O Globo - 17/04/2009 |
Ao assumir a corresponsabilidade dos Estados Unidos pelo problema das drogas no México, não apenas no tráfico, mas também no consumo, o presidente Barack Obama deu ontem um passo adiante no que poderá vir a ser uma nova política antidroga que, embora mantenha a linha tradicional de combate militar a este crime, pode incluir a flexibilização do tratamento do usuário. Embora em entrevista pela internet Obama já tenha se declarado contrário a uma política nacional de descriminalização do uso de drogas, tudo indica que não faria oposição a iniciativas de estados e cidades que já têm leis e políticas mais flexíveis, o que vai ao encontro do documento da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia que esteve em debate na versão latino-americana do Fórum Econômico Mundial. Em Viena, na reunião do Comitê de Entorpecentes da ONU mês passado que manteve as principais diretrizes da política internacional de combate às drogas, embora ainda liderando a coalizão pró-proibicionismo (EUA, Rússia, Japão, Cuba, Vaticano e Colômbia), a delegação americana se bateu pela inclusão na declaração política da troca de seringas para evitar a contaminação, o que a administração Bush não aceitava. É provável que, a longo prazo, a política mude seu foco, passando a ações mais construtivas para reforçar os aspectos institucionais, sem abandonar o "combate implacável" aos traficantes. Há uma expectativa de que uma eventual nova política dos Estados Unidos de repressão às drogas tome mais em conta a questão dos direitos humanos. O presidente Barack Obama levantou muitas dúvidas com relação à violação dos direitos humanos no combate aos cartéis de drogas e ao terrorismo na Colômbia. A política de "guerra às drogas" tem na Colômbia um exemplo paradoxal de ineficiência, com o investimento de milhões de dólares num programa que não teve efeito na redução do tráfico, mas que está tendo êxito na segurança interna e no combate à guerrilha. Ambos os presidentes, Obama e Calderon, falaram ontem sempre em objetivos de curto e médio prazos, pois estão em meio a uma guerra que tem muitos temas delicados para superar, como por exemplo o banimento de armas de assalto e a proibição de venda de armamentos na fronteira entre México e Estados Unidos. Nada menos que dez mil lojas de armas ficam na fronteira com o México, e mais de 90% da que são apreendidas no país têm origem nos Estados Unidos. Embora Obama esteja procedendo de forma cautelosa, para não abrir uma controvérsia em tempo de crise, os sinais de uma mudança de política se avolumam. Em sua viagem ao México, a secretária de Estado, Hillary Clinton, enfatizou a corresponsabilidade dos EUA pelo problema, e preocupação comum pelo contrabando de armas, o que foi ratificado ontem pelo presidente Obama. No plano do discurso oficial, as autoridades do novo governo americano ainda não falam em "redução de danos", mas já se fala em maior atenção ao "tratamento" e "recurso a cortes especiais de drogas", em vez de enfatizar a criminalização e encarceramento. A nomeação do ex-chefe de polícia de Seattle, Gil Kerlikowske, conhecido por uma postura aberta e inovadora, em substituição ao duro John Walter no posto chave de czar antidrogas seria um indicador importante de mudança de política. Os mais expressivos veículos de mídia dos Estados Unidos reiteram o fracasso da guerra às drogas e a necessidade de uma mudança de paradigma, muitos fazendo referência direta ao Relatório da Comissão presidida pelos ex-presidentes Fernando Henrique, do Brasil, César Gaviria, da Colômbia e Ernesto Zedillo do México. Dois processos convergentes no plano do Legislativo reforçam a pressão por mudanças: o senador Jim Webb, do estado de Virgínia, ex-Marine e secretário da Marinha de Bill Clinton, propôs a abertura de uma audiência pública sobre os efeitos desastrosos da política de encarceramento de usuários, cujo resultado é a prisão de 500 mil a milhão de pessoas por crimes relacionados a drogas. Há também uma pressão dos comandantes militares, que têm dito privadamente não haver solução para situações do México, Afeganistão e Colômbia sem uma revisão drástica da estratégia de guerra às drogas. O Afeganistão voltou a ser o maior produtor de ópio do mundo, mesmo depois da invasão americana. Esta também seria a posição do vicepresidente Joe Biden, que coordenou no Senado um relatório apontando os limites do Plano Colômbia, e do assessor para segurança nacional, Jim Jones, ex-marine, que acompanhou Obama na sua viagem ao México. A sucessão no PT está provocando uma guerra de posições dentro do partido, com vistas às eleições de 2010. O presidente Lula, que a princípio queria colocar Gilberto Carvalho, seu secretário particular e dos mais próximos colaboradores, na presidência do partido, está mudando de ideia. Muito porque não quer abrir mão de Carvalho, mas principalmente pela impossibilidade de enfrentar e vencer a máquina partidária, que teria vida administrativa autônoma, embora não tenha força política no momento para resistir à sua pressão pela candidatura de Dilma Rousseff, por exemplo. Há, porém, um movimento dentro do partido para se comprometer com a eleição de uma chapa renovada. O que não se sabe é se esse grupo, que insiste na indicação de Gilberto Carvalho, é majoritário no partido. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sexta-feira, abril 17, 2009
Merval Pereira - Mudança de tom
Arquivo do blog
-
▼
2009
(3759)
-
▼
abril
(350)
- Editoriais
- Sangria mal atada Dora Kramer
- Polarização Merval Pereira
- Balanço das horas - Mírian Leitão
- Educação para a pobreza: Rolf Kuntz
- Desastre político : Carlos Alberto Sardenberg
- Clipping de 30/04/2009
- Serra ataca os juros Celso Ming
- O dólar furado Demétrio Magnoli e Gilson Schwartz
- Clipping de 29/04/2009
- Editoriais
- Obama e seus primeiros 100 dias Celso Ming
- Novos juros Panorama Miriam Leitão
- Uma crise pior que a da economia mundial José Nêum...
