FOLHA DE SP - 23/09/11
O BC tenta abrir buracos nas paredes para evitar que o câmbio leve a inflação para mais de 7% ao ano
Uma tempestade vinda de fora atingiu fortemente a economia brasileira nesta semana. Um pessimismo crescente com a crise política e econômica na Europa transformou-se em pânico com o aumento do risco de que a Itália também se junte ao grupo de países perto de uma moratória. Se isso realmente acontecer, uma catástrofe financeira -e não mais uma crise- vai atingir o mundo nos próximos meses.
Segundo alguns analistas, os efeitos que se seguirão vão fazer o período 2009/2010 parecer tempos de normalidade e bonança econômica. Nesse novo cenário, o mundo emergente, que até então vinha sendo considerado pelos investidores internacionais um refúgio seguro para seus investimentos, seria afetado de forma importante e entraria também em recessão. Até meados de agosto, países como Brasil, México, Austrália e muitos outros estavam recebendo expressivos volumes de recursos para serem investidos em suas economias. Citei recentemente, como exemplo desse movimento, a compra de parcela importante do capital da cervejaria Schincariol por um grupo japonês do mesmo ramo.
Dizia que tinha escolhido esse particular investimento como exemplo por três razões: o valor do investimento (US$ 2 bilhões), o fato de a empresa ter enorme questão legal com o fisco brasileiro e, principalmente, por ser o investidor uma tradicional empresa japonesa, considerada pelos especialistas uma das mais conservadoras do mundo.
Por isso, quando a crise europeia virou tempestade do tipo 5, o mundo róseo dos emergentes desabou. Os investidores -como sempre acontece nesses momentos desde que os florentinos inventaram os bancos- tentaram sair correndo ao mesmo tempo e voltar para o refugio do dólar, ainda a moeda mais confiável que existe.
Mas a porta de saída do mundo emergente é muito mais estreita do que a do mundo desenvolvido e esse movimento descontrolado -chamado no linguajar do mercado de desalavancagem- provocou subitamente uma das mais brutais correções de preço que já vi em meus 44 anos de mercado financeiro.
O pânico no Brasil foi muito maior do que na maioria dos emergentes, principalmente no mercado de câmbio, por culpa do governo Dilma. Poucos dias antes dessa mudança de ares, o ministro da Fazenda tinha criado um imposto na compra de dólares no mercado futuro da BM&FBovespa.
Segundo ele, havia um movimento especulativo que estava valorizando o real e prejudicando a indústria brasileira. Contra a maioria das opiniões de especialistas, ele decidiu levar sua proposta adiante. Ora, no momento de pânico que estamos vivendo, esse imposto funcionou como uma restrição importante nos negócios com o real, pois pune os que, sabendo que esse movimento de pânico em algum momento vai passar, poderiam estar comprando reais e amortecendo sua queda.
A imagem que me vem à mente para descrever o que está ocorrendo é a de um acidente recente em uma boate no México, quando centenas de pessoas morreram porque as saídas de emergência estavam fechadas. Nessa situação, todos os que estavam na boate tiveram de sair por uma única porta de entrada, e o resultado foi um desastre.
No caso do mercado de câmbio no Brasil, as portas de emergência, para situações como a que estamos vivendo, estavam fechadas na BM&FBovespa. A tranca colocada pelo governo -o IOF na compra de dólares futuros- funcionou a contento se o objetivo do governo era provocar uma correção vigorosa do real. Mas, como o câmbio é um preço fundamental na dinâmica da inflação brasileira -afeta 50% dos preços ao consumidor-, a correção brusca dos últimos dias ameaça inviabilizar a política de redução de juros do governo.
Por isso, no momento em que escrevo esta coluna, equipes de bombeiros do BC estão tentando abrir buracos nas paredes para evitar que o câmbio leve a inflação brasileira para mais de 7% ao ano. Como o mercado da BM&FBovespa hoje está do lado dos especuladores por não haver vendedores, o BC está vendendo mais de US$ 5 bilhões em derivativos cambiais. Uma trapalhada de mais de metro...
