FOLHA DE SÃO PAULO - 13/02/11
Dá para amar sem ter ciúmes? Meu gato, Haroldo, está sofrendo, desde que trouxe um gatinho novo
SE VOCÊ, que se pretende uma mulher intuitiva, acha que seu namorado está aprontando, pode ter certeza: ele deve estar mesmo. Mas cuidado: você pode também estar totalmente enganada.
Dizem que a intuição não falha e que os que têm esse dom devem confiar mais nele; e há quem diga que isso não existe e que é a experiência de vida que nos faz captar quando algo não muito claro está acontecendo. As mulheres acham que captam no ar, antes mesmo que as coisas aconteçam, e quando -e se- acontecem, acreditam, mais que nunca, que são intuitivas.
Já reparou que nunca se ouviu falar em intuição masculina? Já a delas é famosa. Quando uma mulher apaixonada está numa festa, e entra um tipo de mulher que pode balançar o coração do homem que ela ama, começa a ciumeira, antes mesmo que ele a veja.
Pode não acontecer nada, em nome da civilidade, dos bons costumes, sobretudo da falta de oportunidade. Mas se mesmo assim ela faz uma cena de ciúmes, é chamada de louca, e até com uma certa razão: mulheres ciumentas são mesmo um pouco loucas.
Eu conheço uma que não vai com o marido ao cinema, quando o filme é com determinada atriz, porque sabe que ele vai desejá-la -muito saudável da parte dela, aliás. Ele não verá jamais essa atriz a não ser na tela, a possibilidade de se conhecerem é uma em 1 trilhão, mas existe alguma coisa pior do que o homem que se ama desejar outra mulher? É uma traição, tão grave quanto uma de verdade, e só as mulheres que amam entendem isso.
Dá para amar sem ter ciúmes? Não me consta. Meu gato, Haroldo, está sofrendo, desde que trouxe um gatinho novo para casa; ele não chega mais perto de mim, e vive escondido pela casa. Fui aconselhada a abraçá-lo e a fazer muitas declarações de amor no seu ouvido, bem baixinho, para que seus ciúmes passem, mas estamos vivendo uma grande crise de relacionamento, devido à minha traição. Ele está coberto de razão.
Nas regiões mais remotas existem sábios, sempre pessoas muito idosas, que pelo soprar do vento sabem se vai chover, que às primeiras palavras que ouvem acreditam ou não no que estão ouvindo, e sabem, num olhar, em quem podem ou não confiar. Alguns já viveram tantas coisas que, num grupo desconhecido, percebem quem está interessado em quem e até se a história vai ou não rolar. Serão elas adivinhas? Não; têm apenas experiência de vida, e mais: têm o dom da percepção. Lamentavelmente, vírus não transmissíveis.
Continua a dúvida: é intuição ou experiência olhar e sacar se uma pessoa está doente, triste, deprimida, ou bem com a vida?
Um bom médico que possua esse dom terá muito mais chances de curar seu paciente do que aquele que fez todos os estudos em todos os países. Tenho perguntado sobre isso a amigos inteligentes, mas cada um tem lá suas opiniões, e alguns dizem que além da intuição e da experiência, é preciso ser muito atento. Mesmo concordando com todos, ainda não cheguei a uma conclusão definitiva.
Mas qualquer cachorro vira-lata sabe quem gosta dele; então, não é experiência de vida, é intuição -ou faro, se você preferir.
Entrevista:O Estado inteligente
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