FOLHA DE S. PAULO
HÁ DOIS CONSENSOS sobre a crise econômica. 1) O complexo dos derivativos financeiros foi se descolando da economia real. A cada novo andar de derivativos, maior a fragilidade dos lastros, até que os andares de cima começaram a desmoronar.
2) A torre dos derivativos, mesmo gerando riqueza falsa, estimulou a demanda e o forte ciclo econômico dos últimos anos. O Banco de Compensações Internacionais (BIS), no último relatório, mensura em US$ 543 trilhões este mercado no último trimestre de 2008 (quase 15 PIBs dos EUA), caindo para US$ 408 trilhões neste início de 2009.
Essa relação entre o volume de derivativos e a demanda global sinaliza que após a crise o PIB mundial estará em um novo piso, menor que o anterior. E a dinâmica econômica será retomada sem a mesma impulsão da riqueza falsa. Uma nova etapa do capitalismo, dizem os marxistas.
Esta seria a quinta etapa do capital bancário/financeiro. A primeira, nos séculos 16 e 17, foi a dos grandes banqueiros flamengos, florentinos, boêmios..., financiadores das coroas, das guerras e do comércio. A associação destes com o comércio abriu espaços ao mercantilismo.
Nos séculos 18 e 19, o grande capital bancário concentrou-se no financiamento das atividades econômicas (incluindo a indústria) e dos governos. Com a expansão do capitalismo desde fins do século 19, o capital bancário estreita suas relações de associação com o industrial, e não apenas de financiamento, dando origem ao que Hilferding estudou em seu clássico "O Capital Financeiro" (1910).
A quarta etapa é viabilizada pela revolução eletrônica dos 70 e pela especulação em tempo real, no mundo todo, por meio de meros registros. Esse mercado global, virtual, de registros eletrônicos, eliminou as fronteiras e os controles estatais -e de forma radical nos paraísos fiscais, "off-shores". Trata-se de um capitalismo pós-financeiro, onde o capital financeiro vai financiar a si mesmo, junto com os novos andares agregados à torre dos derivativos.
Krugman afirma, em artigo recente, que, "depois de 1980, surgiu um sistema financeiro muito diferente, e a banca à moda antiga foi cada vez mais substituída pela especulação em grande escala. O novo sistema era muito maior que o antigo regime: à véspera da crise atual, finanças e seguros representavam 8% do PIB, mais que o dobro de sua participação nos anos 60".
Entramos numa quinta etapa com menos andares na torre, com uma menor distância entre a economia real e a virtual e com os controles e restrições governamentais ampliados. Que características terá? Virá a superação ou a acomodação? Aguarda-se a presença de novos Hilferdings neste século 21.
HÁ DOIS CONSENSOS sobre a crise econômica. 1) O complexo dos derivativos financeiros foi se descolando da economia real. A cada novo andar de derivativos, maior a fragilidade dos lastros, até que os andares de cima começaram a desmoronar.
2) A torre dos derivativos, mesmo gerando riqueza falsa, estimulou a demanda e o forte ciclo econômico dos últimos anos. O Banco de Compensações Internacionais (BIS), no último relatório, mensura em US$ 543 trilhões este mercado no último trimestre de 2008 (quase 15 PIBs dos EUA), caindo para US$ 408 trilhões neste início de 2009.
Essa relação entre o volume de derivativos e a demanda global sinaliza que após a crise o PIB mundial estará em um novo piso, menor que o anterior. E a dinâmica econômica será retomada sem a mesma impulsão da riqueza falsa. Uma nova etapa do capitalismo, dizem os marxistas.
Esta seria a quinta etapa do capital bancário/financeiro. A primeira, nos séculos 16 e 17, foi a dos grandes banqueiros flamengos, florentinos, boêmios..., financiadores das coroas, das guerras e do comércio. A associação destes com o comércio abriu espaços ao mercantilismo.
Nos séculos 18 e 19, o grande capital bancário concentrou-se no financiamento das atividades econômicas (incluindo a indústria) e dos governos. Com a expansão do capitalismo desde fins do século 19, o capital bancário estreita suas relações de associação com o industrial, e não apenas de financiamento, dando origem ao que Hilferding estudou em seu clássico "O Capital Financeiro" (1910).
A quarta etapa é viabilizada pela revolução eletrônica dos 70 e pela especulação em tempo real, no mundo todo, por meio de meros registros. Esse mercado global, virtual, de registros eletrônicos, eliminou as fronteiras e os controles estatais -e de forma radical nos paraísos fiscais, "off-shores". Trata-se de um capitalismo pós-financeiro, onde o capital financeiro vai financiar a si mesmo, junto com os novos andares agregados à torre dos derivativos.
Krugman afirma, em artigo recente, que, "depois de 1980, surgiu um sistema financeiro muito diferente, e a banca à moda antiga foi cada vez mais substituída pela especulação em grande escala. O novo sistema era muito maior que o antigo regime: à véspera da crise atual, finanças e seguros representavam 8% do PIB, mais que o dobro de sua participação nos anos 60".
Entramos numa quinta etapa com menos andares na torre, com uma menor distância entre a economia real e a virtual e com os controles e restrições governamentais ampliados. Que características terá? Virá a superação ou a acomodação? Aguarda-se a presença de novos Hilferdings neste século 21.