercadista, a autismo teórico ou a apenas interesse material.
De mais interessante, no momento, são os contrastes e confrontos políticos provocados pela taxação dos investimentos estrangeiros em carteira (IOF sobre ações e títulos). A medida foi gestada no Ministério da Fazenda. Até agora se discute se a intenção era segurar o dólar, arrecadar um troco para o cofre vazio do Tesouro ou vacinar o país contra a bolha (ou as três coisas). Qual fosse lá a intenção, a medida é fraca e superficial, ainda que bem-intencionada, por refletir problemas sérios (risco de bolha e real anabolizado). A reação ao IOF embaralhou a politiquinha da política econômica.
Parte da diretoria do BC espargiu venenos sobre o novo IOF. O cada vez mais político presidente do BC, Henrique Meirelles, soltou uma nota oficial para dizer que participara da decisão do IOF. Ainda está difícil dizer se a nota foi apenas política de boa vizinhança, política de salvar a face ou se foi ditada politicamente de cima. Mas a nota desmoralizou o zum-zum-zum venenoso disseminado pela seus próprios diretores no BC. Além do mais, a nota reforçou o clima de fim de festa e a dissonância nas equipes de economistas de Lula, no BC ou na Fazenda. Parte da diretoria do BC não vê a hora de dar o fora, outra ficará e Meirelles está com a cabeça em outra parte. A desarticulação BC-Fazenda só piora, o que reduz a possibilidade de sucesso de políticas, para o câmbio, para a bolha e tudo o mais.
Por sua vez, economistas e publicistas "pró-mercado", que amam falar de "jabuticabas", "boas práticas e experiências internacionais" e "imagem internacional" do país, ficaram na mão. A seu modo provincianos, costumam recorrer à opinião de acadêmico, instituto de pesquisa ou publicação estrangeira a fim de avacalhar adversários "heterodoxos". No caso, tanto faz quem está certo. O ridículo fica por conta do contraste entre a reação estereotipada e mal circunstanciada dos mercadistas contra o IOF e a opinião de suas "referências externas", digamos. O novo IOF teve, por exemplo, apoio de um (mau) editorial do "Financial Times". Na sexta-feira, o historicamente fracassado FMI fazia festa para a medida de Guido Mantega (e de Meirelles, não é?). Até alguns gestores americanos de fundos falaram bem da medida. Sinal de que é hora de o mercadismo mudar o disco e renovar clichês.