Como pensam e se comportam os adolescentes de hoje:
filhos da revolução tecnológica, eles vivem no mundo
digital, são pragmáticos, pouco idealistas e estão
mais desorientados do que nunca
Anna Paula Buchalla
Fotos Pedro Rubens |
Tudo ao mesmo tempo agora Os jovens Marine Marinho Del Maschi, de 16 anos, e Márcio Saurin, de 17: celular, ipod, computador e videogame praticamente viraram uma extensão do corpo e dos sentidos |
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"Alguém tinha deixado uma revista no banco, ao meu lado, e comecei a ler, achando que assim ia parar de pensar no Professor Antolini e num milhão de outras coisas, pelo menos durante algum tempo. Mas a porcaria do artigo que comecei a ler quase que me fez sentir pior ainda. Era sobre os hormônios. Mostrava a aparência que a gente deve ter – a cara, os olhos e tudo – quando os hormônios estão funcionando direito, e eu estava todo ao contrário. Estava parecendo exatamente com o sujeito do artigo, que estava com os hormônios todos funcionando errado. Por isso comecei a ficar preocupado com os meus hormônios. Aí li outro artigo, sobre a maneira pela qual a gente pode saber se tem câncer ou não. Dizia lá que, se a gente tem alguma ferida na boca que demora a sarar, então isso é sinal de que a gente provavelmente está com câncer. E eu já estava com aquele machucado na parte de dentro do lábio há umas duas semanas. (...) Calculei que devia morrer dentro de uns dois meses, já que estava com câncer. Foi mesmo. Eu estava certo de que ia morrer. Evidentemente, essa ideia não me deixou muito satisfeito."
O trecho do parágrafo anterior é de um romance que, durante décadas, foi o livro de cabeceira de milhões de jovens ao redor do mundo: O Apanhador no Campo de Centeio, do americano J.D. Salinger. Lançado em 1951, ele é um registro magistral das perplexidades, anseios, medos e descobertas de um adolescente que foge do colégio interno, vaga sem destino certo e acaba internado numa clínica, por "esgotamento", onde resolve fazer o relato de seu périplo. Quem leu o livro dificilmente esquece o nome do personagem: Holden Caulfield, para quem tudo (ou quase tudo) é uma porcaria. E para quem tudo (ou quase tudo) é motivo de saudade. Paradoxos de quem tem os hormônios "funcionando errado", claro. Os adolescentes continuam a ter um quê de Holden Caulfield dentro de si, mas mudaram muito desde que Salinger publicou seu romance. Mudaram muito porque mudamos todos nós, e bastante. Em parte, houve evolução; em parte, talvez, involução. Ganhou-se em liberdade e pragmatismo; perdeu-se em encantamento e idealismo. Os jovens não poderiam ficar fora da curva dessa trajetória.
VEJA foi a campo tentar descobrir como os adolescentes atuais poderiam ser identificados se tomados como um todo. Sim, é uma generalização, e como toda generalização deve ser olhada com cuidado. Mas quem sabe ela possa subsidiar pais angustiados (e irritados) com moças e rapazes para quem, de uma hora para outra, eles, antes tão adorados, se tornaram "ridículos". Durante dois meses, a revista ouviu dezenas de jovens, pais, psicólogos e educadores sobre os desejos, dúvidas, receios e ambições da adolescência dos anos 2000. Uma enquete com 527 pais e jovens de 13 a 19 anos de todo o país, disponibilizada por uma semana no site VEJA.com, identificou hábitos e comportamentos da geração que daqui a vinte anos estará no comando do país. Eis algumas conclusões: os meninos e meninas que nasceram a partir de 1990 não almejam fazer nenhum tipo de revolução – nem sexual nem política, como sonhavam os jovens dos anos 60 e 70. Mudar o mundo não é com eles. O que querem mesmo é ganhar um bom dinheiro com seu trabalho. São também mais conservadores em relação aos valores familiares (embora os pais, lógico, sejam "ridículos"), de acordo com o maior estudo de hábitos e atitudes da população adolescente brasileira, conduzido pela empresa de consultoria Research International. Fruto da revolução tecnológica e da globalização, eles formam, ainda, a geração do "tudo-ao-mesmo-tempo-e-agora" (uma das inúmeras expressões com as quais os especialistas tentam defini-los). São capazes de realizar várias atividades ao mesmo tempo (as de estudo, nem sempre a contento), porque celular, iPod, computador e videogame praticamente viraram uma extensão do corpo e dos sentidos. É, enfim, uma juventude que vive em rede, com tudo de bom e de ruim que isso significa. Afirma Felipe Mendes, diretor-geral da Research International: "O que preocupa nesta geração é que eles são concretos em relação a dinheiro e trabalho, mas muito básicos em seus sonhos e impessoais e virtuais nos prazeres que deveriam ser reais".
