Testemunha do início de tudo
A explosão estelar mais antiga já observada pelo homem,
ocorrida apenas 630 milhões de anos após o Big Bang, pode
trazer informações valiosas sobre os primórdios do universo
Renata Moraes
Nasa |
Luzes do colapso Os raios gama emitidos pela GRB 090423: as estrelas ainda eram uma novidade há 13 bilhões de anos |
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Em abril deste ano, o observatório espacial americano Swift captou um feixe de raios gama proveniente de uma explosão no espaço. Sempre que isso acontece, astrônomos do mundo inteiro se empenham em analisar o fenômeno para descobrir sua origem. Afinal, as explosões de raios gama são as mais violentas e luminosas que se observam no cosmo. Na semana passada, cientistas italianos e ingleses apresentaram novas conclusões sobre a luz captada pelo Swift – e elas trazem uma ótima notícia. A radiação provém do colapso de uma estrela ocorrido há 13 bilhões de anos, apenas 630 milhões de anos após o Big Bang, a expansão súbita que originou o universo. Batizada de GRB 090423, a estrela é o objeto celeste mais antigo já observado pelo homem. A estrela mais antiga descoberta até então, observada em setembro do ano passado, explodiu quando o universo tinha 825 milhões de anos. A observação de corpos celestes como a GRB 090423 aumenta as chances de desvendar o que se passava no universo entre sua origem e a formação das primeiras galáxias – já observadas pelo telescópio Hubble – há 12,8 bilhões de anos.
Os astrônomos esperam que as estrelas antigas ajudem a compreender o período entre 300 000 e 900 milhões de anos que os astrônomos chamam de idade das trevas. Nesse intervalo, criou-se no universo um ambiente de intensa interação de partículas que impediam a propagação da luz. Isso dificulta a observação astronômica e explica a lacuna de conhecimento sobre o período. A descoberta de estrelas é importante porque foram elas as responsáveis pela mudança nesse cenário. "Os fótons emitidos por estrelas brilhantes criaram condições para o surgimento de estruturas mais complexas, como as galáxias", disse a VEJA a astrofísica brasileira Duilia de Mello, da Nasa.
A GRB 090423 integra justamente as primeiras gerações de estrelas que puseram fim à idade das trevas. Descobriu-se sua idade por meio da análise do espectro de luz emitido pelos raios gama. Os astrônomos notaram que os raios eram emitidos apenas numa certa faixa de comprimento de onda. Usando dados sobre a velocidade de expansão do universo, chegou-se ao cálculo de 630 milhões de anos a partir do Big Bang. As explosões de estrelas gigantescas, às vezes seguidas da criação de buracos negros, são fontes frequentes de emissões de raios gama no espaço. Esses raios também carregam informações sobre os elementos presentes no universo e suas condições físicas no período em que a estrela existiu. Os astrônomos depositam grandes esperanças nesse campo de estudo para desvendar as condições em que o universo iniciou sua evolução. O telescópio espacial James Webb, que será lançado pela Nasa em 2014, terá entre suas tarefas principais buscar gerações precoces de estrelas.