Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 07, 2011

Nem um dia mais JANIO DE FREITAS

FOLHA DE S PAULO

LULA É ESPERADO hoje em Brasília. O único lugar onde não deveria se mostrar hoje e nos próximos dias.

Caso Dilma Rousseff se decida pelo afastamento de Antonio Palocci, por sua ida a Brasília Lula ficará, para todos os efeitos, com o crédito de romper o imobilismo da presidente. Ainda que o afastamento contrarie a sua opinião. Se Dilma Rousseff mantiver Palocci apesar de tudo, ficará, para todos os efeitos, como submissa à vontade de Lula, não importa qual seja a sua.

A presença de Lula só pode diminuir Dilma. Por melhor que possa ser sua intenção, é assim desde a primeira aparição em Brasília "para solucionar" as tensões, que, aliás, só mudaram nas aparências e muito pouco. Já as frequentes notícias dos telefonemas entre ambos desserviam a Dilma, efeito que, por si só, informa não partirem dessa ponta da linha os presentes das notinhas aos jornais.
É presumível que a situação Palocci até motive menos a prevista ida de Lula do que o problema da substituição. Não muda nada no ônus para Dilma. Mas faz um acréscimo com duas faces.

A primeira é não haver muito o que escolher para a eventualidade da substituição. Se Dilma quiser, como parece indispensável, uma pessoa com habilidade e vivência políticas, respeitado nesse meio e nos meios de comunicação, e com capacidade técnica e operacional em sua equipe, é improvável haver escolha prioritária ao ministro Paulo Bernardo. Fernando Pimentel arranhou-se, na semana passada, com a presença em um problema judicial coletivo. De fora da equipe, Patrus Ananias poderia ser uma alternativa. Se a preferência for por habilitação apenas técnica, a lista é farta.

O outro aspecto da relação de Lula com um possível substituto de Palocci é o seu complacente nível de exigências para as escolhas, como provam a coordenação eleitoral e o atual cargo dados ao próprio Palocci, personagem mais ilustre daquela casa de lobismo assemelhada à de Ali Babá. Sem falar em outras figuras do seu governo e nos indicados para o atual, além de Palocci.

Por isso mesmo, Lula não é alheio às responsabilidades pelo problema criado e agigantado por Antonio Palocci, com o alto custo já debitado a Dilma.

Conhecedor, como nenhum outro jornalista, da intimidade do círculo de Lula e das eminências do PT -e digno- Ricardo Kotscho opinava há poucos dias na internet: "Dilma tem mais é que se livrar, o mais rápido possível, de todas as amarras que a impedem de dar início ao seu próprio governo com a equipe que ela mesma escolher". Livrar-se, amarras, impedimento, escolha própria -cinco palavras para qualquer um entender tudo.

Além disso, por mim há muito pouco a dizer: ainda que Antonio Palocci comprovasse a lisura de todos os seus milhões -mera conjectura, é claro- e mesmo que permaneça no governo por anos, não tem condições morais para continuar nem por um dia mais. Pelo mal gratuito que causou ao início promissor do governo e, portanto, ao país.

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