O Estado de S.Paulo - 17/02/11
O mercado financeiro não acredita que o corte de R$50 bilhões no Orçamento, incluindo as emendas dos parlamentares, possa conter a inflação. Ela pode passar de 6% este ano. É o que afirma a maioria dos analistas. Lançando essa desconfiança prematura, quebram expectativas e dificultam a luta aberta do governo contra a alta dos preços. Por favor, senhores, não ajudem a inflação...
Mas em que se baseiam eles? Preços das commodities, gastos irreversíveis comprometidos pelo governo anterior, aumento da demanda não totalmente atendido pela produção, criação de 2,5 milhões de empregos com mais renda e demanda. É um processo em andamento que aquece a economia. A isso se acrescenta a expansão do PIB em 2010, estimada agora pelo BC em 7,8%, que está impulsionando a demanda. Vai ser difícil conter mais pressões inflacionárias.
Parece que os analistas financeiros estão confundindo previsões sobre os efeitos de curto e médio prazos. Ninguém em Brasília afirmou que o corte anunciado terá resultados imediatos ou nos próximos dois ou três meses. Eles vão reduzir a renda de apenas uma parte das pessoas e demandam um tempo até chegarem ao consumo. Há um caminho a seguir antes que possa desaquecer a demanda e conter a alta dos preços. Os resultados não são imediatos. Erra quem disse que o governo afirmou isso.
Equilíbrio e bom senso. O economista do Ipea Marcelo Abi-Rama Caetano fez uma lúcida análise em artigo de ontem no Valor. Uns elogiam o corte, outros o acham impossível de ser concretizado, e há até os que concordam, mas afirmam que é insuficiente. O lado negativo do debate, diz ele, "foi deslocar a discussão da politica fiscal para sua gestão em curto prazo sem o devido enfoque nas politicas que garantam a solvência fiscal de longo prazo".
O ex-presidente do BC Armínio Fraga concorda que o corte é suficiente para colocar as contas públicas em rota de equilíbrio. E a coluna pergunta: por que, então, duvidar por antecipação? Por que negar o crédito a uma equipe econômica que foi mantida e está acertando? Para Fraga, a economia deu sinais de desaceleração, mas ainda é cedo para saber se caminha para o equilíbrio. "O governo está no caminho certo ao prestar também mais atenção ao crédito, que vem se expandindo muito", diz ele.
Juros inócuos. Outra crítica dos economistas é que o aumento dos juros também não vai conter as pressões inflacionárias. É curioso que se fale tanto nisso. Ninguém, mas ninguém mesmo, nem o BC, afirmou que só aumento dos juros sem ajustes fiscais é a solução.
Faltava o que está vindo: redução dos gastos e dispêndios (são coisas diferentes, senhores!) do governo, corte das emendas dos parlamentares. Tudo isso sem cortar excessivamente o poder aquisitivo das famílias, sem o qual não há crescimento, pois não podemos contar com o mercado externo.
O que pesa mesmo. Em seu artigo no Valor de ontem, Marcelo Caetano aponta um desafio que, não se sabe por quê, deixou de ser mencionado pelos analistas neste debate: a necessidade de reformar o sistema previdenciário. "Em 2010, o INSS apresentou um déficit de R$ 42,9 bilhões para atender a 24,4 ,milhões de aposentados, mas a previdência dos civis e militares da União teve déficit de R$ 51,2 bilhões (!) para pagar aumentos a (apenas) 1 milhão (!) de aposentados e pensionistas." É isso que pesa nas contas públicas.
Não ajudem a inflação! Pode continuar subindo, sim, mas aumentaria muito mais sem se não tivesse havido a firme decisão de combatê-la. Vejam por exemplo, a verdadeira luta campal no reajuste do salario mínimo. O que querem mais para consolidar a credibilidade?
É prejudicial e prematuro apregoar que o corte no Orçamento é inviável, é pouco e não funciona. Fazer isso é ajudar o inimigo mais imediato que todos querem combater.
Entrevista:O Estado inteligente
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