O Globo - 03/06/2011
Uma palavra entrou em moda no vocabulário político de Brasília nestes últimos dias: blindagem. Em seu sentido genérico, refere-se à proteção de alguma coisa contra o risco de destruição, sendo implícito que, sem uma defesa especial, reforçada, a dita coisa vai para o beleléu.
É curioso e sugestivo que a expressão esteja sendo usada em relação à reputação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. A tropa política do governo está mobilizada para impedir que ele tenha de explicar pessoalmente à Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados o aumento - considerado substancial - de seu patrimônio pessoal nos últimos quatro anos.
Como ele dedicou boa parte desse tempo a servir ao seu partido e ao governo Lula, com os vencimentos modestos que a República reserva para os seus mais destacados servidores, pode-se deduzir que os deputados que desejam ouvi-lo desconfiam de enriquecimento ilícito. Essa expressão não está sendo usada por qualquer um deles, mas não há ingênuos em Brasília. Oficialmente, o ministro será ouvido pela Comissão de Agricultura porque nos últimos anos deu consultoria na área do agronegócio.
Num dado importante, Palocci talvez não escape ao depoimento simplesmente porque deputados da oposição dormiram no ponto. Tinham número suficiente na comissão para impedir a convocação, mas não o fizeram. Acordaram logo depois e agora dependem de um recurso ao presidente da Câmara, o petista Marco Maia. Ele anunciará na semana que vem se mantém ou não a convocação.
Seja qual for a decisão, o prejuízo político para o governo de Dilma Rousseff está evidente. Mesmo que o ministro se livre da sabatina na Câmara, deu-se à oposição e a uma considerável fatia da opinião pública o direito a uma pergunta: por que é tão importante para o governo impedir que Palocci seja sabatinado por deputados? Se ele pode provar que enriqueceu legitimamente, deveria estar contente com a possibilidade de deixar isso claro para o Congresso e a opinião pública. Se não pode, azar o seu.
De qualquer maneira, ficará na memória da opinião pública o desespero das forças governistas ante a possibilidade de que um dos mais importantes ministros seja levado a explicar abertamente os meios e modos de seu enriquecimento pessoal nestes anos em que seu partido tem estado no poder. Ou que só venha a escapar da prestação de contas porque a blindagem funcionou.