Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Míriam Leitão De olho no pacote

Publicado em 25/02/2009 | Com Leonardo Zanelli

A construção civil espera o pacote do governo como a tábua de salvação. Mesmo com a previsão otimista do presidente do Sinduscon-SP, de crescimento de 3,5% em 2009, o setor sabe que terá uma queda forte de atividade. Só os novos lançamentos imobiliários podem cair de 20% a 40%. Além disso, outro fator preocupa: o desemprego. Sem estabilidade, quem vai querer comprar a casa própria?

O governo ainda não detalhou os pontos do pacote, que vai ser lançado no início de março. Pode haver desoneração de impostos para materiais de construção, abatimento dos juros de prestações da casa própria no Imposto de Renda. O objetivo é construir 1 milhão de casas populares, 500 mil neste ano e 500 mil em 2010. O governo talvez dê prioridade a quem ganha até 10 salários mínimos. O setor gostaria de ampliar essa faixa. Outra medida, já aplaudida de véspera, é a elevação do valor máximo do imóvel a ser financiado com recursos do FGTS, de R$ 350 mil para R$ 500 mil, porque beneficia a classe média.

“O pacote do governo vai incentivar a construção de casas para baixa renda, vai diminuir os impostos para reduzir o valor do imóvel para o comprador final. Mas tudo depende do nível do emprego no país”, diz o presidente da Ademi-RJ, Rogério Chor.

O presidente do Sinduscon-SP, Sérgio Watanabe, também acha que o pacote será bom, porque pode melhorar a economia do país como um todo. Mas um ambiente de crescimento do desemprego é o pior cenário para o mercado imobiliário. Essa incerteza em relação à renda futura impede que o consumidor se comprometa com uma dívida de longo prazo.

Esse é o principal problema do mercado imobiliário. Ele passou por um excelente momento nos últimos tempos, mas seu crescimento depende de insumos que nunca controla: estabilidade econômica, juros baixos, crédito farto, expectativa positiva dos agentes econômicos. Tudo que anda em falta neste momento.

“O problema é a confiança, e o desemprego mexe com a desconfiança das pessoas. Este quadro é ruim. Apesar de ter recursos para financiamento, tem de ter a decisão do consumidor”, diz Watanabe.

A construção civil apresentou algumas propostas ao governo. Nelas, a de sempre: desoneração de impostos. Segundo empresários do setor, 28% do valor de um imóvel, em média, são impostos. Outra é o governo subsidiar as famílias de baixa renda e assumir o risco dos financiamentos, criando um fundo garantidor de pagamentos, para o setor privado financiar. Uma outra sugestão do setor seria aumentar o prazo de pagamento do financiamento em mais dois anos, para o caso de o comprador perder o emprego. Ele teria dois anos para ficar sem pagar as prestações e não se tornar inadimplente, com esse prazo passando para o fim do financiamento.

“Esperamos que o pacote reduza valores para outras famílias comprarem imóveis. Para o setor, a ajuda não é de graça, já que a construção civil gera muitos empregos”, diz Watanabe.

A construção civil terá uma queda no nível de atividade. O ramo imobiliário terá menos lançamentos, o de obras privadas, que já parou no último trimestre de 2008, só vai voltar a produzir quando a economia se estabilizar. Restam as obras públicas, que vão exigir uma organização até agora não mostrada pelo governo.

“Ainda preferimos acreditar que vamos crescer 3,5% este ano, tendo em vista o carregamento do crescimento de 2008, mesmo com o recuo de lançamentos e de vendas de novas unidades”, conta o presidente do Sinduscon-SP.

Para se ter uma idéia do recuo, só em São Paulo as vendas de novas unidades e lançamentos imobiliários caíram 50% em dezembro de 2008 sobre setembro. No Rio de Janeiro, o movimento foi parecido. O setor, que crescia 10% no primeiro semestre do ano passado, encerrou 2008 quase estável: com mínimo crescimento em unidades e no empate no faturamento em reais. “No segundo semestre de 2008 não só não teve crescimento como teve queda, anulando a alta no ano. Para 2009, os lançamentos vão cair. A queda vai ficar entre 20% e 40%”, conta Chor.

O presidente da Ademi-RJ acredita que, além do pacote do governo, a redução da taxa de juros, a Selic, pode ajudar. “A redução da taxa de juros é um instrumento muito forte para o setor e para o mercado de crédito. Se a Selic continuar caindo, vai dar um gás. Mas só a tendência de queda ajuda. Se ela se confirmar, o horizonte do custo do financiamento passa a ser de queda.”

Chor, que também é diretor da CHL, diz que os preços dos imóveis não devem subir. Há dois motivos. Um é que a demanda está menor. Outro é que havia uma euforia entre empresários de que o crescimento seria continuado, e agora isso mudou. “Eu comprei uma grua na China, porque aqui não tinha o que se precisava. Agora, o setor tem espaço para não inflacionar os custos. A construção fez uma gordura nos anos anteriores e, agora, tem espaço para queimar essa gordura.”

Se nos Estados Unidos a crise começou no setor hipotecário, a situação é totalmente diferente no Brasil. Aqui, o setor estava começando a retomar o ritmo depois de anos de estagnação. Dependendo do formato, o pacote pode ajudar o setor e o país.

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