Mísseis para o Irã?
A suspeita de que um navio levava armas russas para o maior inimigo
de Israel junta Putin e Netanyahu em um misterioso encontro em Moscou
Duda Teixeira
Pekka Laakso/AP |
Em julho, o Arctic Sea, um cargueiro de dono russo e bandeira maltesa, desapareceu no Canal da Mancha. A embarcação de 4 000 toneladas transportava uma carga de madeira finlandesa para ser entregue na Argélia. Logo no início da viagem, havia sido abordada por um grupo de mascarados. Duas semanas depois, a Marinha russa localizou o navio na costa da África e capturou os piratas. Essa é a versão oficial de Moscou. A cada dia fica mais difícil acreditar que tenha sido assim, sobretudo porque o episódio coincide com um período de intensa atividade diplomática entre Moscou e Jerusalém. O presidente Shimon Peres voou para a Rússia para se reunir com o presidente Dmitri Medvedev um dia depois do resgate do Arctic Sea. Na quarta-feira passada, Israel admitiu que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu fez uma visita secreta a Moscou. A explicação é que os israelenses tentavam convencer o Kremlin a não vender armas aos inimigos de Israel.
Na explicação dos russos, o sumiço foi obra de piratas: quatro estonianos, dois letões e dois russos. A versão capenga em vários pontos. O primeiro é que não há piratas na Europa desde o século XVII. O segundo: mesmo que houvesse piratas na região, o interesse deles em um carregamento de toras de madeira seria nulo. A interpretação alternativa, dada por especialistas em comércio marítimo e contrabando, é que o navio levava uma carga muito mais preciosa: mísseis antiaéreos russos para o Irã. O transporte teria sido descoberto pelo serviço secreto israelense. Seus agentes mascarados é que teriam abordado o navio. Essa versão é corroborada pelo almirante Tarmo Kouts, especialista em pirataria da União Europeia e ex-comandante das Forças Armadas da Estônia. Numa entrevista a uma revista americana, ele disse que só "a existência de mísseis a bordo" poderia explicar o comportamento russo.
Não há explicação, por exemplo, para o emprego de uma força desproporcional de submarinos e contratorpedeiros no resgate. Três aviões cargueiros militares foram enviados para levar imediatamente os quinze membros da tripulação e os oito sequestradores para a Rússia. Detalhe: cada aeronave era capaz de carregar 44 toneladas. O governo russo impediu qualquer contato dos marinheiros com familiares ou jornalistas por dez dias. O mistério talvez seja esclarecido quando oArctic Sea chegar à Rússia, em duas semanas, e seus porões forem vistoriados pela Justiça russa - mas é melhor não contar com isso.