O ESTADÃO - 29/09/11
Não havia ontem sinais mais firmes de que a Eurozona está decidida a adotar medidas ousadas para superar a crise que já dura 20 meses.
Falava-se em um "novo plano", o que aliviou um pouco as tensões, mas apenas por algumas horas. Ninguém se dispõem a assumir prejuízos.
Nem os governos,nem o Banco Central Europeu e nem o FMI que, já disse, tem apenas US$ 384 bilhões de reservas, quase nada diante da necessidade de socorro estimado em mais de US$ 2 trilhões.
A impressão nesta semana era de que a crise externa pode piorar antes de ser superada.
É esse o cenário que não deve se alterar nos próximos meses ou mesmo em 2012. A Europa acordou e diz que vai agir para enfrentar a crise na Eurozona.Foi isso o que os ministros das Finanças sinalizaram ontem, após terem sido pressionados pelo FMI e pelo secretário de Tesouro dos EUA na semana passada.
Crise que se arrasta. As soluções já foram mais do que apontadas pelo FMI-capitalização e liquidez no sistema financeiro europeu - e continuam em promessas que se adiam.Hoje,os ministérios estarão reunidos, mas já se fala que as discussões finais ficariam para outro encontro,marcado para 13 e 14 de outubro e isso dependendo da aprovação ainda duvidosa dos respectivos parlamentos.
Ontem, parecia distante a emissão de euro bonds para assimilar a dívida dos países da Eurozona.
"Não há saída simples e tranquila para o problema da dívida da Eurozona. O debate se volta agora de quanto deve ser o aumento do fundo de reservas e o que estamos vendo é uma perspectiva mais positiva", afirmou ontem o estrategista-chefe do HSBC,Peter Sulivan,menos pessimista, mas cauteloso.
Brasil se antecipou. O Brasil já previa isso e se antecipou a um agravamento das tensões externas, que se acentuam com a inacreditável indecisão na Europa e a dificuldade do governo americano em implementar um plano de crescimento econômico. O presidente do Banco Central esteve na Comissão de Assuntos Econômicos, do Senado, e foi muito claro em sua exposição. A situação externa se deteriorou nos últimos dias, mas não surpreendeu porque os sinais de agravamento dos problemas da economia global eram evidentes.
As maiores economias,inclusive a da China, vão desacelerar mais este ano e não se espera que isso se altere nos primeiros meses do próximo ano.
Esse cenário já constava na última ata do Copom, o que levou o Copom a reduzir o juro básico no dia 31 de agosto. Pode-se dizer que foi uma espécie de" administração de expectativas", que está dando certo.Mas tem a inflação...
Equem tem medo dela?O Banco Central Europeu entrou em "crise existencial" quando os preços aumentaram 2,5%. Uma tragédia! Antes a estagnação atual e a recessão do que a inflação acima da meta de 2% fixada pelo banco.
O Brasil preferiu administrá-la.
Reconhece os riscos,mas decidiu que a prioridade é não crescermenosqueos0,8% do último trimestre, afastando o risco de recessão. Mesmo assim, o PIB brasileiro não para de recuar e o governo terá de fazer um grande esforço para que chegue a 3,7%.
O presidente do BC destinou uma boa parte da sua exposição aos senadores para dizer que a inflação não está fora de controle.
Há chance de que não supere a meta de 6,5% este ano, apesar de estarem7,3% em doze meses, já que deve recuar 1 ponto porcentual nos próximos meses.
O presidente do BC comentou os resultados dos últimos meses. De maio a setembro, o aumento médio dos preços medidos pelo IPCA do IBGE foi de 0,34%. É menor que a média de0, 77% no período de setembro de 2010 a abril de 2011. As pressões inflacionárias internas e externas são menores porque a economia brasileira está crescendo menos e o mundo vai continuar a desacelerar.
A inflação pode bater no tetode6,5% este ano,mas tende a recuar em 2012, mesmo não contando mais com o auxilio de um dólar desvalorizado.
Pode haver novos desafios, um aumento excessivo, mas pouco provável das commodities nesse cenário mundial recessivo.
Mas, para a equipe econômica e a maioria dos analistas, a inflação não fugiu do controle e não é, no momento, o maior risco.
E isso mesmo que passe do teto por alguns meses. Um IPCA de uns pontos porcentuais de 6,5% não é uma tragédia.
Tragédia é o que eles estão vivendo lá fora.