- Obsessão eleitoral Dora Kramer
- Doença e política Merval Pereira
- Reinaldo Azevedo PAIS E FILHOS
- CELSO MING Acabou o pânico. E daí?
- Clipping de 28/04/2009
- Editoriais
- Porcos com asas Vinicius Torres Freire
- Dois fantasmas Míriam Leitão
- Exageros à parte Dora Kramer
- Imagem arranhada Merval Pereira
- Rubens Barbosa,A CÚPULA DE OBAMA
- Clipping de 27/04/2009
- Controle cultural socialista Ipojuca Pontes
- A batalha das previsões Carlos Alberto Sardenberg
- Editoriais
- Enrolação que não cola mais JOÃO UBALDO RIBEIRO
- O voo cego de Lula na crise Suely Caldas
- FERREIRA GULLAR A sociedade sem traumas
- DANUZA LEÃO Brincando com fogo
- Editoriais
- Ação estatal evitou pânico no Brasil Vinicius Torr...
- O Copom afia a tesoura Celso Ming
- Da necessidade à virtude Rubens Ricupero
- Risco democrático Panorama Econômico :: Míriam Leitão
- Banzé no Centro-Oeste Dora Kramer
- Retrocesso ou sintonia? Merval Pereira
- Reforma política volta à pauta Ruy Fabiano
- O vento sopra e a luz acende Celso Ming
- Editoriais dos principais jornais do Brasil
- Embargo a Cuba! Cesar Maia
- Caminho da China Panorama Econômico :: Míriam Leitão
- Raspa do tacho Dora Kramer
- Crise sem fim Merval Pereira
- Ciro em baixa Fernando Rodrigues
- A República em questão Marco Aurélio Nogueira
- VEJA Carta ao leitor
- Entrevista: Abilio Diniz "O pior da crise já passou"
- Política O Congresso chegou ao fundo do poço, ...
- Partidos As legendas nanicas vendem candidaturas
- Reforma Propostas para melhorar o sistema eleit...
- STF A falta de compostura no tribunal
- Maranhão Como o clã Sarney perpetua a miséria ...
- Crise As forças que mantêm a economia mundial viva
- New York Times A crise do grande jornal americano
- Tortura Relatório divulga técnicas usadas pela CIA
- África do Sul O populista Zuma é eleito presid...
- Medicina Chega ao Brasil aparelho que revolucio...
- MILLÔR
- Radar Lauro Jardim
- Diogo Mainardi Vamos cair fora
- J.R. Guzzo Esperar para ver
- O presente que Chávez deu a Obama
- Pobre George, de Paula Fox
- VEJA Recomenda
- Os livros mais vendidos
- Editoriais dos principais jornais do Brasil
- Vinicius Torres Freire Bancos nacionais secaram o ...
- Juros: entre racionalidade e fetichismo Luiz Carlo...
- Clipping de 24/04/2009
- CELSO MING Alguma melhora
- DORA KRAMER A nau dos insensatos
- MIRIAM LEITÃO Volta do dinheiro
- O liberalismo sobrevive João Mellão Neto
- Embate político Merval Pereira
- Honestidade obrigatória Luiz Garcia
- Problema: humanos CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Editoriais dos principais jornais do Brasil
- MERVAL PEREIRA - Reconciliação difíci
- Clipping de 23/04/2009
- Crime sem castigo Dora Kramer
- O contribuinte paga Celso Ming -
- Alberto Tamer -Recessão vai piorar. Brasil resiste
- A crise e os primos dos americanos Vinicius Torres...
- Longo túnel Panorama Econômico :: Miriam Leitão
- Míriam Leitão Déficit democrático
- Editoriais dos principais jornais do Brasil
- Nenhuma recuperação à vista Paulo Rabello de Castro
- O FMI na contramão dos EUA Vinicius Torres Freire
- ENTREVISTA Joseph Stiglitz
- Clipping de 22/04/2009
- Dora Kramer -Excelências sem fronteiras
- Clóvis Rossi - Até tu , ? Gabeira
- Celso Ming - Ainda falta muito
- Mistificação : Antonio Delfim Netto
- Crise de coluna Roberto DaMatta
- Merval Pereira -Éticas em conflito
-
▼
abril
(350)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA