O Globo - 17/09/2011 |
O que se temia está prestes a acontecer: a disputa pelos royalties do petróleo caminha para ser decidida na Justiça, com ambos os lados se armando de pareceres. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) contratou o jurista Célio Borja, ex-membro do Supremo Tribunal Federal, para defender os interesses do Estado do Rio. E o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) considera que a proposta dos estados produtores de aumentar o pagamento das participações especiais por parte das petroleiras fere os contratos já existentes e ameaça também entrar na Justiça, como anunciara o presidente da Petrobras.
O jurista Célio Borja deve entregar seu parecer na próxima semana, mas sua conclusão já está feita: o governo não só tem que manter a divisão dos royalties que está em vigor nos campos já licitados pelo sistema de concessão como tem que manter o mesmo critério nos campos do pré-sal, a serem licitados pelo novo sistema de partilha.
Para Célio Borja, a Constituição distinguiu, em relação à exploração do petróleo e do gás natural, estados produtores e não produtores, e fez isso de maneira tal que a participação e a compensação financeira asseguradas aos estados produtores são "uma cláusula pétrea, porque partilha bens entre os entes federados, o que é da essência do regime federativo que nós adotamos".
Segundo o jurista, quando a Constituição adota, entre muitos regimes federativos, um em especial, que permite que os bens públicos possam ser repartidos entre os entes federados, "essa partilha, como a da competência, por exemplo, é inalterável por norma constitucional posterior".
Indo mais adiante, Célio Borja levanta a tese que a violação dessa partilha "é na verdade uma guerra entre estados membros da União". E, adverte, "é um postulado da própria Federação, qualquer que seja o regime, de qualquer país do mundo, que a Constituição estabelece uma paz perpétua entre os estados, mediante à proibição a todos de fazerem guerra".
O exemplo claro disso, lembra, é a matéria tributária, "quando a Constituição proíbe os Estados de concederem isenções. O Supremo já decidiu, sempre fundado na premissa de que isso constituiria guerra tributária".
A mesma coisa aconteceria, diz Borja, se a maioria dos Estados, no Congresso, mediante lei, atentasse contra a partilha que a Constituição fez. "As decisões do Supremo sempre insistem nisso, que a desobediência a essas limitações importa em guerra fiscal".
Célio Borja diz ainda que no caso do pré-sal, estão fazendo uma distinção entre o petróleo e o gás colhidos nessa nova área de exploração que a Constituição não faz.
A Constituição estabelece que o direito dos estados é aferido pelo produto da exploração, e não diz que é do pré-sal ou fora do pré-sal, ressalta Célio Borja. "Se porventura a lei vier a fazer uma distinção entre o que se produz no pré-sal e o que se produz em outras áreas, para reduzir a participação de estados e municípios produtores, ela está violando a Constituição", garante o jurista.
Já o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Bicombustíveis (IBP), José Carlos de Luca, entende como "um grave equívoco" a proposta dos estados produtores de alterar a participação especial.
Na interpretação dos representantes das petroleiras, embora a lei que regulamentou as participações especiais diga que um decreto definirá as regras, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), quando fez a divulgação do edital das áreas que estava licitando, disse explicitamente que as participações governamentais seriam pagas conforme o montante definido no decreto 2.705 de 1998.
"Isso é parte integrante do contrato, quando as empresas participaram do leilão e assumiram esse compromisso de custos, se comprometeram com base nesse decreto".
Alterá-lo muda as regras do jogo, e quebra os contratos. "Seria lamentável se o governo optasse por ir por esse caminho", diz ele.
Jorge Camargo, consultor da norueguesa Statoil e conselheiro do IBP, diz que na Noruega há um regime diferente do daqui, e acontecem frequentemente mudanças, que são legais.
"Mudanças de legislação acontecem em diversos países, mas o Brasil optou por um modelo que lhe dá uma estabilidade maior, justamente por definir como vai ser a regra do jogo no momento em que você assina o contrato", alega.
A maneira de calcular essa participação, diz ele, é justamente o que permite, quando aumenta muito o preço do petróleo, quando há condições econômicas especiais, que o país também receba esses benefícios. A fórmula foi criada "para capturar para o país hospedeiro os benefícios de uma mudança das condições", comenta Jorge Camargo, dizendo que o Brasil tem um modelo "que permite isso sem mudar a legislação, o que é uma grande vantagem para o investidor de longo prazo".
Para ele, qualquer mudança terá que ser feita para contratos futuros, "porque os existentes já têm as condições muito bem amarradas nos contratos, o que dá uma segurança grande ao investidor".
Em sua opinião, o Brasil tem as vantagens do modelo contratual estável e uma sucessão de governos que, até agora, honraram esses contratos, e "isso é uma conquista do país, que seria lamentável se mudasse agora".
Segundo o presidente do IBP, José Carlos de Luca, a fórmula da participação especial captura o preço médio atual do barril de petróleo e faz com que o país ganhe mais se o preço do barril aumenta.
Ele mostra dados dos anos 2002 e 2010 para exemplificar: no ano de 2002, se pagou de participação especial R$2,51 bilhões e, em 2010, o montante passou para R$11,7 bilhões. O diferencial dá 450% de aumento, enquanto o preço médio do barril aumentou 190% e a produção diária cresceu 40%, comenta de Luca, alegando que "a fórmula da distribuição das participações especiais faz com que as petroleiras paguem mais quando o preço do barril sobe".
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sábado, setembro 17, 2011
No tribunal - Merval Pereira
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
setembro
(254)
- Verdades ofendem - Dora Kramer
- Equação incompleta - Míriam Leitão
- Difícil acordo Merval Pereira
- Insensatez em marcha Rogério Furquim Werneck
- Bandidos de toga Paulo Delgado
- O 28º elemento DORA KRAMER
- O roto e o rasgado CELSO MING
- Crise lá fora não assusta ALBERTO TAMER
- Petrobras no vale MIRIAM LEITÃO
- A guerra do óleo MERVAL PEREIRA
- À sombra de Jabotinsky DEMÉTRIO MAGNOLI
- Prioridades MERVAL PEREIRA
- Drogas: o labirinto LYA LUFT
- Custo da crise MIRIAM LEITÃO
- A aposta do BC e o calote ROLF KUNTZ
- Câmbio ANTONIO DELFIM NETTO
- Muda para ficar como está CELSO MING
- O Brasil de hoje é o Maranhão de 1966 JOSÉ NÊUMANNE
- Reforço de caixa DORA KRAMER
- Nada a ver J.R. Guzzo
- Pouco e tarde MIRIAM LEITÃO
- Socorro aos bancos - Celso Ming
- Reinventar a democracia Merval Pereira
- Intenção e gesto Dora Kramer
- Um poder de costas para o país Marco Antonio Villa
- Quebra de tabus José Paulo Kupfer
- Memória diplomática Rubens Barbosa
- A demografia não espera a política José Pastore
- A classe média tupiniquim Marcelo Côrtes Neri
- Negócio tem,mas é difícil de fazer CARLOS ALBERTO ...
- Longe da verdade RICARDO NOBLAT
- Tudo para salvar o Zé REVISTA VEJA
- A festa dos bodes REVISTA VEJA
- Adeus à ideologia Denis Lerer Fosenfield
- Sobra dinheiro, falta vigilância ENTREVISTA - ROBE...
- Quebrando o tabu da crise SUELY CALDAS
- Risco de desarrumação CELSO MING
- Quando o bicho nos pegou FERREIRA GULLAR
- Semana de frustrações ALBERTO TAMER
- Futuro ameaçado MIRIAM LEITÃO
- Perigosas tentações DANUZA LEÃO
- Lula der Grosse JOÃO UBALDO RIBEIRO
- TCU não assusta ninguém ETHEVALDO SIQUEIRA
- Custos sociais MERVAL PEREIRA
- Silenciando a verdade na Argentina MAC MARGOLIS
- A mãe e o berçário político do país VINICIUS TORR...
- A régua civilizatória GAUDÊNCIO TORQUATO
- Pobreza americana Merval Pereira
- Quebrar ou não quebrar CELSO MING
- Ambiente mutante MIRIAM LEITÃO
- O contrato social PAUL KRUGMAN
- A paz é feminina? RUTH DE AQUINO
- Deu tudo certo e errado VINICIUS TORRES FREIRE
- Uma nova tempestade LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Moeda é vítima de um'efeito batata quente' JOSÉ PA...
- Geleia eleitoral MERVAL PEREIRA
- Solavancos no câmbio CELSO MING
- O custo do salto MIRIAM LEITÃO
- Sarkozy, Obama e Israel GILLES LAPOUGE
- A saúde dos impostos FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Os garotos do Brasil RUY CASTRO
- Política externa de Dilma afasta-se da de Lula só ...
- Revisão de uma realidade ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ
- Nada de novo sob o Sol João Mellão Neto
- Enquanto a bola rola Nelson Motta
- Dia D de DilmaMarco Aurélio Cabral
- As razões para a alta estão mais perto do que se i...
- Dilma faz o que Lula queria CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Mágicas e milagres nos EUA VINÍCIUS TORRES FREIRE
- Revolução educacional - Merval Pereira
- O xarope do Fed Celso Ming
- Em frente ao mundo - Míriam Leitão
- Ah, esse dólar.... Alberto Tamer
- O ruim pelo pior José Serra
- A impostura do impostaço VINICIUS TORRES FREIRE
- Fase perigosa MIRIAM LEITÃO
- O caminho do PSDB MERVAL PEREIRA
- Garantia legal ANTONIO DELFIM NETTO
- Novo conflito no Oriente Médio? ROBERTO ABDENUR
- FMI aprova corte de juros no Brasil ROLF KUNTZ
- O câmbio muda na moita CELSO MING
- Seis por meia dúzia Roberto DaMatta
- Mercado interno, externo ou ambos? Maílson da Nób...
- Veja e Epoca
- A CPMF é vital para a saúde GUILHERME FIUZA
- É muito poder REVISTA VEJA
- Rolos aqui e no exterior REVISTA VEJA
- É preciso preencher a cabeça deles REVISTA VEJA
- A marcha a ré JANIO DE FREITAS
- Aonde vai andar o dólar VINICIUS TORRES FREIRE
- Tarefas inescapáveis MIRIAM LEITÃO
- Operação Twist CELSO MING
- Jogo de pôquer Merval Pereira
- Às ruas! Rodrigo Constantino
- Para mudar o Congresso Luiz Felipe D'Ávila
- Competição nas ferrovias José Luiz Alquéres
- Reinaldo Azevedo
- Em água de rosas - Paulo Brossard
- Um olho aberto RICARDO NOBLAT
- Briga fratricida GEORGE VIDOR
-
▼
setembro
(254)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA