O Estado de S. Paulo - 23/02/2011
A inflação vai ficando mais virulenta e, pior do que isso, a cabeça dos marcadores de preços está cada vez mais turbinada com a alta que vem pela frente. Ou seja, não é apenas a inflação que está ficando mais séria; é, também, a expectativa do mercado que vai se deteriorando, tornando ainda mais difícil o seu combate.
O IPCA-15 é apenas uma antecipação do que pode vir a ser a inflação do mês, mas apontou um avanço muito forte, de 0,97%, o maior desde 2003. Esse IPCA-15 é o mesmo IPCA, com uma diferença: mede a evolução dos preços também em 30 dias, só que captados no período que vai do dia 15 de um mês ao dia 15 do mês seguinte.
O IPCA-15 de fevereiro, ontem divulgado pelo IBGE, mostrou que, em 12 meses, a inflação já é de 6,08%. E a Pesquisa Focus, do Banco Central, apontou segunda-feira que as projeções do mercado para a inflação deste ano, medida pelo IPCA, já estão em 5,79%. Mas os analistas começam a apostar em números mais próximos dos 7%. Se passar dos 6,5%, a meta estará estourada, já contada a área admissível de escape, de 2 pontos porcentuais.
O fato positivo é o de que o impacto dos alimentos no custo de vida já é mais baixo do que há algumas semanas. Foi de 1,21% e agora caiu à metade, para 0,57%. Em compensação, o governo e outros organismos encarregados da política anti-inflação têm de lidar com novos fatores adversos.
O primeiro deles é a estocada dos preços do petróleo. Aí há dois condicionantes trabalhando na mesma direção. O primeiro deles é a alta que já vinha vindo e que tem a mesma qualidade da esticada das commodities agrícolas. Reflete aumento do consumo. Esse condicionante vai continuar atuando, embora mais devagar. O outro tem a ver com a crise no mundo islâmico, o chamado efeito dominó que vai arrastando um a um os governantes da região. Alguns desses países, como Líbia e Irã, são grandes fornecedores de petróleo. Uma paralisação prolongada da produção por lá pode derrubar a oferta e pressionar os preços. E, assim, mais cedo ou mais tarde, a Petrobrás, que já vai sangrando em seu caixa, poderá vir a ser obrigada a reajustar os preços dos derivados.
O segundo fator que trabalha contra o governo é o câmbio (âncora cambial). Quanto mais baixa for a cotação do dólar, mais fácil será segurar a inflação porque ajuda a baratear em reais os preços dos produtos importados. Com algumas interrupções de percurso, desde 2004, o câmbio vem derrubando a cotação do dólar em reais. Daqui para frente não se pode contar mais com esse efeito - até porque a decisão de política econômica é evitar maior valorização do real.
O outro fator que agora está trabalhando contra é a inflação externa. A crise derrubou o consumo e os preços. Até há alguns meses, o grande temor dos países industrializados era a deflação. A nova situação é o oposto disso. A alta dos alimentos, a escalada do petróleo e a reativação do consumo tendem a acelerar a inflação global e a obrigar os bancos centrais a voltar a puxar pelos juros.
A força da inflação aqui no Brasil exige ação do governo, sob pena de perder o controle. É a situação que aumenta a importância do corte de despesas públicas e, ao mesmo tempo, exige ainda mais aperto dos juros.
CONFIRA
É o câmbio real
Em debate no Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo, Delfim Netto analisou o projeto de desoneração da folha salarial como um efeito sobre o câmbio real: aumento da competitividade do setor produtivo. "Câmbio real é salário dividido pelo câmbio. Quando a folha de pagamentos for desonerada melhorará o câmbio real para o produtor brasileiro."
Sumiço dos créditos
O ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel advertiu para dificuldades até agora pouco apontadas que aparecerão quando (e se) for instituído o critério de arrecadação de ICMS pelo destino. "Não vai ter como apropriar créditos de ICMS", avisou ele. (Imposto cobrado no destino caberá ao Estado onde a mercadoria for consumida e não onde é produzida.)
Tecnocracia
Delfim está gostando deste início de governo. "Dilma é uma tecnocrata com boa sensibilidade social. Tem tudo para dar certo."
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
fevereiro
(234)
- Roberto Abdenur-Novas realidades em questão
- Arábia Saudita Luiz Felipe Lampreia
- Moacir Scliar: Legado imortal Larissa Roso
- Paulo Brossard E ainda se duvida de milagre
- FERNANDO DE BARROS E SILVA Casa do Sader
- CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA
- LYA LUFT Como seremos amanhã?
- BETTY MILAN O desafio da fidelidade
- J. R. GUZZO Dois Países
- ENTRADA PROIBIDA - VEJA
- Abram Szajman Tira o olho, ministro
- Carlos Alberto Sardenberg O que são quatro anos se...
