FOLHA DE SP - 18/09/11
Luxo mesmo deve ser morar em um país onde se possa andar na rua sem olhar em volta com medo de assalto
Mesmo para quem já possui casa, carro, casa de praia etc., sempre existirão objetos de desejo.
Supondo que você seja uma pessoa normal, sem grandes ambições de quadros valiosos e joias inacreditáveis, quais são as coisas que despertam em você aquela vontade louca de ter e aquele prazer imenso quando consegue? Nesses tempos tão modernos, é difícil saber.
Houve uma época em que as coisas mais banais eram uma festa; uma barra de Toblerone comprada no free-shop enchia de alegria os corações infantis -e os adultos também. Ganhar de presente uma camiseta da Banana Republic ou um cinto da Gap era o suprassumo do prazer, e fazer uma viagem, uma emoção indescritível.
Tudo era raro, e por isso tão especial. Mas agora os Toblerones são vendidos nos sinais de trânsito, e as camisetas importadas, nos camelôs. Teoricamente é ótimo: não é mais preciso viajar para ter um pote de mostarda Dijon na geladeira -lembra a festa que foi quando o salmão defumado virou o frango da classe média alta? Ótimo é, mas a graça mesmo, essa acabou.
Em qualquer lugar do mundo você come exatamente as mesmas coisas e pode comprar a mesma bolsa no Rio, em São Paulo, em Nova York, em Tóquio ou Cingapura, todas rigorosamente iguais; as grifes se banalizaram, o que foi lançado na semana passada em Londres já chegou aqui, e para ter acesso às coisas é apenas uma questão de conta bancária.
Mas apesar de quase tudo ser franqueado, ainda existem coisas especiais, únicas, às quais podemos ter acesso; é só procurar, sem ir atrás das modas.
De um pequeno restaurante que não faz parte de nenhum guia gastronômico a uma artesã de uma pequena cidade no interior de Pernambuco que faz lenços bordados de puro algodão, sem um só fio sintético, com suas iniciais bordadas; esse restaurante nunca vai ter filiais, e essa bordadeira nunca vai vender suas peças para nenhuma cadeia de lojas.
Existem coisas bem além da vã filosofia dos consumidores compulsivos, ávidos para comprar o que foi decretado que é moda.
A banalização deveria ser crime previsto no Código Penal, mas quando surge um restaurante incrível em qualquer lugar do mundo, na semana seguinte caravanas estão se organizando para ir conhecê-lo, só porque ouviram falar.
Nem todos conhecem os endereços onde se encontram coisas que nunca serão popularizadas, mas todos podemos exercer nossa capacidade de sair da mesmice, do comum e da vulgaridade que impera no mundo atual.
No lugar de fazer como todo mundo, pesquise, procure e ache um cinto único, uma camiseta única, um restaurante modesto, no fim de um beco, onde vai comer a melhor comida do mundo e que não está em nenhum guia da moda.
Esses achados -que não são necessariamente caros- são preciosos, porque foi você quem procurou, encontrou, são únicos e só você tem; isso é que eu acho que é o verdadeiro luxo. Achava, aliás.
Hoje eu penso que luxo, luxo mesmo, deve ser morar em um país onde se possa andar na rua sem olhar em volta com medo de ser assaltado, em que se abram os jornais durante uma semana, só uma, sem ler sobre malfeitos, palavra que virou sinônimo de corrupção, escândalo, roubalheira.
Deve ser mesmo muito bom.
PS - É hora de pensar, mais uma vez, na inesquecível pergunta de Eliane Cantanhêde em artigo aqui na Folha: "Afinal, o que é que a baiana e o Sarney têm?"
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
setembro
(254)
- Verdades ofendem - Dora Kramer
- Equação incompleta - Míriam Leitão
- Difícil acordo Merval Pereira
- Insensatez em marcha Rogério Furquim Werneck
- Bandidos de toga Paulo Delgado
- O 28º elemento DORA KRAMER
- O roto e o rasgado CELSO MING
- Crise lá fora não assusta ALBERTO TAMER
- Petrobras no vale MIRIAM LEITÃO
- A guerra do óleo MERVAL PEREIRA
- À sombra de Jabotinsky DEMÉTRIO MAGNOLI
- Prioridades MERVAL PEREIRA
- Drogas: o labirinto LYA LUFT
- Custo da crise MIRIAM LEITÃO
- A aposta do BC e o calote ROLF KUNTZ
- Câmbio ANTONIO DELFIM NETTO
- Muda para ficar como está CELSO MING
- O Brasil de hoje é o Maranhão de 1966 JOSÉ NÊUMANNE
- Reforço de caixa DORA KRAMER
- Nada a ver J.R. Guzzo
- Pouco e tarde MIRIAM LEITÃO
- Socorro aos bancos - Celso Ming
- Reinventar a democracia Merval Pereira
- Intenção e gesto Dora Kramer
- Um poder de costas para o país Marco Antonio Villa
- Quebra de tabus José Paulo Kupfer
- Memória diplomática Rubens Barbosa
- A demografia não espera a política José Pastore
- A classe média tupiniquim Marcelo Côrtes Neri
- Negócio tem,mas é difícil de fazer CARLOS ALBERTO ...
- Longe da verdade RICARDO NOBLAT
- Tudo para salvar o Zé REVISTA VEJA
- A festa dos bodes REVISTA VEJA
- Adeus à ideologia Denis Lerer Fosenfield
- Sobra dinheiro, falta vigilância ENTREVISTA - ROBE...
- Quebrando o tabu da crise SUELY CALDAS
- Risco de desarrumação CELSO MING
- Quando o bicho nos pegou FERREIRA GULLAR
- Semana de frustrações ALBERTO TAMER
- Futuro ameaçado MIRIAM LEITÃO
- Perigosas tentações DANUZA LEÃO
- Lula der Grosse JOÃO UBALDO RIBEIRO
- TCU não assusta ninguém ETHEVALDO SIQUEIRA
- Custos sociais MERVAL PEREIRA
- Silenciando a verdade na Argentina MAC MARGOLIS
- A mãe e o berçário político do país VINICIUS TORR...
- A régua civilizatória GAUDÊNCIO TORQUATO
- Pobreza americana Merval Pereira
- Quebrar ou não quebrar CELSO MING
- Ambiente mutante MIRIAM LEITÃO
- O contrato social PAUL KRUGMAN
- A paz é feminina? RUTH DE AQUINO
- Deu tudo certo e errado VINICIUS TORRES FREIRE
- Uma nova tempestade LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Moeda é vítima de um'efeito batata quente' JOSÉ PA...
- Geleia eleitoral MERVAL PEREIRA
- Solavancos no câmbio CELSO MING
- O custo do salto MIRIAM LEITÃO
- Sarkozy, Obama e Israel GILLES LAPOUGE
- A saúde dos impostos FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Os garotos do Brasil RUY CASTRO
- Política externa de Dilma afasta-se da de Lula só ...
- Revisão de uma realidade ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ
- Nada de novo sob o Sol João Mellão Neto
- Enquanto a bola rola Nelson Motta
- Dia D de DilmaMarco Aurélio Cabral
- As razões para a alta estão mais perto do que se i...
- Dilma faz o que Lula queria CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Mágicas e milagres nos EUA VINÍCIUS TORRES FREIRE
- Revolução educacional - Merval Pereira
- O xarope do Fed Celso Ming
- Em frente ao mundo - Míriam Leitão
- Ah, esse dólar.... Alberto Tamer
- O ruim pelo pior José Serra
- A impostura do impostaço VINICIUS TORRES FREIRE
- Fase perigosa MIRIAM LEITÃO
- O caminho do PSDB MERVAL PEREIRA
- Garantia legal ANTONIO DELFIM NETTO
- Novo conflito no Oriente Médio? ROBERTO ABDENUR
- FMI aprova corte de juros no Brasil ROLF KUNTZ
- O câmbio muda na moita CELSO MING
- Seis por meia dúzia Roberto DaMatta
- Mercado interno, externo ou ambos? Maílson da Nób...
- Veja e Epoca
- A CPMF é vital para a saúde GUILHERME FIUZA
- É muito poder REVISTA VEJA
- Rolos aqui e no exterior REVISTA VEJA
- É preciso preencher a cabeça deles REVISTA VEJA
- A marcha a ré JANIO DE FREITAS
- Aonde vai andar o dólar VINICIUS TORRES FREIRE
- Tarefas inescapáveis MIRIAM LEITÃO
- Operação Twist CELSO MING
- Jogo de pôquer Merval Pereira
- Às ruas! Rodrigo Constantino
- Para mudar o Congresso Luiz Felipe D'Ávila
- Competição nas ferrovias José Luiz Alquéres
- Reinaldo Azevedo
- Em água de rosas - Paulo Brossard
- Um olho aberto RICARDO NOBLAT
- Briga fratricida GEORGE VIDOR
-
▼
setembro
(254)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA