O Estado de S. Paulo - 15/09/2011 |
Depois que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou a disposição dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de contribuir para a salvação da área do euro, a imprensa internacional passou a lidar com a notícia como se fosse algo a ser levado a sério.
Mas, ontem, a presidente Dilma Rousseff se encarregou de colocar um mínimo de racionalidade nesse assunto: "O problema da Europa não é de falta de recursos; é de falta de decisão política".
O despejo de recursos, seja lá de qual fonte for, seria um jeito de ganhar tempo, não de resolver o problema. O Brasil e os demais detentores da sigla Brics podem até mesmo colocar algum dinheiro em títulos soberanos da zona do euro, mas isso deve ser entendido como prática de diversificação de reservas, não como operação de salvamento do cordão de endividados do bloco.
A China, por exemplo, por meio de seu primeiro-ministro, Wen Jiabao, deu ontem a entender que pode investir parte de suas reservas em títulos europeus, desde que a União Europeia a reconheça como economia de mercado. Na última terça-feira, uma autoridade de Moscou avisou que pode estudar o assunto, mas que não tem por que o fazer no âmbito do Brics. E do governo da Índia não se sabe o que pensa sobre o tema.
Alguns governos da área do euro não sabem nem sequer se vão completar sua parte nos adiantamentos destinados à Grécia. A Finlândia, por exemplo, está pedindo garantias. E os alemães querem mais firmeza na condução das reformas e nos compromissos com estabilidade orçamentária por parte do governo grego. Se suas cotas forem inteiramente subscritas, o tal Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês) deve chegar a ter 750 bilhões de euros, uma ninharia para o atendimento das necessidades dos chamados Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Só a Itália tem uma dívida de 1,9 trilhão de euros. A instituição dos eurobônus, uma dívida partilhada solidariamente entre os sócios do euro, até agora foi sumariamente rejeitada pelo governo da Alemanha.
O Banco Central Europeu (BCE) vem atuando como bombeiro. Desde maio de 2010, adquiriu 143 bilhões em títulos desvalorizados no mercado e poderia operar como tomador de última instância. Mas o núcleo duro do euro (especialmente Alemanha, Holanda, Áustria e Finlândia) rejeita essa função heterodoxa do BCE, porque, argumenta, implicaria o financiamento pelo BCE a tesouros relapsos.
Os dirigentes da União Europeia não conseguem chegar nem mesmo a um acordo sobre a necessidade de capitalizar seus bancos. Na última segunda-feira, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, desautorizou um documento do Fundo que advertia para a necessidade de injetar mais 200 bilhões de euros no capital dos bancos. E, no entanto, qualquer um sabe que os títulos dos Piigs estão desvalorizados em cerca de 50%, o que deixa o patrimônio dos credores (bancos) especialmente vulneráveis, necessitados de mais capital.
Se é assim e se falta vontade política por parte dos próprios interessados, por que os tesouros dos países emergentes terão agora de comparecer para fazer o serviço que nem eles mesmos sabem se querem?
CONFIRA
Aí você tem, mês a mês, o comportamento do emprego formal (com Carteira de Trabalho assinada) no Brasil desde fevereiro deste ano.
Não é bem assim
No relatório Perspectivas da Economia Mundial, ontem divulgado, o FMI derrubou um dos pressupostos do Banco Central do Brasil sobre a evolução da inflação. Lá ficou dito que os preços das commodities (especialmente alimentos e petróleo) deverão seguir voláteis e em alta. Ou seja, ao contrário da aposta feita pelo Copom, a economia mundial está trabalhando contra a baixa da inflação.
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quinta-feira, setembro 15, 2011
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