Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 26, 2011

HÉLIO SCHWARTSMAN Metáforas de crimes influenciam formas de punição

Estudo mostra que associações metafóricas como "besta" e "vírus" mudam a percepção das pessoas sobre uma mesma violência


ARTICULISTA DA FOLHA

Qual a solução para o crime? Pôr mais policiais nas ruas e trancafiar os bandidos ou investir em programas de renda e educação?
Não será surpresa constatar que as respostas das pessoas variam conforme padrões bem conhecidos.
Homens, por exemplo, tendem a ser mais policialescos do que mulheres; pessoas mais à esquerda costumam preferir medidas consideradas preventivas.
Pesquisadores da Universidade Stanford encontraram uma variável mais poderosa que o sexo ou as preferências políticas: as metáforas. A forma como descrevemos a criminalidade faz mais diferença nas respostas do que os demais fatores.
Paul Thibodeau e Lera Boroditsky mostraram num artigo de psicologia publicado esta semana na "PLoS One" que, se o crime é comparado a uma besta selvagem, aumentam as soluções repressivas; se estiver relacionado a um vírus, por exemplo, crescem as preventivas.
A primeira descrição estimula a ideia de caçar e enjaular e, por consequência, adotar leis mais duras. Já a segunda favorece a noção de que as causas reais devem ser buscadas, e a comunidade, inoculada contra o mal.
Por muito tempo, metáforas foram vistas como um floreio linguístico, no máximo um modo engenhoso para explicar conceitos abstratos.
Nos últimos anos, contudo, trabalhos em psicologia e neurociência vinham indicando que nós pensamos através de metáforas.
Autores importantes como George Lakoff chegaram a sustentar que metáforas têm existência física no cérebro.
O que a pesquisa de Thibodeau e Boroditsky mostra de forma empírica é que elas também são capazes de influenciar fortemente a forma como tentamos solucionar problemas complexos.
No experimento principal da dupla, 485 estudantes foram divididos em dois grupos. Cada um deles leu uma de duas versões de um texto sobre o aumento da criminalidade em Addison, uma cidade fictícia. As diferenças eram mínimas.
A primeira variante comparava o crime a uma "besta selvagem". A segunda usava a imagem de um "vírus". Em seguida, vinham dados estatísticos inventados.
Após ler o texto, os pesquisadores perguntaram aos estudantes como o problema poderia ser resolvido. Para 65%, a resposta era na linha do mais policiamento.
Entre os que leram a metáfora da besta, porém, 74% abraçaram a linha repressiva; contra 56% dos que receberam a versão vírus.
Experimentos com outras populações exploraram mais esses achados. Mostraram, por exemplo, que as pessoas não se dão conta do enquadramento metafórico que fazem dos crimes.
A maioria diz que chegou à conclusão que chegou a partir dos dados estatísticos.

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