Movimentação para criar partido para o prefeito de São Paulo revela mudanças e confirma vícios da política
A CRIAÇÃO do partido de Gilberto Kassab, ora no DEM, é um caso mais interessante do que parece à primeira vista: um mero truque para burlar a lei que pune a troca de partido com a perda do mandato. O bonde do Kassab é mais do que uma metáfora engraçada.
Em primeiro lugar, o PDB de Kassab, o Partido da Democracia Brasileira, baldearia políticos nominalmente oposicionistas para o trem do governo ou vagões anexos. Trata-se de uma adaptação evolutiva à norma de 2007 que pretendia coibir o troca-troca partidário. Antes, o travestismo político era explícito.
Quando foi eleito em 2002, Lula contava com coalizão de 228 deputados federais. Um ano depois, às vésperas do fim do prazo de troca-troca para quem queria disputar a eleição de 2004, a coalizão inchara para 389 deputados, graças ainda à adesão de PMDB e PP.
Cerca de 25% dos deputados trocariam de partido, o grosso com o objetivo de aderir ao governo. Os futuros coadjuvantes do mensalão petista, PTB e PL, dobrariam de tamanho -o PT terceirizara o inchaço do governismo por meio de partidos de aluguel e de outros negócios. O PSDB perderia 14 deputados; o PFL, hoje DEM, perderia 20.
A norma de 2007 pretendia dar cabo dessa quizumba. Atenuou a mixórdia, decerto, mas a lei não dá conta das forças sociais e políticas que provocam tais mudanças.
Em segundo lugar, esse PDB, aliado do PSB de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, seria um veículo para novas lideranças políticas. Os "novos" não querem saber do DEM, pois o partido do velho reacionarismo definha. Mas por que não se juntam ao PSDB ou ao PMDB? Por que precisam de partidos "bi", "flex", meio governo hoje, talvez meio oposição amanhã? As perguntas não são triviais.
Sim, há mudança porque falta cadeira para tanto cacique, porque Kassab quer ser governador batendo-se com o PSDB, porque Campos quer juntar forças para ser vice do presidente do petismo em 2014 etc. Por isso a dispersão de "lideranças" por vários partidos. Mas não só por isso. Também porque a oposição, quase apenas o PSDB, não consegue organizar suas disputas internas, aglutinar lideranças e vem sendo derrotada em termos eleitorais e ideológicos. A oposição ora parece sem futuro nestes tempos de triunfo petista-desenvolvimentista e do Estado de Bem-Estar Tropical.
Por que os "novos" não querem o PMDB, ainda que o bonde do PDB possa baldear alguns passageiros para esse partido? O PMDB tem o inconveniente de estar com o nome cada vez mais sujo na praça. Mas não só. Observe-se que, apesar de ser o maior partido do país durante quase todo o último quarto de século, o PMDB não cria lideranças nacionais sérias ou candidatos presidenciais viáveis. Seus líderes, neocaciques da redemocratização de 1985, são na verdade quase todos candidatos a réu e a cassações.
Em terceiro lugar, o sucesso da criação do PDB deve misturar ainda mais as tintas dos já cinzentos partidos brasileiros. O socialista PSB (rir, rir) será tingido pelo pefelismo-demismo do PDB, agrupamento que será braço direito do petismo ou de uma força que talvez venha a bater o PT em 2014. O PDB-PSB, enfim, é um candidato a PMDB mirim, um veículo novo e por ora mais limpinho de agenciamento fisiológico.
vinit@uol.com.br
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