O GLOBO - 12/06/11
A presidente Dilma Rousseff terminou a semana passada instalada com um triunvirato de mulheres em postos-chave. Ela própria, eleita pelos milhões de votos que teve; a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e agora a ministra da articulação política, Ideli Salvatti. Ideli não há de ter sido escolhida por suas desconhecidas habilidades de negociadora.Não nego que, por um momento, penso que é bom ver tanta mulher poderosa, numa política sempre tão masculina. Certamente a escolha não foi por gênero, mas pela avaliação da presidente sobre as qualidades que vê nas escolhidas. ; é a presidente. E os cargos são dela, pode trocar, nomear ou pescá-los onde bem entender.
Ideli Salvatti teria sido escolhida porque costuma defender o governo "com unhas e dentes". O problema são exatamente as unhas e os dentes. O cargo talvez exigisse alguém menos espinhoso. Para uma presidente que jamais experimentou a política parlamentar, que demonstrou em cinco meses pouca aptidão para o jogo da construção da coalizão e cujo governo entrou em crise na largada, esse cargo é estratégico.
Há articuladores que cuidam de um certo varejo, enquanto grandes articulações para aprovação dos projetos de interesse do governo são comandadas pelo próprio dono da cadeira de presidente. Mas no governo Dilma, o ministro - agora a ministra - terá mais responsabilidades. Nos primeiros meses a atuação foi em dupla. Casa Civil e Relações Institucionais atuaram em conjunto. Não funcionou, como se viu, mas é difícil tirar da Casa Civil as atribuições políticas naturais; principalmente num período em que o cargo será ocupado por uma política e não uma pessoa técnica.
, mas é arriscado. Convidar para um cargo que exige capacidade de convencimento, habilidade e negociação uma pessoa que nunca foi conhecida por estes atributos pode ter o efeito oposto ao desejado. Levar para o ministério mais poderoso uma pessoa que desembarcou em Brasília numa carreira e mandato iniciais pode ser o caminho para tropeços adiante. A ministra Gleisi Hoffmann teve uma única boa experiência em gestão empresarial, mas num cargo que galgou por indicação política. Em outro cargo administrativo, como secretária estadual, teve presença breve.
O governo entrou na última semana em grave crise e terminou em dúvida. As rebeliões, ora do PT, ora do PMDB, vão continuar a cada votação. A presidente que montou um ministério à imagem e semelhança do seu antecessor, e benfeitor, agora parece estar fazendo escolhas mais pessoais. A conformação do governo mostra que a presidente Dilma decidiu assumir alguns riscos. Para que dê certo ela precisa se envolver mais com dois fronts: a gestão e a articulação.
O eleitor de Dilma Rousseff não achava que estava votando num ás na política e até poderia prever alguns impasses no Congresso. O país escolheu uma especialista em fazer o governo funcionar, já que é assim que ela foi apresentada na campanha. O problema é ter impasses no Congresso, como previsto, e o governo empacado, como não se previa. Os projetos estão parados; os prazos, se esgotando; o melhor momento, passando; tudo permanece emperrado e parecendo meio à deriva.
O conflito na base não é apenas a tradicional briga entre PT e PMDB. É a confusão completa, como se viu várias vezes nos últimos episódios. O desarticulado ministro Luiz Sérgio nem havia caído e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, candidamente ou não, já tentava pescar o cargo para ele mesmo.
Enquanto continua a voracidade por cargos que produz brigas autofágicas no partido da presidente e manobras radicais do partido do vice-presidente, as notícias são de lentidão em qualquer área. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, anunciou mais uma vez internet rápida para todos. Anúncio já feito inúmeras vezes antes e que nunca vira realidade. O Fundo de Universalização das Telecomunicações tem bilhões de reais herdados do remoto governo Fernando Henrique que poderiam ter sido usados para o programa de tornar o acesso mais rápido e mais fácil à internet banda larga. Não se entende porque o governo permanece tão desconectado. O Ministério da Educação só aparece na imprensa por seus livros deseducativos. O Ministério das Relações Exteriores mostra que foi uma miragem do deserto a ideia de que com o novo governo atualizaria a diplomacia. O que se depreende das palavras da ministra Izabella Teixeira é que sob sua administração o Ministério do Meio Ambiente decidiu trocar o sustentável pelo robusto, como adjetivo para licenças e projetos.
O ministro da Fazenda acena com a negociação de uma reforma que tentará desonerar a folha salarial, mas ainda não revelou como fará para não perder arrecadação. Diz que vai conversar com os setores. E os setores já começam a disputa para saber quem fica com a batata quente. A indústria se prepara para dizer que o varejo deveria pagar mais; o varejo teme ser de novo o escolhido para pagar a conta. De concreto e palpável o que se sabe até agora da reforma tributária em fatias do Ministério da Fazenda é quase nada. E isso é tudo. Nada mais parece funcionar no mamútico Ministério que já tem cadeiras para 38 senhores ministros e senhoras ministras.
Sim, a presidente pode nomear as pessoas que achar adequadas para os cargos que escolher; o que ela não pode é não governar. Seu projeto tem que ficar mais claro; as decisões, mais céleres; a orientação, mais precisa. O mandato passa voando e é no começo que os governos são mais fortes. É quando eles podem mais