- Denis Lerrer Rosenfiel Luz própria
- Cavalo de Troia - Jorge Darze
- NORMAN GALL Tecnologia e logística em águas profundas
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Entrevista de Sua Excelência
- FERREIRA GULLAR - O povo desorganizado
- DANUZA LEÃO - Tropa de elite
- VINICIUS TORRES FREIRE - Nos trilhos do bonde do K...
- Merval Pereira O novo Iuperj
- Dora Kramer Informar é preciso
- Sergio Fausto Escolhas fundamentais
- Alberto Dines No levante tudo é possível
- Suely Caldas Os pobres e os ricos do Nordeste
- CELSO MING - Troca tributária
- GAUDÊNCIO TORQUATO - Distritinho e distritão
- Cacá Diegues - Uma revolução pós-industrial
- ENTREVISTA - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- HÉLIO SCHWARTSMAN Metáforas de crimes influenciam ...
- CESAR MAIA - Poderes e democracia
- FERNANDO RODRIGUES - A banda estreita de Dilma
- FERNANDO DE BARROS E SILVA - Demagogia (des)contin...
- Merval Pereira A busca do acordo
- Marco Aurélio Nogueira A Itália de Berlusconi entr...
- Os outonos - Míriam Leitão
- Itamar Franco:'Violou-se a Constituição e o Senado...
- Roberto Freire A reforma e Jabuticaba
- JOÃO MELLÃO NETO O ocaso das certezas
- LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS O medo está de volta
- VINICIUS TORRES FREIRE O governo está incomodado
- MERVAL PEREIRA Tema popular
- Dora Kramer -Insuficiência de tutano
- Celso Ming -Carregamento caro
- Nelson Motta Os eleitos dos eleitos
- VINICIUS TORRES FREIRE Petróleo em revolta e o Brasil
- Míriam Leitão No rastro da crise
- Merval Pereira Roteiro amplo
- Alberto Tamer Petróleo: dá para absorver alta
- Dora Kramer Falso parâmetro
- Celso Ming Cresce o rombo externo
- Eugênio Bucci Meu corpo, meu oponente
- Carlos Alberto Sardenberg Assalto "por dentro"
- Paulo R. Haddad A Fiat vai ao Nordeste
- MÍRIAM LEITÃO Nada é impensável
- MERVAL PEREIRA O difícil equilíbrio
- VINICIUS TORRES FREIRE Mais ruídos na economia de ...
- ROBERTO DaMATTA A morte e a morte anunciada de um ...
- FERNANDO RODRIGUES Gaddafi, Lula e o Brasil
- ANTONIO DELFIM NETTO Mandelbrot
- Dora Kramer Para o que der e vier
- Celso Ming A inflação assusta
- Sergio Telles Tunísia, modernidade islâmica
- Helder Queiroz Pinto Jr.O que esperar dos preços i...
- Jorge Darze Não faltam médico
- Claudio Sales Itaipu: conta extra de R$ 5 bi para...
- Eduardo Graeff Contra o voto em lista
- ANTONIO DELFIM NETTO O fundamento fiscal
- MÍRIAM LEITÃO Crise da Líbia
- REGINA ALVAREZ Petrobras na mira do MP
- MERVAL PEREIRA Jabuticaba mista
- Dora Kramer Mudar para conservar
- Celso Ming Até a próxima crise
- Se todos são keynesianos, o que Keynes diria a Dilma?
- Rodrigo Constantino Onde estão as reformas?
- Rubens Barbosa Defesa e política externa
- FHC:‘O PODER REVELA MUITO MAIS DO QUE CRIA OU DEFO...
- José Serra ‘O falso rigor esconde falta de rigor’
- Luiz Werneck ViannaMares nunca dantes navegados
- AMIR KHAIR Soluções milagrosas
- MARIA INÊS DOLCI A herança maldita da inflação
- FABIO GIAMBIAGI Pré-sal na terra de Macunaíma
- CARLOS ALBERTO DI FRANCO A ameaça das drogas sinté...
- JOSÉ GOLDEMBERG O Protocolo Adicional
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Estupidez constitucional
- MARCELO DE PAIVA ABREU Fadiga política no Brasil e...
- ANNA RAMALHO Um palacete para o ex-operário é muit...
- PAULO GUEDES Vitória... de Pirro?
- Mario Vargas LLosa História feita pelo povo
- ''Números oficiais não refletem realidade das cont...
- CELSO LAFER Sobre o Holocausto
- CELSO MING Descomplicar a reciclagem
- ALBERTO TAMER Há mais petróleo, mas não se sabe qu...
- SUELY CALDAS O modelo BC nas agências
- MERVAL PEREIRA Que tipo de voto?
- JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS O crescimento é um...
- REGINA ALVAREZ Terceirização de risco na Petrobras
- VINICIUS TORRES FREIRE Sai por uma porta, entra p...
- CLÓVIS ROSSI Mais uma lenda ameaçada
- MÍRIAM LEITÃO Trem para o passado
- DORA KRAMER Casa grande e senzala
-
▼
fevereiro
(234)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA