Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 12, 2011

Sexta-feira sombria lá fora Alberto Tamer


O Estado de S Paulo
Sim, foi uma sexta-feira sombria no mercado financeiro internacional, com as bolsas americanas e europeias caindo aos níveis mais baixos desde março. Seis semanas consecutivas de recuo com o Dow Jones fechando em menos de12 mil pontos na maior queda desde agosto de 2010. São indicadores que, isolados, não deveriam preocupar muito porque a queda da bolsa se deve em parte ao anúncio da Arábia Saudita de que não seguirá a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e aumentará sua produção de petróleo, o que afetou os investidores que apostavam numa alta superior a US$ 118 o barril. Mas não foi só a bolsa. Outros indicadores divulgados também na semana refletem grande pessimismo com o futuro da economia mundial. O Wall Street Journal não hesitou em falar em "angústia" sobre a recuperação.
Zona do euro incerta. Na zona do euro, a crise grega ganha novo ímpeto, agora num confronto público entre o Banco Central Europeu e a Alemanha, enquanto o FMI espera uma decisão. Nos Estados Unidos, só desânimo que nem o falso otimismo de Ben Bernanke conseguiu superar. Ele afirmou na quarta-feira que a economia americana vai retomar o crescimento no segundo semestre, mas ninguém acreditou. O mercado esperava um sinal de Bernanke de novas medidas de estímulo financeiro, que não veio. O fato marcante é que as grandes empresas se recusam a atender aos estímulos do governo para que voltem a investir. A ideia, em análise em Washington, é deixá-las de lado e voltar-se para as novas, pois estudos recentes mostram que 20% do PIB americano são gerados por empresas com menos de 5 anos de vida.

E agora a China. As notícias da China na sexta-feira também não ajudaram. O governo informou que as exportações em maio aumentaram apenas 19,4%, muito abaixo dos quase 30% do mês anterior. Isso se deve principalmente ao forte recuo das vendas para os Estados Unidos e a Europa, que caíram ao menor nível desde 2009.

Todos os sinais da semana passada são de que a economia chinesa começa a desacelerar, como quer o governo. Está preocupado com a inflação de 5,8%, que tende a se agravar com a previsão de alta das commodities agrícolas.

Levantamento mundial de safra divulgado na quinta-feira pelo governo americano informa que a safra de grãos, trigo, milho e soja recuará 2,26 bilhões de toneladas, 0,4% menos que a anterior. E a China, grande importadora de alimentos, deverá adotar medidas ainda mais fortes para administrar a demanda interna e a pressão sobre os preços.

Brasil menos grave. É o mesmo desafio que o Brasil enfrenta com menos intensidade. A inflação também é prioridade aqui. O Banco Central aumentou novamente os juros, sinalizando que pode elevar ainda mais, e a economia desacelera gradualmente. A diferença é que o Brasil não tem 1,3 bilhão de habitantes para alimentar.

Opep engraçada. E neste cenário de incerteza a Opep, que nesta semana chegou a acordo para aumentar a produção e conter a alta dos preços , informou que pode faltar petróleo no segundo semestre. Em seu relatório mensal, a secretaria-geral da Opep prevê que a demanda média deve aumentar para 30,8 milhões de barris por dia e a oferta, apenas 28,7 milhões.

E não se acanha em dizer, textualmente: "Olhando para o resto deste ano, esperamos que a oferta e a demanda ficará apertada. E, como resultado, os estoques podem continuar caindo quando o mercado entrar num período sazonal de aumento da demanda." Ou seja, oficialmente, a Opep fracionada do Irã e da Venezuela, admite que vai fazer tudo para que os preços aumentem e passem de US$ 120 se a Arábia Saudita deixar...

Ainda bem que a Opep está fracionada. A Arábia Saudita rejeitou essa política a anunciou que vai aumentar a produção a partir de julho, para suprir o que os outros deixarem de produzir. Não quer prejudicar ainda mais a ameaçada recuperação econômica da China, do Japão e do mundo ocidental, que absorvem o único produto que tem para vender: petróleo.

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