ZERO HORA
Como esperado, o ministro do Turismo pediu demissão do cargo. O pedido de demissão foi a fórmula arnical ou diplomática empregada para chegar ao mesmo resultado sem derramamento de sangue. Mas a revelação de fatos menos airosos ligados ao suposto demissionário revelam que eles prevalecem à solução drástica, aqui o manto diáfano da fantasia, ali a nudez forte da verdade, para servir-me de palavras do velho Eça. De mais a mais, a abundante publicidade que ao longo dos dias desvendou faces do penoso episódio, desnudou a real natureza do problema e, particularmente o fato que se avolumou com a falta de apoio parlamentar, de início simpático ao desventurado auxiliar da senhora presidente da República. Desse modo, pode-se dizer que a demissão ocorreu quando caiu de madura. Creio mesmo que não seria incorreto dizer que a demissão tardou a aparecer nas colunas do Diário Oficial, pois estava lavrada há mais tempo, no seio da opinião pública. Dir-se-á que a senhora presidente foi delicada e paciente ao contemporizar o desfecho e me parece plausível a explicação. Nada de faxina, tudo em água de rosas.
O que parece digno do notar, porém, é que o fato, já agora repetitivo, veio a público não porque o governo ou o Estado o houvesse descoberto, apuradas suas características e equacionada a solução. Ainda uma vez o aparelho estatal foi incompetente ou desleixado, omisso ou complacente, pois a autoridade dele só tomou ciência quando a imprensa assumiu o encargo de fazer o que os serviços oficiais não haviam feito. E isto não é louvável.
Tudo preparado alhures e, só depois de temperado e cozido, foi servido o prato pronto. Compreendo que cada um tem seu estilo, mas amanhã pode gerar situações nada venturosas ao governo. De resto, fica no ar uma pergunta: afinal quem escolhe os ministros e quem os mantém, assim como os trinta e tantos ministérios? Paro aqui, deixando esta melancólica repetição das cenas e passo a assunto mais aprazível.
A circunstância de ter mandado encadernar alguns livros pouco depois de chegar a Porto Alegre, no começo da década de 1940, no Pão dos Pobres, fez com que me afeiçoasse à instituição; ocorre que, somando os três períodos passados em Brasília, foram 20 anos durante os quais as relações tornaram-se mais distantes e, só agora, me dei conta disso; para recuperá-las recorro a estas relembranças. Ele foi fundado em 1895, quando terminada a cruenta revolução de 93-95, com a assinatura da paz em Pelotas, firmada pelo representante do presidente Prudente de Morais, general Galvão de Queiróz, e o velho guerreiro general Joca Tavares; sua finalidade consistia em amparar os órfãos dos mortos da guerra civil; com o tempo, os órfãos cederam lugar a crianças e adolescentes pobres e de risco social. Hoje, cerca de mil jovens por ano passam pelos 10 cursos que funcionam no Pão dos Pobres; seu ensino profissional goza da melhor nomeada; tudo isso foi feito, faz mais de século, praticando a caridade. Laus Deo. O Pão dos Pobres é uma das instituições que honram a nossa terra, pelo bem que lhe tem feito e continua a fazer.
*Jurista, ministro aposentado do STF