Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 05, 2009

A vitória das oposições

Um voto que muda o Japão

Eleitorado rejeita o partido que governou por 53 anos
e o sistema que enriqueceu o país mas já não funciona


Thomaz Favaro

Itsuo Inouye/AP

VISIONÁRIOS
Yukio Hatoyama e sua mulher, Miyuki, aquela que visitou Vênus


O Japão é um país de tradições, inclusive na política. Os primeiros-ministros são, em geral, filhos ou netos de primeiros-ministros. Em parte, isso se deve à existência de uma dinastia imbatível nas urnas: o Partido Liberal Democrático (PLD), que nos últimos 53 anos passou apenas dez meses fora do poder. Pelo menos foi assim até agora. Nas eleições da semana passada, o eleitorado deu uma guinada radical. O PLD perdeu mais da metade das cadeiras na Dieta, o Parlamento japonês. No próximo dia 16, o poder vai passar para as mãos de Yukio Hatoyama, do Partido Democrático (PD), que, em termos japoneses, é praticamente um revolucionário. Como manda a tradição, Hatoyama é neto de um primeiro-ministro, mas rompeu com o partido do avô e promete mudanças profundas, embora por enquanto mal explicadas.

O eleitorado não rejeitou apenas um partido, mas todo um sistema. Ao lado das grandes empresas e da burocracia estatal, os políticos do PLD formaram o "triângulo de ferro" que conduziu o país arruinado do pós-guerra ao posto de segunda maior economia do mundo. As grandes corporações eram responsáveis pelo bem-estar de seus funcionários, com seus empregos vitalícios, bônus generosos e aumentos de salário por tempo de serviço. Ao governo cabia ajudar a manter as empresas no negócio. A fórmula de sucesso funcionou até a década de 90, quando a economia estagnou. A tímida recuperação de 2008 foi engolida pela crise global. A deflação, um sintoma de perda de dinâmica econômica, está de volta desde o começo do ano. Hoje, o desemprego no país é de 5,7%, o maior desde 1953, quando a estatística começou a ser elaborada. Só em 2009, mais de 40 000 imigrantes brasileiros deixaram o Japão.

Isso não significa que os japoneses estejam à míngua. O padrão de vida continua alto e igualitário – mas eles perderam a confiança no futuro. O "triângulo de ferro" passou a ser visto como parte do problema, sobretudo devido aos escândalos de corrupção. O resultado das urnas é uma remodelação inédita da política japonesa. O Partido Democrático foi criado em 1998 e reúne socialistas, conservadores e dissidentes do PLD. Metade dos deputados eleitos é de novatos. Até a nova primeira-dama parece destinada a trazer certa graça ao governo. Miyuki Hatoyama é uma celebridade, autora de livros de autoajuda e de culinária macrobiótica – e tem histórias curiosíssimas para contar. Como a de quando foi abduzida por extraterrestres e acabou por visitar o planeta Vênus...

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