Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 05, 2009

Roberto Pompeu de Toledo Politicolíngua, série Sarney

Roberto Pompeu de Toledo

Uma virada, uma doença
e uma solução

"Tomem tento, Américas do Sul, Central e Caribe.
Para certos males insolúveis, endêmicos à região,
acaba de ser aberto o precedente da recolonização"

Raramente se veem reviravoltas de tal magnitude. De campeão do biocombustível, o Brasil tornou-se o maior torcedor mundial pela sobrevivência do petróleo. Para a universalização do uso do álcool como fonte de energia, mobilizamos boa parte de nossas forças, dos produtores de cana-de-açúcar ao Itamaraty, até dois anos atrás. Era o tempo em que reinava a palavra "etanol". O auge desse período foi a visita do então presidente George W. Bush ao Brasil, em março de 2007, ocasião em que o presidente Lula recorreu ao melhor de sua lírica para cantar as maravilhas do álcool combustível, e ouviu respostas simpáticas do americano. Um pouco mais tarde naquele mesmo ano, no entanto, uma outra palavrinha faria seu triunfal ingresso em cena – "pré-sal". Uma fabulosa quantidade de petróleo havia sido descoberta nos mares brasileiros.

Então a mensagem brasileira ficou assim: o.k., mr. Bush, o.k., mr. Obama e todos os poderosos do mundo, o etanol é ótimo, mas vamos com calma; segurem as pontas, deem um tempo, e pelo amor de Deus continuem a consumir petróleo. Não sejamos tão crentes nessa conversa alarmista de poluição e aquecimento global. Além disso, vejam que felicidade: teremos reservas abundantes e de boa qualidade aqui deste lado do planeta, bem longe das complicações do Oriente Médio. O pré-sal brasileiro vai demorar no mínimo dez anos para dar o ar de sua graça nas bombas. Enquanto isso prosseguem os investimentos em carro elétrico, entre outras modalidades de veículo movido a energias alternativas. Para que tanta pressa? Os bons brasileiros esperam que o mundo continue confiando nesse meio seguro, eficiente e mais do que testado de mover os carros que é o petróleo.

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O novo nome do golpe, na América Latina, é "terceiro mandato". O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deu um importante passo para ganhar o seu ao obter do Congresso, na semana passada, aprovação para a realização de um plebiscito em que o povo decidirá se a Constituição deve ser alterada para permitir a re-reeleição. Até tu, Uribe! Até então, a febre do continuísmo estava restrita à banda bolivariana dos dirigentes latino-americanos, liderada pelo venezuelano Hugo Chávez, de quem Uribe é inimigo. A soma de Uribe com os bolivarianos prova que, independentemente da ideologia, os latino-americanos estão unidos no horror ao império da lei acima dos homens e das instituições acima das contingências.

Há uma diferença entre os projetos continuístas de Uribe e de Chávez. Uribe pleiteia uma reforma que permita três eleições seguidas do mesmo candidato a presidente, e não mais que três. Chávez foi além, e conseguiu aprovar a reeleição sem limite. Uribe mostra-se mais modesto? Em princípio, sim, mas a ver se, ao fim do terceiro mandato, ele não desencadeará novo movimento, desta vez para possibilitar um quarto, e se ao fim do quarto não pleiteará o quinto, e depois o sexto, e depois… Chávez, pelo menos, resolveu a questão de uma só tacada. Que vergüenza, Latinoamérica, que vergonzosa vergüenza.

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As ilhas Turks e Caicos formam um pequeno país de cerca de 30 000 habitantes, no Mar do Caribe. Antigos refúgios de piratas e traficantes de escravos, desde o fim do século XVIII constituíram-se em colônia britânica. Nos anos 70 o antigo colonizador lhes concedeu o autogoverno. Por essa mesma época, as ilhas começaram a atrair quantidades crescentes de turistas, seduzidos por suas maiores riquezas – o sol, o mar e as areias. Enfim, um bafo de prosperidade as beneficiava, e com a prosperidade veio o quê? O quê? Ora, o que mais poderia ser? Veio a corrupção – viçosa, abundante, indomável. Uma investigação britânica apurou que vários ministros receberam suborno de empreendedores imobiliários estrangeiros, e concluiu pela existência de "corrupção sistêmica" no país. O primeiro-ministro, segundo a mesma investigação, levava uma vida de "estilo hollywoodiano".

A decisão da Inglaterra, diante de tal estado de coisas, foi iluminada: revogou o autogoverno. Em outras palavras, recolonizou Turks e Caicos. O governador que representava a rainha Elizabeth, até há pouco uma figura decorativa, assumiu de fato o governo. Foi uma inovadora solução que, pensando bem… Por que não? Tomem tento, Américas do Sul, Central e Caribe. Para certos males endêmicos, foi aberto o precedente da recolonização.

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