O Estado de S. Paulo - 24/02/2011
As tensões no mercado mundial de petróleo aumentaram ontem com a crise na Líbia e o anúncio das empresas de reduzirem a produção no pais. A cotação do Brent, usado como base de avaliação do mercado, chegou a US$ 111 no meio da tarde, recuando depois para US$ 105, num movimento puramente especulativo.
A questão não é bem saber quanto mas até "quando" os preços podem aumentar. Se forem meses de alta, haverá pressão sobre os preços dos combustíveis, o que vai reduzir o poder de compra de consumidores e pressionar a inflação. Isso pode ser mais grave nos EUA e na Europa, que não podem subsidiar os consumidores; menos na China, que tem reservas.
No Brasil, a Petrobrás não precisa repassar a alta dos preços em curto prazo. Tem flexibilidade para compensar com produção interna e vendas de petróleo e derivados produzidos no exterior, formando um mix que atenua os efeitos da alta dos preços internacionais.
O presidente da empresa, Sérgio Gabrielli afirmou na terça-feira que o aumento atual é especulativo, "sem fundamentos que justifiquem uma tendência permanente de alta". Haverá ainda intensa volatilidade nos próximos meses, mas ele não acredita que as crises na África e do Oriente Médio possam ter "impacto duradouro e significativo na produção mundial".
Até quanto e até quando. Mesmo assim, a pergunta persiste: até quanto e até quando os preços continuarão ultrapassando US$ 100? Podem chegar de novo aos US$ 145 de 2008? Mais ainda, quais as consequências sobre a recuperação econômica mundial?
O primeiro fato a considerar é que a alta não está sendo provocada pela falta de petróleo. A produção atual, basicamente concentrada nos países da Opep, é de 87 milhões de barris por dia, e a demanda, de 85 milhões. Há ainda as reservas nos países consumidores, de 1,6 bilhão de barris, ao contrário do que ocorreu em 2008. Além disso, os países da Opep, principalmente a Arábia Saudita, têm capacidade ociosa de 4 a 5 milhões de barris/dia, que podem colocar no mercado rapidamente. E o ministro do petróleo saudita já afirmou que seu país fará isso, se necessário.
Antes, a Opep admitiu que o preço sustentável para produtores e consumidores é de US$ 95. Isso não iria conter o crescimento do PIB mundial, estimado pelo FMI em 4,5% este ano, com base em um barril também de US$ 95.
Não vai dar. Os operadores que alimentam a especulação corriam ontem a afirmar que o petróleo saudita não será suficiente. É do tipo pesado e o da Líbia é leve. Pode faltar no mercado. É meia verdade. Há outras fontes e reservas de leve também. E mais: a Líbia é um produtor marginal, de apenas 1,6 milhão de barris por dia, como bem lembrou o presidente da Petrobrás. Ela não é decisiva na formação dos preços em curto prazo.
Diante do agravamento da crise, a produção caiu em torno de 350 mil barris/dia. Para as companhias, isso já está refletindo nos preços.
AIE decisiva. Os analistas mais independentes afirmavam ontem que, neste cenário a Agência Internacional de Energia pode ter papel decisivo. Ela foi criada para acompanhar a evolução do mercado, sob a ótica dos países consumidores para agir nessas situações. Esta semana, porém, o diretor-executivo da AIE, Nobuo Tanaka, se limitou a afirmar que o petróleo acima de US$ 100 ameaça a recuperação da economia mundial.
Os ministros da Opep, reunidos terça-feira reagiram bem. O representante da Arábia Saudita, Ali a-Naimi, afirmou em entrevista coletiva que "a Opep está pronta para suprir qualquer escassez de petróleo quando isso acontecer". "Há preocupação e medo, mas não há escassez."
Brasil.Essa firme declaração - ele falava em nome de todos os ministros - não foi suficiente para impedir a onda de especulação que dominou o mercado. Quanto ao Brasil, pode esperar até que a onda acabe, porque, como afirmou Gabrielli, pode segurar os preços da gasolina e do diesel. Mas, de novo, permanece a questão? Até quanto e até onde?
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