O fato de estarem sempre conectados os leva a ter interesse por mais assuntos e a ser mais bem informados de maneira geral. O lado ruim é que raramente tentam aprofundar-se em algum tema. Mudam de opinião com rapidez e frequência proporcionais ao liga-desliga do computador. Mais do que ocorria nas gerações de jovens anteriores, suas decisões costumam estar envoltas em interrogações, como se a vida fosse um eterno teste de múltipla escolha. Plugados ao mundo, aos sites de relacionamentos como Orkut e aos serviços de mensagens instantâneas, eles movem-se em rede e estão menos divididos em tribos. E é justamente isso que os faz menos preconceituosos com as diferenças: 44% dos participantes da pesquisa da Research International têm amigos próximos com uma orientação sexual diferente da sua. É um dos melhores aspectos do lado bom.
O frenesi da era digital ajuda a empurrar esses adolescentes a trocar de amores, amizades, cursos e aspirações como quem troca de tênis. "É uma sucessão de reinícios, com finais rápidos e indolores", define o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Mas, como não é possível recusar sempre a vivência da dor, a contrapartida pode ser o aumento da ansiedade em relação a relacionamentos pessoais e opções profissionais. "Você quer tudo e, ao mesmo tempo, não sabe o que quer", diz Marcela Lucato, de 16 anos. A frase resume bem o porquê de eles nunca se mostrarem completamente satisfeitos. São tantas opções de escolha sobre o que fazer e aonde ir e tanta liberdade de decisão que eles se perdem. "O melhor de ser jovem hoje é ter liberdade de escolha. Mas é difícil decidir, não temos prioridades", afirma Giuliana Locoselli, de 16 anos. Está certo que uma das características da geração atual em relação às anteriores é o fato de que moças e rapazes demoram mais para se decidir em relação à carreira a ser seguida. O dado positivo é que, nesse meio-tempo, eles articulam uma rede de contatos tão grandiosa que, no futuro, poderá ajudá-los profissionalmente. Apesar de todas as incertezas, um trabalho que os faça ricos é o sonho de 64% dos adolescentes. Faz sentido: os jovens de hoje estão caros. Caros, não, caríssimos. Eles custam cinco vezes mais do que há trinta anos (veja o quadro). E, para aumentar mais os gastos familiares, são grandes influenciadores das compras dos próprios pais. Em nove de cada dez famílias que adquirem eletroeletrônicos, a decisão de qual aparelho levar é deles. Cerca de 45% dos adolescentes brasileiros correm às lojas assim que um novo gadget é lançado, segundo uma pesquisa da empresa Deloitte.
O excesso de excesso de exposição dos adolescentes em sites de relacionamentos é, sim, motivo de preocupação. A agenda trancada a chave do passado deu lugar a trocas de mensagens apaixonadas ou comentários sobre a vida própria e a alheia para todo mundo ler. Lá estão também fotos da família, dos amigos, do namorado, da "ficante" e por aí vai. "A privacidade não existe mais para eles", diz Claudia Xavier da Costa Souza, coordenadora do centro pedagógico do Colégio Porto Seguro. Expõem-se tanto a ponto de já terem sido chamados de a geração look at me ("olhe para mim"). "Esse fato, para além dos problemas circunstanciais que pode acarretar, dificulta o desenvolvimento da capacidade de autorreflexão e introspecção, o que é essencial para o crescimento", diz a psicóloga Ceres Alves de Araujo.
Com uma rede de conhecidos tão vasta, o número de festas é enorme. Se os pais deixarem, eles saem de domingo a domingo. Nessas saídas, que podem se arrastar até o dia seguinte, pode haver muita bebida e droga, especialmente as sintéticas. Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas revela que 35% dos adolescentes brasileiros de 12 a 14 anos consumiram algum tipo de bebida alcoólica no mês anterior ao estudo – é a taxa mais alta da América Latina. Entre os brasileiros de 15 a 16 anos, esse índice sobe para 56%. As meninas são um capítulo à parte nesse cenário. Elas estão se expondo mais precocemente que os meninos aos perigos do álcool e das drogas. Como elas amadurecem antes, inclusive fisicamente, é mais fácil para a maioria entrar nas festas dos mais velhos, onde a bebida corre sem nenhum controle. Basta uma visita a qualquer supermercado numa noite de sábado para testemunhar grupos de adolescentes se preparando para o que chamam de "esquenta" – ou seja, beber na casa de um deles antes de ir para a festa. Muitos entram nas baladas com vodca em garrafas de água mineral. Bem, Holden Caulfield não faria diferente...
E em que reside a maior culpa dos pais de hoje? Em não saber dizer o velho, bom e sonoro "não". É como se, para eles, negativas pertinentes a comportamentos inaceitáveis equivalessem a um castigo físico, afirmam os especialistas em adolescentes. "Há ainda um outro fator: a falta de cobrança. Ela tem como corolário a falta de responsabilidade na vida adulta", diz Silvana Leporace, coordenadora educacional do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo. Portanto, atenção: se hoje seria uma perversidade colocar seu Holden Caulfield num internato ou algo que o valha, como fizeram os "velhos" do personagem de Salinger, é um tremendo erro cair no extremo oposto – o de deixar como está para ver como é que fica, enquanto se finge ser liberal. Dá para controlar um adolescente em condições razoavelmente normais de temperatura e pressão ou, ao menos, suportá-lo sem maiores traumas? Dá. Eis aí algumas sugestões de educadores e psicólogos para que você não perca completamente a cabeça (uma parte dela é aceitável):
• Quando o jovem bebe
Diante de evidências tão claras quanto as da série Law & Order, os pais nunca devem perguntar: "Você bebeu?". Nesse caso, eles correm o risco de ter dois problemas – a bebida e a mentira. É bom que os pais sejam firmes e informem o jovem de que eles sabem da bebida. Proibir o filho de beber não tem efeito prático nenhum. O melhor a fazer é explicar os riscos do consumo excessivo de álcool. Em geral, conversas francas e amigáveis dão mais resultado que a gritaria.
• Quando ele insiste em não atender o celular
Os pais devem deixar claro que o jovem tem o aparelho por dois motivos: para que tenha autonomia e eles, tranquilidade. Se o adolescente não atende as ligações dos pais, deve perder a liberdade que lhe foi concedida. Um exemplo: se o horário para chegar em casa é às 3 da manhã, da próxima vez ele deverá chegar à 1. Faça-o entender que cabe a ele reconquistar a confiança dos pais.
• Quando ele abusa do telefone
Não há como exigir que um adolescente controle os gastos com telefonia. A alternativa é dar-lhe um celular pré-pago. No caso do telefone fixo, antes de recorrer a cadeados ou bloqueios da linha por senha, desconte da mesada o valor das longas, longuíssimas conversas com amigos e afins.
• Quando o adolescente se expõe demais na internet
Cabe ao pai e à mãe mostrar o que eles pensam a respeito da intimidade devassada na rede. É direito e dever deles dar sua opinião ao filho, mas não é possível exigir que o adolescente aja da forma pretendida pelos pais. Se o excesso de exposição resultar em fofocas que cheguem aos ouvidos paternos, o melhor a fazer é consultar um psicólogo.
• Quando há excesso de discussão entre pais e filhos
"Falar com o filho é fundamental, mas não na condição de amigo. Um diálogo entre pais e filhos, quando trata de assuntos decisivos e espinhosos, como sexo, autonomia e responsabilidade com os estudos, é sempre delicado. Pode fluir numa comunicação tranquila, mas nem por isso será fácil", diz a psicanalista Diana Corso. Se você nunca experimentou uma "comunicação tranquila", e acha que isso será impossível até que ele ou ela caia em si depois da descarga hormonal da adolescência, tenha em mente que toda discussão deve ter limite. É um erro bater boca com um adolescente. Não leva a lugar algum. O ideal é deixá-lo falando sozinho. Quando a situação se acalmar, de ambos os lados, é hora de sentar e tentar conversar outra vez. Se pais e filhos caírem numa rotina de bate-boca, será preciso buscar outros meios de comunicação – de preferência o e-mail, um instrumento ao qual o adolescente está mais do que habituado.
Boa sorte.
