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domingo, setembro 18, 2011

Quanto custa comprar proteção VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 18/09/11

Crise nos ricos faz Brasil e emergentes perderem muito dinheiro com suas reservas em moedas 'fortes'


O BRASIL PAGA caro para acumular reservas, como se sabe. Em termos apenas financeiros, perde muito dinheiro a fim de manter US$ 352 bilhões na conta do Banco Central. Mas agora todos os grandes "emergentes" entraram também no vermelho. O Brasil perde US$ 39 bilhões por ano. A China, US$ 110 bilhões.
Os emergentes deveriam parar de acumular reservas, acredita Stephen Jen, sócio de um hedge fund, ex-diretor do Morgan Stanley e doutor em economia pelo MIT. Jen explica seus motivos numa análise que escreve para clientes do ItaúBBA.
"Reservas" são um caixa em moedas estrangeiras de livre curso no mercado mundial, um tipo de seguro. Em caso de seca de receitas externas, devido a baixas no comércio ou falta de crédito, permitem que um país ainda possa importar bens e pagar seus débitos no exterior.
Essa é a explicação "manual de etiqueta" econômica para a utilidade das reservas. Mas, nos últimos 20 anos, tais fundos têm servido para proteger moedas e sistemas financeiros nacionais de entradas e saídas alucinadas de capital externo, as quais quebram países desde a crise da Ásia de 1997, ao menos.
Enfim, as reservas são ainda o resultado das compras de moeda estrangeira com o fim de evitar a valorização da moeda nacional e, assim, manter um bom nível de exportações de bens. Como faz a China.
Qual o problema, na opinião de Jen? De 2007 até agora, o total mundial de reservas cresceu de US$ 6,9 trilhões para US$ 10,1 trilhões. Ou de US$ 2,84 trilhões para US$ 5,58 trilhões nos emergentes com grandes reservas (China, Rússia, Taiwan, Brasil, Coreia, Índia, Hong Kong e Cingapura). Nesse tempo, cresceu muito a diferença entre os juros do mundo rico (onde as reservas são aplicadas) e as dos emergentes, por causa da crise iniciada em 2007/8.
Os emergentes se endividam para comprar moeda forte: dívida em juros locais. Nesses países, os juros médios eram de 4,1% em 2007, e seguem por aí. Mas a taxa de juros nos ricos (EUA, Europa, Reino Unido e Japão) caiu de 4,8% para 0,4%.
Os emergentes, na média, ganhavam com o diferencial de juros. Agora perdem. O Brasil sempre perdeu, pois os juros daqui já eram lunáticos. Perde ainda mais agora. Para os oito emergentes em questão, a aplicação das reservas rendia US$ 17 bi em 2007. Agora, resulta em perda de US$ 210 bi ao ano.
Como as diferenças de crescimento, inflação e, pois, juros entre emergentes e ricos será grande por muito tempo, o prejuízo crescerá -ainda mais se considerada a perda de valor de moedas como o dólar.
O que Jen sugere? Que os emergentes deixem de acumular reservas e permitam a valorização de suas moedas, o que ajudaria de resto a conter a inflação. Que invistam seus haveres em moedas "fortes" por meio de fundos soberanos, que podem aplicar em ativos de maior rentabilidade (e risco, claro).
Trata-se, enfim, de outro "alerta" sobre desequilíbrios financeiros globais. Outra vez, se recomenda que emergentes, Ásia em especial, deixem suas moedas subirem de valor, que consumam mais, que poupem e exportem menos. Que parem de se proteger da instabilidade demencial criada pela liberalização financeira. E que ajudem o mundo rico a sair do buraco em que se meteu.
Falta combinar com os chineses. E até com a gente, aqui no Brasil.

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