O Globo - 22/09/2011 |
O senador Cristovam Buarque, que marca sua atuação na política brasileira pela defesa da melhoria da educação, tendo ficado conhecido como o candidato "de uma nota só" - coisa que muito o orgulha, aliás - quando se apresentou na disputa pela Presidência da República em 2006, tem uma nova utopia: a ampliação da rede de escolas públicas federais, hoje com cerca de 300 unidades (Pedro II, escolas técnicas, colégios militares, institutos de aplicação).
Elas estão entre as melhores do país, com média melhor do que a das escolas particulares, ao contrário das escolas públicas municipais e estaduais, que estão entre as de mais baixo nível educacional de acordo com o mais recente Enem.
Um fato que gera entusiasmo, ressalta o senador, é ver os resultados das recentes olimpíadas de matemática e, em especial, o desempenho dos alunos das escolas federais. As 300 federais têm a melhor média do Ideb entre todos os segmentos da educação de base.
Ele entregou à ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) uma proposta para federalizar a educação no Brasil em um prazo de algumas décadas, ao mesmo tempo em que se melhorariam as escolas municipais e estaduais, durante o processo de substituição do sistema vigente pelo novo sistema federal.
A proposta, que ele chama de Revolução Republicana na Educação, consiste em levar, com qualidade ampliada, essas 300 escolas a todo o território nacional em 20 anos.
"A História nos dá a chance de sermos líderes da construção desse novo Brasil. Os "Cieps do Brizola" falharam ao focar na unidade escolar e na arquitetura, e não na cidade inteira: nos professores, no conteúdo e nos equipamentos", analisa o senador do PDT.
Ao trocar o enfoque na escola por enfoque na cidade, o projeto levará a uma inflexão da educação brasileira, da simples evolução para uma revolução, aposta Buarque.
Os dois movimentos propostos são: (a) fazer uma revolução em cidades pré-escolhidas, as Cidades com Escola Básica Ideal (Cebi); e (b) avançar na qualidade de todo o Sistema Educacional Vigente (SEV).
Todas as escolas do país seriam melhoradas ao mesmo tempo em que todas as escolas de determinadas cidades sofreriam radical revolução: teriam seus professores selecionados pelo governo federal, com carreira nacional; com salários atraentes, com regime especial de formação e exigências específicas de dedicação; os prédios seriam reconstruídos e receberiam os mais modernos equipamentos pedagógicos; todas as crianças teriam ao menos seis horas/dia de atividade escolar.
O senador ressalta que o resultado seria que, de imediato, o ensino nessas cidades teria a qualidade dos países mais avançados. Ele estima que em um período de cerca de 20 anos, as Cebis poderiam chegar a todo o território nacional.
As cidades seriam escolhidas com base em critérios como: (i) tamanho - cidades de porte pequeno; (ii) História - cidades com alguma tradição educacional; (iii) compromisso - cidades cujos prefeitos e governadores apresentem história de compromisso com a educação e vontade de participar do financiamento dessa Revolução Educacional.
A proposta supõe, no primeiro ano, atender 3,5 milhões de crianças em 200 cidades pré-selecionadas, com população média de 70 mil habitantes, a um custo de R$9 mil por aluno, e custo total de R$40,3 bilhões.
Nesse custo, ressalta o estudo do senador, está incluído o salário da carreira nacional de R$9 mil/mês - equivalente ao salário pago em países como Coreia do Sul, Finlândia e Chile - para 120 mil novos professores, além do custo da nova infraestrutura de ponta associada ao ensino de qualidade.
Também os salários dos professores do SEV seriam aumentados, passando dos atuais R$1.527 para R$4.000, com um novo regime de formação e dedicação e gastos com infraestrutura capazes de disseminar o horário integral em todas as cidades, a um custo adicional de R$118,7 bilhões.
Nos anos posteriores ocorreria a ampliação das Cebis, substituindo a cobertura do SEV até a revolução chegar a todas as cidades, todas as escolas, todas as crianças do Brasil.
Na medida em que aumentam o número de alunos e o custo para as Cebis, o sistema tradicional iria sendo encolhido, até zerar.
O custo da Revolução Republicana na Educação, daqui a 20 anos - no seu último ano de implementação, quando todo o novo sistema de educação básica tiver substituído o sistema tradicional vigente -, será de 6,4% do PIB, assumindo o crescimento do PIB em 3% ao ano nesse período, o que Buarque considera "conservador".
Descontando os gastos atuais com a educação de base (3,04% do PIB), o custo líquido da revolução será de 3,36% do PIB. O custo total dessa revolução (incluindo os gastos com o ensino superior) seria de apenas 7,1% do PIB, "perfeitamente dentro das possibilidades da economia brasileira", na avaliação de Buarque.
O peso dos custos será bastante menor ao longo dos anos, ressalta o senador, se levarmos em conta o impacto da educação sobre a taxa de crescimento do PIB, como também a redução quase automática nos custos dos programas sociais.
"Nossa evolução é mais lenta do que o aumento nas exigências, e a consequência é o aumento na brecha educacional que hoje caracteriza um verdadeiro apagão intelectual, em um país que tem a 7ª economia mundial", adverte o senador.
Para ele, "quando a educação é distribuída desigualmente, ela termina sendo o berço da desigualdade".
Por isso, a continuidade de um Brasil "democrático, justo, eficiente, com presença internacional vai depender de um salto na educação brasileira, como fizeram no passado os países hoje desenvolvidos e países como Coreia do Sul, Irlanda, Espanha, Cingapura e outros que, há poucos anos, estavam atrás do Brasil e hoje nos superam, em muito, na renda per capita, na equidade, na produção de bens de alta tecnologia".
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quinta-feira, setembro 22, 2011
Revolução educacional - Merval Pereira
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
setembro
(254)
- Verdades ofendem - Dora Kramer
- Equação incompleta - Míriam Leitão
- Difícil acordo Merval Pereira
- Insensatez em marcha Rogério Furquim Werneck
- Bandidos de toga Paulo Delgado
- O 28º elemento DORA KRAMER
- O roto e o rasgado CELSO MING
- Crise lá fora não assusta ALBERTO TAMER
- Petrobras no vale MIRIAM LEITÃO
- A guerra do óleo MERVAL PEREIRA
- À sombra de Jabotinsky DEMÉTRIO MAGNOLI
- Prioridades MERVAL PEREIRA
- Drogas: o labirinto LYA LUFT
- Custo da crise MIRIAM LEITÃO
- A aposta do BC e o calote ROLF KUNTZ
- Câmbio ANTONIO DELFIM NETTO
- Muda para ficar como está CELSO MING
- O Brasil de hoje é o Maranhão de 1966 JOSÉ NÊUMANNE
- Reforço de caixa DORA KRAMER
- Nada a ver J.R. Guzzo
- Pouco e tarde MIRIAM LEITÃO
- Socorro aos bancos - Celso Ming
- Reinventar a democracia Merval Pereira
- Intenção e gesto Dora Kramer
- Um poder de costas para o país Marco Antonio Villa
- Quebra de tabus José Paulo Kupfer
- Memória diplomática Rubens Barbosa
- A demografia não espera a política José Pastore
- A classe média tupiniquim Marcelo Côrtes Neri
- Negócio tem,mas é difícil de fazer CARLOS ALBERTO ...
- Longe da verdade RICARDO NOBLAT
- Tudo para salvar o Zé REVISTA VEJA
- A festa dos bodes REVISTA VEJA
- Adeus à ideologia Denis Lerer Fosenfield
- Sobra dinheiro, falta vigilância ENTREVISTA - ROBE...
- Quebrando o tabu da crise SUELY CALDAS
- Risco de desarrumação CELSO MING
- Quando o bicho nos pegou FERREIRA GULLAR
- Semana de frustrações ALBERTO TAMER
- Futuro ameaçado MIRIAM LEITÃO
- Perigosas tentações DANUZA LEÃO
- Lula der Grosse JOÃO UBALDO RIBEIRO
- TCU não assusta ninguém ETHEVALDO SIQUEIRA
- Custos sociais MERVAL PEREIRA
- Silenciando a verdade na Argentina MAC MARGOLIS
- A mãe e o berçário político do país VINICIUS TORR...
- A régua civilizatória GAUDÊNCIO TORQUATO
- Pobreza americana Merval Pereira
- Quebrar ou não quebrar CELSO MING
- Ambiente mutante MIRIAM LEITÃO
- O contrato social PAUL KRUGMAN
- A paz é feminina? RUTH DE AQUINO
- Deu tudo certo e errado VINICIUS TORRES FREIRE
- Uma nova tempestade LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Moeda é vítima de um'efeito batata quente' JOSÉ PA...
- Geleia eleitoral MERVAL PEREIRA
- Solavancos no câmbio CELSO MING
- O custo do salto MIRIAM LEITÃO
- Sarkozy, Obama e Israel GILLES LAPOUGE
- A saúde dos impostos FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Os garotos do Brasil RUY CASTRO
- Política externa de Dilma afasta-se da de Lula só ...
- Revisão de uma realidade ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ
- Nada de novo sob o Sol João Mellão Neto
- Enquanto a bola rola Nelson Motta
- Dia D de DilmaMarco Aurélio Cabral
- As razões para a alta estão mais perto do que se i...
- Dilma faz o que Lula queria CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Mágicas e milagres nos EUA VINÍCIUS TORRES FREIRE
- Revolução educacional - Merval Pereira
- O xarope do Fed Celso Ming
- Em frente ao mundo - Míriam Leitão
- Ah, esse dólar.... Alberto Tamer
- O ruim pelo pior José Serra
- A impostura do impostaço VINICIUS TORRES FREIRE
- Fase perigosa MIRIAM LEITÃO
- O caminho do PSDB MERVAL PEREIRA
- Garantia legal ANTONIO DELFIM NETTO
- Novo conflito no Oriente Médio? ROBERTO ABDENUR
- FMI aprova corte de juros no Brasil ROLF KUNTZ
- O câmbio muda na moita CELSO MING
- Seis por meia dúzia Roberto DaMatta
- Mercado interno, externo ou ambos? Maílson da Nób...
- Veja e Epoca
- A CPMF é vital para a saúde GUILHERME FIUZA
- É muito poder REVISTA VEJA
- Rolos aqui e no exterior REVISTA VEJA
- É preciso preencher a cabeça deles REVISTA VEJA
- A marcha a ré JANIO DE FREITAS
- Aonde vai andar o dólar VINICIUS TORRES FREIRE
- Tarefas inescapáveis MIRIAM LEITÃO
- Operação Twist CELSO MING
- Jogo de pôquer Merval Pereira
- Às ruas! Rodrigo Constantino
- Para mudar o Congresso Luiz Felipe D'Ávila
- Competição nas ferrovias José Luiz Alquéres
- Reinaldo Azevedo
- Em água de rosas - Paulo Brossard
- Um olho aberto RICARDO NOBLAT
- Briga fratricida GEORGE VIDOR
-
▼
setembro
(254)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA