Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 21, 2009

MILLÔR

YEHUDA AMICHAI SEMPRE!

Agora que Israel está de novo no centro do mundo – quando não esteve? – é bom lembrar Yehuda Amichai, o maior poeta israelense do século XX, um dos maiores de qualquer tempo. O poeta nasceu na Alemanha, emigrou para a Palestina aos 9 anos, serviu na brigada de Palmach, no Negev, durante a guerra de formação do país. Intensamente judaico e israelense, Amichai (o c é mudo) tem uma visão cosmopolita; dramática, mas irônica.

É um povo que cria um grande poeta ou é uma extraordinária sensibilidade poética que cria um povo?

ASSIM A GLÓRIA PASSA

Assim a glória passa, como um comprido trem sem princípio nem fim, sem causa ou intenção. Eu sempre fico num lado do cruzamento – a cancela está fechada –
e verifico tudo: vagões de passageiros e história, vagões entulhados de guerra, vagões transbordantes de seres humanos para extermínio, janelas com caras de homens e mulheres de partida, exaltação de viajantes, aniversários e mortes, súplicas e piedades, e quantidades de vagões vazios chacoalhando.
Assim meus filhos passam a seu futuro,
Assim o Senhor passou sobre Moisés no Grande Deserto,
E Moisés não viu Sua Face, só gritou:
"Senhor, Ó Senhor, misericordioso e gracioso, abundante
em bondade e verdade".
Assim a glória passa,
Assim a cancela fica fechada
Até o fim de meus dias.

DEPOIS DE AUSCHWITZ

Depois de Auschwitz, nenhuma teologia.
Das chaminés do Vaticano
sobe fumaça branca,
Sinal de que os cardeais escolheram seu Papa.
Do crematório de Auschwitz
sobe fumaça negra,
Sinal de que o conclave dos
Deuses ainda não elegeu
O Povo Eleito.
Depois de Auschwitz, nenhuma teologia.
Os números nos pulsos
Dos internos para extermínio
São os números dos telefones de Deus,
Números que não respondem
E agora são desligados, um a um.
Depois de Auschwitz, uma nova teologia:
Os judeus que morreram no Shoah
Agora ficaram semelhantes a seu Deus,
Que não tem semelhança com um corpo e não tem corpo.
Eles não têm semelhança com um corpo e não têm corpo.

NA HISTÓRIA DE NOSSO AMOR. UM FOI SEMPRE

Na história de nosso amor, um foi sempre
Uma tribo nômade, outro uma nação em seu próprio solo
Quando trocamos de lugar, tudo tinha acabado.
O tempo passará por nós, como paisagens
Passam por trás de atores parados
em suas marcas
Quando se roda um filme.
As palavras
Passarão por nossos lábios. Até as lágrimas
Passarão por nossos
olhos.
O tempo passará
Por cada um em seu lugar.
E na geografia do resto de
nossas vidas.
Quem será uma ilha e quem uma península
Ficará claro pra cada um de nós
No resto de nossas vidas
Em noite de amor com outros.

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