FOLHA DE SÃO PAULO - 02/06/11
Ainda que convencida da inocência de Palocci, Dilma deveria afastá-lo pelo menos até que ele se explique
ANTONIO PALOCCI não parou de receber. Sejam quais forem os pagadores de sua lista milionária, admitindo-se que exista, nela ninguém enfrentou conta mais alta do que o preço que Dilma Rousseff está pagando pelos feitos do seu ministro. Nesse sentido, a convocação de Palocci pela Comissão de Agricultura da Câmara, dê no que quer, é derrota maior para a presidente do que para o fugidio convocado.
Além de ter um ministro palaciano sob o cerco de suspeitas graves, Dilma Rousseff lançou a acobertá- lo outros ministros e seus congressistas mais dispostos a qualquer atitude. Comprometeu o governo, como se o ministro, e não a presidente, o representasse, e nega-se ao descumprir o dever presidencial a que se referiu no discurso de posse: nenhuma tolerância com irregularidades.
Ainda que convencida da inocência de Palocci, o dever e a palavra de Dilma Rousseff obrigavam-na a afastá-lo do governo pelo menos até que, se capaz de explicar-se, a limpidez do dito consultor ficasse demonstrada de público ou à instância institucional apropriada.
Assim fez, sem drama e sem demora, o então presidente Itamar Franco com seu também ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, que em pouco voltou ao cargo levado pela inocentação. Os antecedentes de Palocci não autorizam a supor que chegasse ao mesmo final do antecessor distante, mas os desdobramentos seriam assunto seu. Não do governo, de Dilma Rousseff e dos cidadãos que a apoiam ou apoiaram.
Pode-se ter uma ideia do desvio de atitude presidencial, na proteção a Palocci sem cobrar-lhe a clareza devida, ao considerar a hipótese da descoberta de que êxito financeiro valeu-se de incorreções.
Mais tarde ou mais cedo, de um ou de outro modo, o fundamental será mesmo conhecido. Se negativo para Palocci, o efeito sobre o governo e sobre Dilma Rousseff, como presidente e como pessoa, é imprevisível.
Não se precisa ir tão longe, porém, para perceber o custo já vencido e em pagamento diário. Não por Palocci, que não teria as enrascadas de ontem e de hoje se não tivesse temperamento para tanto.
O modo como a bancada evangélica dispôs-se a arrancar de Dilma a recusa ao projeto contra a homofobia é um dos exemplos que se juntam à derrota, na Câmara, que lhe impuseram com o Código Florestal e a anistia aos grandes fazendeiros desmatadores. Sem sair da mesma corrente, o modo debochado como o deputado Anthony Garotinho proclama novas chantagens evangélicas à presidente da República mostra até onde já chega o custo Palocci para Dilma.
Sob tudo isso há uma indagação de resposta muito mais obscura do que os milhões paloccianos. A atitude de Dilma Rousseff em relação a Palocci é tão contraditória com o que dela se sabia e se ouviu, que não é possível simplesmente desprezar a hipótese de que a permanência do ministro, apesar de tudo, deva-se a quem quis restaurá-lo à custa da sucessora na Presidência. Quanto a permanência representa de vontade da própria Dilma Rousseff ou de seus entendimentos desconhecidos com Lula, não há indício ou ideia que nem sequer permita especulação razoável.
Em um ou em outro caso, no entanto, o ônus pesado é de Dilma Rousseff.