O mentor da casa Precisa de alguém para recuperar um programa no computador? Você não tem ideia de como baixar músicas no iPhone? Chame o adolescente mais próximo. É impressionante a desenvoltura desses jovens com as novas tecnologias. Tanto que, na maioria esmagadora das casas, são eles os consultores dos aparelhos a ser adquiridos. Nove em cada dez compras de eletrônicos das famílias brasileiras são influenciadas pelo filho adolescente. "Quando percebo que os celulares da minha família estão ficando ultrapassados, convenço meu pai a trocá-los", diz Márcio Saurin, de 17 anos. "O meu é sempre o melhor." | Fotos Edu Lopes |
Muita exposição, pouca intimidade Os adolescentes costumam devassar suas próprias vidas nos sites de relacionamento – o Orkut é o preferido dos jovens brasileiros. Declarações de amor, comentários sobre amigos, fotos da turma, do namorado, da família... Está tudo lá para quem quiser ver. "Meu pai fica preocupado com a imagem que eu vou passar", diz Manoela Regis Slerca, de 15 anos. "Todo mundo sabe quem é quem e tem muita fofoca e exibicionismo na internet, o que pode causar confusão." Mesmo assim, ela não resiste. É uma geração sem privacidade. |
O fim das tribos Rodrigo Bianchi, de 16 anos, não tem cara de nerd, não tem jeito de nerd, mas é um nerd. Um nerd em meio a amigos não nerds. Esqueça o estereótipo do menino esquisito, solitário, de comportamento entre o tímido e o desastrado. Os adolescentes atuais não se dividem em tribos de aparência e preferências definidas, como os jovens de quinze, vinte anos atrás. Um nerd contemporâneo pode, inclusive, ser tão popular quanto o mais fofo da turma. A única diferença entre os dois é que o primeiro sempre tira ótimas notas, nunca fica de recuperação e sempre entra de férias antes dos colegas. "Presto atenção nas aulas, que é para não ter de estudar muito antes das provas", diz Rodrigo. | Ricardo Benichio |
A aliança de compromisso
Renata de Fiore, de 16 anos, e André Pugliese, da mesma idade, namoram há dez meses. Pouco depois do primeiro mês de "ficantes", ele a convidou para jantar. Um garçom interrompeu a conversa para entregar à menina uma rosa vermelha. Pedido de namoro feito e prontamente aceito, os dois logo colocaram um anel de compromisso. "Namorar é ótimo, você faz muito mais coisas e tem em quem confiar. O namorado é um amigo para todas as horas", acredita Renata. O anel não é promessa de amor eterno. É apenas um recurso para marcar a existência de um vínculo mais forte em meio a tantas relações efêmeras. |
Arquivo pessoal | A volta das festas Festa de 15 anos, hoje, tem todo o ritual dos tempos de debutante da vovó: vestido de baile, valsa, o príncipe, meninos de smoking. O que mudou foi a proporção que as comemorações atuais tomaram. A mineira Ligia Lapertosa convidou 700 pessoas para sua festa. A cerimônia aconteceu num shopping fictício, o LL Fashion Mall, imaginado pela mãe de Ligia, repleto de fachadas de lojas de grifes. Durante a festa, a garota trocou de vestido três vezes, exibiu um filme em que interpretava uma celebridade e distribuiu sandálias com sua assinatura. |
É tudo muito igual
Porque não são divididos em tribos, os adolescentes da classe média estão muito parecidos entre si. Gostam das mesmas coisas, usam as mesmas roupas, os mesmos cortes de cabelo e têm os mesmos gadgets. A certa distância, chega a ser difícil distinguir um do outro. "A gente só convive com gente do mesmo meio e da mesma classe social. É todo mundo muito igual e acaba sendo tudo muito superficial", diz Marine Marinho Del Maschi, de 16 anos. Bailarina do Teatro Municipal de São Paulo, nas aulas e nos ensaios de dança ela tem a oportunidade de conhecer pessoas de outras classes sociais. "Essa convivência me enriquece." |
Falta tempo Os adolescentes atuais são capazes de executar diversas tarefas ao mesmo tempo: estudar, ouvir música, vasculhar a internet. A contrapartida é uma ansiedade muito grande e a sensação de que sobram afazeres e falta tempo para cumpri-los. "Hoje a gente passa muito tempo na escola. Sem falar nos cursos de idiomas, esportes, lição de casa... O tempo que sobra a gente divide entre navegar na internet, ouvir música, trocar mensagens com os amigos", diz Pedro Soares Fialdini, de 14 anos. "Queria que meu dia tivesse mais de 24 horas. Minha rotina é muito agitada e não consigo fazer quase nada." |