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
setembro
(254)
- Verdades ofendem - Dora Kramer
- Equação incompleta - Míriam Leitão
- Difícil acordo Merval Pereira
- Insensatez em marcha Rogério Furquim Werneck
- Bandidos de toga Paulo Delgado
- O 28º elemento DORA KRAMER
- O roto e o rasgado CELSO MING
- Crise lá fora não assusta ALBERTO TAMER
- Petrobras no vale MIRIAM LEITÃO
- A guerra do óleo MERVAL PEREIRA
- À sombra de Jabotinsky DEMÉTRIO MAGNOLI
- Prioridades MERVAL PEREIRA
- Drogas: o labirinto LYA LUFT
- Custo da crise MIRIAM LEITÃO
- A aposta do BC e o calote ROLF KUNTZ
- Câmbio ANTONIO DELFIM NETTO
- Muda para ficar como está CELSO MING
- O Brasil de hoje é o Maranhão de 1966 JOSÉ NÊUMANNE
- Reforço de caixa DORA KRAMER
- Nada a ver J.R. Guzzo
- Pouco e tarde MIRIAM LEITÃO
- Socorro aos bancos - Celso Ming
- Reinventar a democracia Merval Pereira
- Intenção e gesto Dora Kramer
- Um poder de costas para o país Marco Antonio Villa
- Quebra de tabus José Paulo Kupfer
- Memória diplomática Rubens Barbosa
- A demografia não espera a política José Pastore
- A classe média tupiniquim Marcelo Côrtes Neri
- Negócio tem,mas é difícil de fazer CARLOS ALBERTO ...
- Longe da verdade RICARDO NOBLAT
- Tudo para salvar o Zé REVISTA VEJA
- A festa dos bodes REVISTA VEJA
- Adeus à ideologia Denis Lerer Fosenfield
- Sobra dinheiro, falta vigilância ENTREVISTA - ROBE...
- Quebrando o tabu da crise SUELY CALDAS
- Risco de desarrumação CELSO MING
- Quando o bicho nos pegou FERREIRA GULLAR
- Semana de frustrações ALBERTO TAMER
- Futuro ameaçado MIRIAM LEITÃO
- Perigosas tentações DANUZA LEÃO
- Lula der Grosse JOÃO UBALDO RIBEIRO
- TCU não assusta ninguém ETHEVALDO SIQUEIRA
- Custos sociais MERVAL PEREIRA
- Silenciando a verdade na Argentina MAC MARGOLIS
- A mãe e o berçário político do país VINICIUS TORR...
- A régua civilizatória GAUDÊNCIO TORQUATO
- Pobreza americana Merval Pereira
- Quebrar ou não quebrar CELSO MING
- Ambiente mutante MIRIAM LEITÃO
- O contrato social PAUL KRUGMAN
- A paz é feminina? RUTH DE AQUINO
- Deu tudo certo e errado VINICIUS TORRES FREIRE
- Uma nova tempestade LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Moeda é vítima de um'efeito batata quente' JOSÉ PA...
- Geleia eleitoral MERVAL PEREIRA
- Solavancos no câmbio CELSO MING
- O custo do salto MIRIAM LEITÃO
- Sarkozy, Obama e Israel GILLES LAPOUGE
- A saúde dos impostos FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Os garotos do Brasil RUY CASTRO
- Política externa de Dilma afasta-se da de Lula só ...
- Revisão de uma realidade ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ
- Nada de novo sob o Sol João Mellão Neto
- Enquanto a bola rola Nelson Motta
- Dia D de DilmaMarco Aurélio Cabral
- As razões para a alta estão mais perto do que se i...
- Dilma faz o que Lula queria CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Mágicas e milagres nos EUA VINÍCIUS TORRES FREIRE
- Revolução educacional - Merval Pereira
- O xarope do Fed Celso Ming
- Em frente ao mundo - Míriam Leitão
- Ah, esse dólar.... Alberto Tamer
- O ruim pelo pior José Serra
- A impostura do impostaço VINICIUS TORRES FREIRE
- Fase perigosa MIRIAM LEITÃO
- O caminho do PSDB MERVAL PEREIRA
- Garantia legal ANTONIO DELFIM NETTO
- Novo conflito no Oriente Médio? ROBERTO ABDENUR
- FMI aprova corte de juros no Brasil ROLF KUNTZ
- O câmbio muda na moita CELSO MING
- Seis por meia dúzia Roberto DaMatta
- Mercado interno, externo ou ambos? Maílson da Nób...
- Veja e Epoca
- A CPMF é vital para a saúde GUILHERME FIUZA
- É muito poder REVISTA VEJA
- Rolos aqui e no exterior REVISTA VEJA
- É preciso preencher a cabeça deles REVISTA VEJA
- A marcha a ré JANIO DE FREITAS
- Aonde vai andar o dólar VINICIUS TORRES FREIRE
- Tarefas inescapáveis MIRIAM LEITÃO
- Operação Twist CELSO MING
- Jogo de pôquer Merval Pereira
- Às ruas! Rodrigo Constantino
- Para mudar o Congresso Luiz Felipe D'Ávila
- Competição nas ferrovias José Luiz Alquéres
- Reinaldo Azevedo
- Em água de rosas - Paulo Brossard
- Um olho aberto RICARDO NOBLAT
- Briga fratricida GEORGE VIDOR
-
▼
setembro
(254)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA