Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 20, 2011

Rolos aqui e no exterior REVISTA VEJA




Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, é investigado por lavagem de dinheiro no Brasil, nos Estados Unidos e na Venezuela
Laura Diniz e Otávio Cabral

O empresário Edir Macedo, de 66 anos, dedica-se a dois grandes negócios. Desde 1977, na condição de “bispo”, comanda a Igreja Universal do Reino de Deus, a quarta maior corrente religiosa do Brasil. Há 22 anos, assumiu a direção da Rede Record, a segunda maior emissora de TV do país. Um negócio alimenta o outro. E os problemas de um contaminam o outro. Na semana passada, como foi amplamente divulgado, Macedo viu-se denunciado à Justiça por arrecadar dos fiéis uma fortuna de dinheiro, mandá-la ilegalmente para o exterior, lavá-la nos Estados Unidos e fazê-la voltar para os cofres da Record. O aporte de todo esse dinheiro suspeito, contudo, não vem conseguindo elevar a audiência da emissora. Resultado: a rede de tv está cada vez mais dependente da Universal. No início do mês, a sede da Record no Rio de Janeiro foi penhorada como garantia de pagamento de dívida da Igreja.

O problema mais premente que Macedo enfrenta é a denúncia feita pelo Ministério Público Federal à Justiça que detalha como a igreja utiliza o dinheiro arrecadado de seus fiéis. O bispo é qualificado como “organizador das atividades criminosas” e acusado de estelionato, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. “Os pregadores valem-se da fé, do desespero ou da ambição dos fiéis para lhes vender a ideia de que Deus apenas olha pelos que contribuem financeiramente com a Igreja”, escreveu o procurador Silvio Luís de Oliveira. A denúncia apresenta provas, como o depoimento de três doleiros que mandavam a dinheirama obtida com as doações para o exterior. Segundo a denúncia, apenas 10% do dinheiro arrecadado era depositado no Brasil. Todo o restante – “notas amassadas, rasgadas, coladas com durex, suadas e rabiscadas, um dinheiro sofrido” – era entregue aos doleiros.

Na última década, Macedo expandiu seus empreendimentos para fora do Brasil, abrindo templos da Universal em 170 países e criando a Record Internacional. A expansão internacionalizou suas dificuldades com a lei. Como grande parte das doações passa pelos Estados Unidos, promotores americanos o investigam por lavagem de dinheiro. Até a Venezuela anda preocupada. Em pedido de cooperação enviado ao Brasil, promotores daquele país relatam que o bispo é alvo de uma investigação de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Os venezuelanos citam a acusação feita por um ex-pastor da Universal que viajou à Colômbia em 1989 para obter recursos com um traficante do Cartel de Cali. Voltou de jato fretado para o Brasil e a soma, segundo ele, foi usada para a compra da Record. Como o mesmo grupo de religiosos difundiu a Universal na Venezuela, as autoridades de lá temem que as igrejas de lá estejam sendo usadas para lavar dinheiro. “Estamos na presença de uma organização criminosa internacional que também atua na Venezuela”, justificam os promotores, que pedem a cópia de todas as investigações brasileiras relacionadas a Macedo.

O dinheiro arrecadado com fiéis, de maneira agora questionada pela Justiça, é a maior fonte de financiamento da Record. A cada ano, esse valor vem aumentando. No ano passado, a Universal repassou 430 milhões de reais à emissora com a justificativa de compra de horário para seus programas religiosos. Com esses recursos, a Record modernizou-se, passou a produzir novelas e reforçou seu elenco de artistas e jornalistas. A intenção era alcançar a audiência da Rede Globo até 2010. Mas, depois de conseguir a média diária de 8.3 pontos em 2008, o seu Ibope caiu no ano seguinte e mantém-se estagnado na casa dos 7 pontos. Honorilton Gonçalves, bispo responsável pela Record, tenta convencer Macedo a aumentar os repasses. Mas Romualdo Panceiro, o bispo que administra a igreja, é contra. A relação entre os dois dirigentes, que já era tensa, agravou-se com a penhora da sede da Record no Rio. A quarta vara criminal de Justiça do Rio condenou a Universal a pagar 10 milhões de reais em aluguéis atrasados a uma transportadora, dona do terreno onde funcionava um templo. Como o pagamento não foi feito, a sede da TV (que está em nome da igreja) foi penhorada. Se a dívida não for paga em um mês, o prédio irá a leilão.

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