Dos livros à internet
Os leitores adolescentes vêm impulsionando o maior sucesso atual nas livrarias. Nesta semana, na lista de mais vendidos de VEJA, categoria ficção, o primeiro, o terceiro e o quarto lugares pertencem a Eclipse, Crepúsculo e Lua Nova, da série de livros sobre vampiros colegiais criada pela americana Stephenie Meyer. Os três títulos já venderam perto de 700 000 exemplares. Amanhecer, que encerra a série, deve ser lançado em junho pela Intrínseca. Outras séries voltadas para a adolescência têm obtido números expressivos. Com onze livros e já adaptada para a televisão, Gossip Girl, de Cecily von Ziegesar, crônica do mundo das patricinhas de Nova York, vendeu 176 000 exemplares. É publicada pelo selo jovem da editora Record, o Galera – que também lança no país os livros de Meg Cabot, cuja série O Diário da Princesa, com onze títulos, vendeu mais de 460 000 exemplares. A escritora brasileira Thalita Rebouças bateu nos 200 000 volumes, com nove títulos devotados ao relacionamento das meninas com pais, amigas e professores – suas obras de maior sucesso são Fala Sério, Mãe! e Fala Sério, Amiga!, publicadas pela Rocco Jovem. Mesmo no seu relacionamento com os livros, os jovens convergem fatalmente para a internet, sede virtual de inúmeros fã-clubes. "O olho-no-olho já não é tão importante para a geração atual", diz Thalita Rebouças, que se valeu do Orkut para promover os seus livros e hoje mantém um site próprio. Tal como a música pop, a literatura jovem pode suscitar aquela devoção incondicional de que só os adolescentes são capazes. Eis como a estudante carioca Caroline Contente, de 14 anos, define Crepúsculo: "Esses livros são a minha vida. O resto é passatempo". Ela já releu os livros dezenas de vezes, pendura fotos do ator Robert Pattinson – o vampiro do filme Crepúsculo – no quarto e rompeu com um namorado que não compartilhava de sua admiração pela série. Carol organizou um fã-clube na internet e promove reuniões com amigas para debater os livros – que elas admiram, sobretudo, por causa da heroína romântica. "Nós nos identificamos com a Bella. Ela tem a coragem de lutar pelo seu amor", diz Carol. "Eu espero que um dia a gente encontre o nosso Edward. Só não vai ser um vampiro." Jerônimo Teixeira |
Um guarda-roupa (nada) básico
O "uniforme" dos jovens mais ricos
Montagem sobre fotos de Pedro Rubens |
Enquanto isso, nas classes C, D e E...
Os jovens das classes C, D e E têm menos dinheiro, mas se comportam da mesma forma que os mais ricos quando vão às compras: dão preferência a lançamentos e a marcas famosas. Uma pesquisa do Instituto Análise e do site e-bit, que hospeda lojas virtuais, mostra que a novidade de um produto é um dos principais atributos exigidos pelos brasileiros de 18 a 24 anos com renda familiar de até 1 000 reais. O levantamento, realizado com compradores de produtos eletroeletrônicos, descobriu também que os jovens mais pobres estão dispostos a comprometer uma parcela maior de sua renda para adquirir os modelos mais avançados desses aparelhos. Além de inovação e marca, eles passaram a procurar bens de valor mais alto, como notebooks, televisores de LCD e home theaters, que antes eram adquiridos apenas pelos mais ricos.
Esses dados levaram os pesquisadores a concluir que está em curso uma mudança no perfil dos consumidores de baixa renda. Quanto mais jovens são os indivíduos desse estrato, maior é a importância que se dá à qualidade e menor a que se confere a, por exemplo, facilidades de pagamento, como o número máximo de prestações em um parcelamento. "Os jovens estão elevando o seu padrão de consumo e isso vale também para os que têm menor poder aquisitivo", resume o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. Os jovens de baixa renda incorporaram hábitos antes próprios dos compradores mais endinheirados. Como esses últimos, eles passaram a procurar ofertas na internet e a comprar em lojas virtuais. Para quem vende na rede, é uma clientela promissora. "Atender esse nicho de mercado se tornou uma obsessão de muitas empresas", diz Almeida.