FOLHA DE SÃO PAULO - 15/02/11
A "nova classe média brasileira" é uma das expressões mais repetidas por aí. Está em jornais, revistas e TVs, foi incorporada à fala rotineira do país. A campanha de Dilma a tratou com triunfalismo. Mas quem são -ou, antes, o que é exatamente essa nova classe?
Estamos falando de cerca de 95 milhões de pessoas, pouco mais de 50% da população, com renda familiar mensal que varia, grosso modo, entre R$ 1.500 e R$ 5.000. Em torno de 30 milhões de pessoas ascenderam a essa condição nos anos Lula. Sim, isso é ótimo, mas é um erro pensar que essas pessoas pertencem à "nova classe média".
Quem diz é o sociólogo Jessé Souza, que as chama de "batalhadoras". Em entrevista à Folha, no domingo, ele lembrou que a noção de classe social não pode se restringir à distribuição estatística da renda. E, disse, com muita razão, que em sociedades desiguais, como a brasileira, a classe média "é uma das classes dominantes porque é constituída pelo acesso privilegiado a um recurso escasso de extrema importância: o capital cultural".
Pense na sua formação, na remuneração e prestígio social a ela relacionados; pense na sua rede de relações pessoais e no colchão social que ela representa; pense no tempo que você teve para estudar (e viajar e vadiar) antes de começar a trabalhar; pense, ainda, na escola particular e no plano privado de saúde.
Os "batalhadores", diz Jessé, na sua esmagadora maioria estudam em escolas públicas de baixa qualidade e trabalham desde cedo, fazendo dupla jornada. A universidade como meta entrou há poucos anos no horizonte dessas pessoas. Se contraem uma doença mais séria, em geral são reféns do SUS.
Sem ignorar a precariedade dos serviços públicos, a rotina extremamente sacrificada e a superexploração do trabalho dessas pessoas que já não são "pobres", essa análise compõe um quadro menos idílico dos avanços e da coesão social do país. Falta muito chão para isso virar uma "middle-class society".
Entrevista:O Estado inteligente
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