A Guiné Equatorial é um pequeno pedaço da África negra que fica abaixo
de Camarões, com pouco mais de 1 milhão de habitantes. Lá, Teodoro
Obiang reina há 35 anos. Seu filho, que também se chama Teodoro
Obiang, é ministro das Florestas. Sua paixão são os carros. Em
novembro de 2009, ele adquiriu um lote deles: sete Ferraris, quatro
Mercedes Benz, cinco Bentleys, quatro Rolls-Royces, duas Bugattis, um
Aston Martin, um Porsche, um Lamborghini e uma Maserati. Em 2010,
completou a série comprando mais uma Ferrari e uma Bugatti (avaliada
entre 1,5 e 2 milhões).
Essas canalhices relatadas pelo jornal Le Monde se tornaram conhecidas
graças a um inquérito aberto por dois juízes de Paris, envolvendo uma
queixa apresentada em 2008 pela Transparência Internacional. No
entanto, a "transparência" tem chances de continuar opaca.
Os dois juízes, para dar prosseguimento ao inquérito, precisavam do
aval do Executivo francês, ou seja, de Nicolas Sarkozy. Eles tinham
alguma esperança, porque Sarkozy, depois de deixar seus aliados caírem
- os ditadores Zine El Abidine Ben Ali, na Tunísia, Hosni Mubarak, no
Egito, e Muamar Kadafi, na Líbia -, tornou-se o grande defensor da
moralidade na África e prega agora os méritos da "boa governança". Mas
o Ministério Público francês rejeitou o pedido dos dois juízes. Os
carros de Teodoro Obiang podem repousar tranquilos.
Dois outros tiranos da África negra estavam também na mira dos juízes
parisienses. Denis Sassou Nguesso, presidente da República do Congo,
cuja esposa acabou de adquirir uma Mercedes e o sobrinho comprou um
Porsche Panamá Turbo. E Ali Bongo, novo líder do Gabão, que assumiu o
poder depois da morte de seu pai, Omar Bongo, e recentemente comprou
uma Bentley de 2,5 toneladas que pode fazer 322 quilômetros por hora
(preço: 200 mil).
Esses carros não são as únicas fraquezas desse pessoal. Teodoro
Obiang, por exemplo, em um ano, gastou 18 milhões em objetos de arte,
podendo, assim, mobiliar as seis residências que possui em Malibu e em
outros lugares. Os dois juízes merecem aplauso, porque esses corruptos
são profissionais e muito espertos para despistar os detetives.
Um exemplo: Omar Bongo, do Gabão, tinha 54 filhos, 2 mulheres e 32
amantes. Imagine a confusão que tem sido a herança, na qual trabalha
em Nice um cartório inteiro, em uma tarefa que não tem fim.
Não podemos compreender a cegueira de Sarkozy, que há três meses tem
se apresentado como o "cavaleiro imaculado" que passou a detestar seus
antigos amigos do Magreb e os tiranos corruptos da África negra. Ele
não apenas se cala a respeito do assunto, como também pediu ao
Ministério Público para bloquear os inquéritos conduzidos pelos dois
juízes. /TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
É CORRESPONDENTE EM PARIS